Sistema financeiro brasileiro está passando por uma grande revolução que deve ser concluída até dezembro e possibilitar a entrada de novos players no mercado
Em 2021, estar presente nos meios digitais deixou de ser um diferencial para se tornar uma necessidade a qualquer negócio. No setor financeiro isso não foi diferente. O ano está sendo marcado pela implantação do Open Banking Brasil, ou sistema financeiro aberto (SFA), que promete ser um divisor de águas no setor. No Brasil, o processo está sendo conduzido pelo Banco Central.
O principal conceito do open banking consiste na transferência de poder da instituição financeira para o cliente sobre o compartilhamento dos seus dados bancários. Segundo Chen Wei Chi, sócio de transformação de negócios e inovação para serviços financeiros da EY, que palestrou no Congresso ANEFAC Digital 2021, ele dá o poder ao consumidor sobre os seus dados. Na prática vai funcionar da seguinte forma: quando um consumidor precisa de crédito, atualmente, a empresa solicita uma série de documentos para fazer análise sobre o perfil dele e assim verificar se terá ou não crédito. Esse processo todo pode levar até cinco dias ou mais. Com o open banking, esse consumidor disponibilizará o seu consentimento para que a empresa acesse os seus dados diretamente da sua instituição financeira. Esse processo poderá levar menos de um dia.
“Com o open banking, o consumidor é o dono dos seus dados, que têm valor no mercado. Ele poderá transferir as suas informações de uma instituição financeira para outra que seja autorizada a operar nesse mercado de forma muito rápida, além de outras inúmeras possibilidades que estão surgindo. O histórico financeiro tem valor enorme e poderá render muitos benefícios. Essa mudança tem ainda potencial para aprimorar bastante a relação do banco com seus clientes, já que não haverá necessidade imperativa de troca de instituição bancária para se obter um benefício em particular”, explica Wei Chi.
No Reino Unido, mais de 2,5 milhões de pessoas aceitaram utilizar o sistema financeiro aberto. E, isso traz para o Brasil, na percepção do Banco Central um mundo de possibilidades. Só para se ter ideia, o open banking vai permitir, por exemplo, que, ao realizar uma compra por um aplicativo tipo iFood, a pessoa pague o valor final por meio de APIs do open banking, transferindo o dinheiro da conta do consumidor para a conta do restaurante, sem a necessidade de um cartão de crédito.
Além do benefício direto ao consumidor, outra grande expectativa com o open banking é a possibilidade de entrada de novos players menores no mercado (principalmente fintechs). Na visão do especialista da EY, os dados dos usuários estão com os grandes operadores, que são os grandes bancos, com o open banking haverá um número enorme de receptores, como as fintechs, que poderão solicitar esses dados e utilizá-los por tempo determinado. Há espaço para a criação de produtos nunca antes visto e grande ampliação financeira, bem como oportunidades de negócios.
Todavia, o BC acredita que o consumidor de produtos e serviços financeiros somente terá confiança de compartilhar seus dados com uma empresa se o ambiente for seguro. Para Wei Chi, entre os principais pontos está a questão da segurança dos dados, como ele é a principal informação de troca, esses novos players precisam passar por processos rígidos de implantação de processos, auditorias, entre outros, mas, principalmente, estar totalmente adequados a regulamentação.
Quando se fala em open banking parece que é a mesma coisa em todo o mundo, mas ele muda muito de uma região para outra, principalmente de como o mercado se comporta, quem é o agente catalizador e como as informações são compartilhadas. Em alguns países existe o mercado como agente, ou seja, o mercado determina a padronização, em outros o mercado é o formulador, que é o mercado totalmente aberto, depois o regulador estabelece como deve ocorrer, entre outros modelos. No Brasil, o regulador determina que tenha o open banking, mas ele deixa para a convenção que é representada por várias associações, determinar o que será trocado de dados.
“Temos três grandes fatores que determinam o sucesso do open banking, primeiro o consumidor precisa adotar, ele precisa ter percepção de valor e entender se será seguro. Do lado das instituições precisa ter ofertas legais, não adianta apenas ter a opção de compartilhar dados, precisa ter um ecossistema integrado, pois será muito amplo. E por fim, uma regulação bem clara que incentive a inovação e criação. Vejo que no Brasil as fintechs vindo e o BC ajudando e o nosso consumidor precisando, temos todos os ingredientes para ter sucesso”, diz Wei Chi.
Além disso, não podemos esquecer de um novo conceito que está vindo, o Open Finance, que é como ampliar isso para outros setores além do banking. Um exemplo na Australia, mostra que através de ferramentas, o usuário consegue analisar se o que ele paga de conta de celular é o melhor e através disso, trocar de operadora.
Em que fase estamos da abertura do mercado financeiro?
A primeira fase de implantação do open banking começou em fevereiro, onde os grandes bancos são obrigados a adequar as suas tecnologias para disponibilizar as informações padronizadas sobre canais de atendimento, contas de depósito à vista e operações de crédito, entre outros produtos e serviços. De acordo com o cronograma do Banco Central, na segunda fase, programada para 15 de julho, haverá a possibilidade de os consumidores optarem pelo compartilhamento dessas informações entre as instituições.
A terceira fase está prevista para iniciar em 30 de agosto, e levará para um outro nível as possibilidades de troca de informações bancárias. De acordo com o BC, aqui passará a ser possível a execução de transações de pagamento e de encaminhamento de proposta de crédito. Já a quarta fase, que terá início em 15 de dezembro, abrirá aos consumidores ferramentas para que compartilhem informações de operações de câmbio, investimentos, seguros, previdência complementar aberta e contas-salário. “Se o Banco Central cumprir com esse cronograma, até o final do ano, poderemos ter muitas novidades já implantadas e funcionando. A quarta fase caminhará para o open invest, por exemplo, tornando o Brasil pioneiro no mundo”, finaliza Chen Wei Chi.