Em sua primeira entrevista à Revista ANEFAC, presidente nacional fala do desafio da retomada do crescimento nacional e do papel da ANEFAC em fomentar discussões na busca de soluções viáveis, promovendo a interação dos profissionais, das empresas e das universidades, além das ações da sua diretoria para os próximos dois anos
A incerteza advinda da pandemia global do coronavírus (Covid-19) torna, a cada dia que passa, o ambiente atual mais e mais desafiador para toda a sociedade. Há três meses à frente da presidência nacional da ANEFAC, Marta Pelucio, acredita que a retomada do crescimento nacional tem que ser efetuada de forma transparente, consciente, planejada e organizada.
“Dado o cenário brasileiro de incertezas, podemos até desenhar alguns cenários possíveis, mas são muitas variáveis a serem consideradas nessa construção. Para fazer qualquer previsão, resta saber o quão dispostos estarão nossos parlamentares em ouvir as empresas e os diferentes setores da sociedade e trazer para a pauta do congresso discussões que viabilizem o crescimento do Brasil”, diz.
No bate-papo a seguir, Pelucio fala de seus primeiros desafios de gestão e comenta os planos futuros de desenvolvimento para a ANEFAC. Leia a entrevista na íntegra:
Revista ANEFAC: Como é assumir a presidência da ANEFAC em um momento tão desafiador? E, ainda com a responsabilidade de ser a primeira mulher nesse posto?
Marta Pelucio: Realmente é grande desafio. O grau de incerteza no mercado ainda está no ar. A ANEFAC continua reagindo velozmente e tomando decisões de curto e longo prazo à medida que o cenário se desenha. Além disso, tenho ciência da responsabilidade que é ser líder nessa associação que vem cumprindo sua missão há 52 anos com sucesso. Muitos líderes passaram por aqui e cada um contribuiu e deixou a sua marca para tornar a ANEFAC o que é hoje.
Eu faço parte dessa história, estou na entidade há muitos anos e toda essa bagagem, mais a minha experiência como executiva e professora vão agregar às decisões que precisarão ser tomadas. Agora, tudo isso somado ao fato de ser a primeira mulher nesse papel torna essa gestão ainda mais desafiadora. Estou muito feliz por ter sido escolhida para construir mais esse capítulo da história da entidade. Vou, junto com todos os membros da diretoria executiva, cumprir essa missão com dedicação, ética e responsabilidade.
RA: Quais são as principais ações que estão programadas para a ANEFAC em 2021 e 2022?
MP: Como organização, a ANEFAC possui o seu planejamento estratégico recorrente e esse será o nosso fio condutor. A meta é potencializar as ações que já estão estabelecidas, pois o nosso trabalho é sempre contínuo. Vamos centrar os planos da diretoria, para os próximos dois anos, na viabilização de dois importantes projetos que já estavam em curso:
1 – Requalificação profissional: que tem cunho social de capacitação de profissionais nas áreas de conhecimento da ANEFAC para sua requalificação; e
2 – Lançar o nosso Certificado Controller, que irá valorizar os nossos associados.
Além disso, estamos intensificando nossas ações nas diversas regiões do Brasil, bem como nossa atuação internacional, em finanças, administração, contabilidade, capital humano, tecnologia, governança corporativa e tributos. E, por fim, buscaremos o desenvolvimento de mais ações que atendam às necessidades de empresas de diferentes setores e portes, isso, com a realização de atividades setoriais e, ainda, por meio do fortalecimento da nossa vice-presidência de pequenas e médias empresas.
RA: De que forma a ANEFAC vai contribuir com as empresas?
MP: As empresas são formadas por pessoas. A ANEFAC possui um grande diferencial no mercado que é a sua ampla área de atuação, pois é uma entidade voltada aos executivos. Ao trabalhar a capacitação e a requalificação profissional, bem como a implantação de certificações, a entidade promove o crescimento das empresas. É claro que a construção de um ambiente empresarial mais moderno, inovador e competitivo é um trabalho de todos, e a ANEFAC buscará contribuir para isso de forma efetiva por meio de parcerias produtivas que sejam propulsoras de grandes projetos.
Desde a sua fundação, a ANEFAC faz um trabalho transparente e ético. Isso trouxe uma grande reputação no mercado junto as empresas, conselhos e associações. A nossa interação com o mercado empresarial sempre aconteceu de forma fluida. Para atingir mais e mais empresas e auxiliá-las nesse momento, vamos focar em ações cross e multidisciplinares regadas a muito conteúdo que possam contribuir com toda a empresa desde a sua gestão a sua operação.
RA: E, agora com relação aos executivos?
MP: Os executivos são a base da ANEFAC, a sua razão de existir. Todas as nossas ações são focadas neles. Está no nosso DNA. A nossa principal missão nesse sentido está relacionada com o importante papel do networking em toda a troca de conhecimento. Os executivos que se associam à ANEFAC têm a oportunidade de compartilhar suas experiências, obter novos conhecimentos e participar dos nossos comitês e diretorias. A entidade fomenta a dinâmica entre as diversas áreas, contribuindo para o crescimento profissional dos seus associados.
É imprescindível lembrar que o desenvolvimento humano é um fator importantíssimo para o crescimento profissional. A ANEFAC reúne executivos que compartilham experiências de vida, além de conteúdos profissionais, desenvolvendo e fortalecendo amizades e buscando caminhos para um desenvolvimento econômico sustentável, respeitando as pessoas e o ambiente. Nossos executivos compartilham valores.
RA: Quais são os desafios já mapeados e como encará-los?
MP: O nosso grande desafio é manter os nossos associados atuantes e envolvidos com a entidade apesar da distância física. Já iniciamos uma série de atividades virtuais na gestão passada, que manteremos, mas vamos criar formas de comunicação que intensifiquem a interação entre os associados, por meio de área exclusiva em nosso site e fortalecendo os encontros virtuais planejados exclusivos a eles, por meio de grupos de estudos e comitês de discussões.
Outro ponto, é que já mapeamos os esforços necessários para o desenvolvimento de nossos novos projetos de certificação e requalificação profissional, que demandará atuação de nossa diretoria com muita dedicação. Esperamos colher bons frutos, gerando resultados econômicos e sociais aos nossos associados e às empresas.
RA: Envolvendo ampliação, haverá alguma particularidade por parte da gestão?
MP: Vivemos uma realidade de integração mundial, no qual tudo o que acontece no âmbito internacional tem repercussão quase que imediata no âmbito nacional. A ANEFAC visa acompanhar e participar ativamente desse movimento. A grande vantagem que isso traz aos nossos associados é ter a sua disposição conteúdo de qualidade e atualizado sobre o que está em alta internacionalmente.
Além disso, damos a oportunidade aos nossos associados de gerarem conteúdos que são de interesse internacional por meio dos nossos grupos de discussões. Essa disponibilização de conteúdo, gerado internamente ou que buscamos no mercado internacional para levar aos associados, são viabilizados por meio de eventos, publicações, redes sociais e pela mídia impressa e digital.
RA: Como a ANEFAC pode contribuir para a melhora do cenário econômico brasileiro?
MP: A ANEFAC sempre contribuiu para o desenvolvimento brasileiro por meio de sua principal bandeira que é a transparência. Incentivamos a transparência tanto no setor privado quanto no público. Transparência gera valor para as empresas, para as pessoas, para o governo e para o país como um todo. A retomada do crescimento nacional tem que ser efetuada de forma transparente, consciente, planejada e organizada. A ANEFAC irá cumprir o seu papel, como sempre cumpriu, que é o de fomentar discussões na busca de soluções viáveis, promovendo a interação dos profissionais, das empresas e das universidades.
Devemos organizar ações que possibilitem um melhor conhecimento dos efeitos das decisões políticas nos diversos cenários possíveis. A retomada do crescimento nacional de forma justa e organizada tem que ser coordenada e amplamente discutida, por isso, a participação da sociedade, por meio de entidades, é tão fundamental. Precisamos discutir, analisar e ponderar os riscos e os benefícios advindos dessas políticas. Cabe a nós, como entidade responsável e que busca transparência, discutir as políticas, analisar junto às empresas, às universidades e aos profissionais e apontar os riscos e benefícios resultantes.
RA: Em termos econômicos, políticos e de saúde, como você avalia a situação do Brasil para 2021?
MP: O mundo todo tem sofrido com os efeitos da pandemia. Em termos de saúde, pouco se pode prever sobre o controle da pandemia com o surgimento das mutações do vírus. No Brasil, não temos um plano definido de controle da pandemia que nos dê segurança sobre qualquer previsão no curto ou médio prazo, inclusive em termos políticos e econômicos. A situação brasileira é de incerteza e de falta de conhecimento para uma boa previsibilidade. Mas, vale lembrar que o problema brasileiro não surgiu em 2020 e com a pandemia.
O descaso político com a reforma tributária e talvez até falta de coragem em fazer uma reforma tributária estrutural tem mantido o desinteresse de investimentos no Brasil. Tributos que encarecem demais a mão de obra e fomentam o desemprego. Desequilíbrio tributário entre setores. Complexidade tributária que torna a função do responsável pela área fiscal da empresa equivalente à de um alquimista. Baixo investimento governamental em obras estruturais, tornando o Brasil um país de difícil acesso e de custo alto de logística. São muitas incertezas e pouco ou talvez nenhum planejamento.
RA: Em sua opinião, quais são as principais perspectivas para o país em 2021?
MP: Dado o cenário brasileiro de incertezas, podemos até desenhar alguns cenários possíveis, mas são muitas variáveis a serem consideradas nessa construção. O Brasil já demonstrou que não tem vontade e nem força de tomar medidas drásticas para contenção da pandemia. Dessa forma, acredito que, mesmo às custas de muitas vidas, alguma retomada econômica até deverá ocorrer, como já se pode observar ainda em 2020, até acima do esperado. O que não significa muita coisa, porque tanto a área de saúde quanto a econômica tem movimentos cíclicos. Essa pandemia não vai durar a vida toda, é cíclica, em algum momento voltaremos ao equilíbrio, o que faz diferença são quantas vidas foram poupadas nos momentos críticos.
Na economia também, o Brasil passou por uma forte crise, e já havia iniciado uma retomada natural após uma grande depressão, o que faz diferença é o quão equilibrada e socialmente justa acontece essa retomada e quantas empresas são poupadas. Para fazer qualquer previsão, resta saber quão dispostos estarão nossos parlamentares em ouvir as empresas e os diferentes setores da sociedade e trazer para a pauta do congresso discussões que viabilizem o crescimento do Brasil. Resta saber o quão disposto estará nosso executivo e seus ministros em desenvolver políticas públicas que sejam eficientes, mesmo que não populistas. 2021 será um pouco melhor que 2020, o que não significa muita coisa, o que faz diferença é que poderia ser ainda melhor.