O Brasil ainda vive os reflexos da crise econômica. O primeiro semestre de 2019 foi marcado por incertezas e demora do governo em aprovar as medidas necessárias para a retomada do crescimento. Embora venha sinalizando uma recuperação após os resultados negativos de 2015 e 2016 – em que o Produto Interno Bruto do País (PIB) registrou queda de -3,8% e -3,6%, respectivamente, a economia brasileira ainda depende de uma série de variáveis. Na visão de Luís Artur Nogueira, jornalista e economista, o primeiro semestre foi ruim, a economia ficou parada, mas estamos caminhando para um semestre de recuperação. “Aos poucos o Brasil vai voltar a crescer”, acredita.
Para ele, é importante destacar a melhora do clima econômico, a reforma da previdência, que se espera ser aprovada pelo Senado junto com uma PEC paralela que irá contemplar estados e municípios, e depois a reforma tributária, que será um grande passo. “A aprovação dessa reforma vai depender do tamanho da ambição. O governo precisa definir qual projeto deverá ser apresentado e unir forças com o Congresso, mas quanto maior for, maior será a demora. Um projeto menor seria mais rápido, os empresários precisam que o sistema tributário seja simplificado, mas se envolver estados e municípios haverá a necessidade de negociação”, explica.
A recuperação do país não pode depender apenas destas duas reformas, e isso, de acordo com Nogueira, o governo já entendeu. “Existem pautas paralelas no Ministério da Economia, medidas importantes como as privatizações, os leilões, a liberação do FGTS e a redução da Selic. Essa dobradinha foi muito positiva, pois o primeiro injeta dinheiro na economia e a Selic baixa significa acesso fácil ao crédito. Com essa medida, o Banco Central estimula a economia, mas precisa que o juro caia na ponta para melhorar a concorrência no setor e estimular os bancos estrangeiros e o crescimento das cooperativas de crédito”, analisa.
Com todo esse pacote, há melhora no ambiente, a roda da economia gira, há o aumento da renda e do consumo. “Mas o presidente Bolsonaro é uma fábrica de crises políticas, as declarações dele tiram o foco do que realmente é importante para o país. Quando ele cria uma briga com alguém, provoca um desgaste imenso. É um governo que gera riscos. Isso não pode afetar o crescimento do PIB, não podemos ter um “pibinho” de 1% em 2020, precisamos de pelo menos 2%”, avalia Nogueira.
Percepção só será sentida em 2020
Alguns economistas projetam um PIB para 2020 de mais de 2%, melhor que o de 2019, que deve crescer pouco mais de 1%. “Só iremos perceber os impactos das ações no próximo ano, no primeiro semestre, pois irá melhorar aos poucos. Só para se ter ideia, a indústria, uma das que mais sofreu com a recessão, está ociosa, com estoques elevados, com a injeção na economia nesses próximos meses acontecerá a volta do consumo e das vendas e em consequência das produções. Com isso, num segundo momento, o empresário voltará a investir”, observa o jornalista.
Riscos que vem de fora
Quanto ao cenário externo, o economista entende que existem riscos que podem interferir na melhora da economia brasileira:
1 – Argentina: existe uma possibilidade de a oposição voltar ao poder e ela é simbolismo de uma agenda econômica que empurrou o país para baixo, e se isso acontecer, para o Brasil é muito ruim, pois somos parceiros comerciais, de cada dez carros produzidos aqui oito vão para lá.
2 – China X EUA: a guerra de tarifas e manipulação de moeda entre os dois está se acirrando. Ambos são importantes na economia global, se eles crescerem menos afetaria os demais países do mundo inteiro e o Brasil, que é um exportador. No momento que o país está se recuperando, se vier essa crise internacional, haverá impactos grandes.
3 – Brexit: é um risco para a união europeia e todo a economia local. A finalização de processo de saída do Reino Unido, que sempre pode gerar problemas na economia global.
4 – Hong Kong: a série de manifestações pode criar ruído na China, que tem um crescimento previsto de 6%, se o país crescer menos pode representar riscos na economia global.