Qual será o futuro das demonstrações financeiras? Esta questão tem tomado espaço nas discussões das empresas e nas formas que estas apresentam seus relatórios anuais. De antemão podemos dizer que a tecnologia veio para revolucionar todos os segmentos, Goldwasser Pereira Neto, partner & founder da Accountfy, acredita que a Inteligência Artificial será uma grande aliada das empresas e dos executivos na elaboração das demonstrações financeiras no futuro.
No entanto, o executivo ainda vê que existe espaço para avanços tecnológicos mais simples na elaboração e automação das demonstrações financeiras. Por exemplo: é muito comum que despesas recorrentes, como conta de energia, não sejam lançadas no resultado em função do atraso do pagamento dentro do mês. Neste caso, deveria ser feito uma provisão no resultado para considerar a despesa pelo critério da competência. “Para evitar esse tipo de falha bastaria criarmos alertas e informar ao sistema gerencial de apuração determinados parâmetros e a própria programação do software conseguiria identificar um desvio no padrão de comportamento esperado dessa despesa e informar que não houve, naquele mês, a despesa esperada. Repare que neste exemplo não existe a necessidade de utilização da AI, mas sim uma programação simples com parâmetros definidos pelo próprio usuário. Na minha visão, confunde-se parametrizações simples com Inteligência Artificial”, detalha.
A automação das demonstrações financeiras impacta de maneira significativa na capacidade de visualização correta da performance financeira de uma empresa. De acordo com Pereira, um dos principais fatores que a automação contribui é na redução da dependência das pessoas em um processo que pode ser automático. Com planilhas cada vez mais complexas e um alto turnover nas empresas é natural que a qualidade das demonstrações financeiras seja reduzida bem como altere padrões e conceitos em cada apuração mensal.
Em qualquer mercado competitivo a informação correta é o principal insumo para a tomada de decisão. Ele acredita que além de correta, a informação deve ser rápida e objetiva. “Excesso de informação em um book mensal de resultado não implica necessariamente em informações qualificadas. O processo de apuração de resultado e preparação das demonstrações financeiras deveria ser participativo recebendo a contribuição dos colaboradores que dominam o assunto. Defendo que materiais extensos e pouco explicados para a diretoria e para o conselho de administração são, na verdade, uma “terceirização” do trabalho de análise para os diretores e os conselheiros. Gasta-se muito tempo preparando os materiais e pouco analisando os dados”, avalia.
As empresas buscam cada vez mais automatizar as demonstrações financeiras com ferramentas tecnológicas e deixar de lado as planilhas, mesmo que estas apresentem mais flexibilidade. Segundo o partner & founder da Accountfy, muitos executivos perceberam que é exatamente essa flexibilidade que gera erros, atrasos e consequentes prejuízos por decisões erradas ou intempestivas. “Tenho visto que empresas pequenas e médias têm mais disponibilidade para aceitar padrões considerados como benchmark para acompanhamento e automação das demonstrações financeiras. Seja pela praticidade necessária ou por escassez de recursos, essas empresas renunciam à flexibilidade das planilhas por soluções automáticas e mais práticas”, pondera.
A automação das DFs permite as pessoas e empresas mais tempo e números mais precisos para a tomada de decisão. “Não é comum ouvir de executivos que os relatórios financeiros são alterados até minutos antes das reuniões e que gastam uma ou duas semanas entre fechamento contábil e a finalização. Naturalmente essa situação impede que se dedique tempo para a análise dos dados com qualidade. Parece óbvio comentar que a elaboração de relatórios financeiros de qualidade e automatizados começam no cuidado com a contabilidade. Como exemplo, cito a necessidade de revisão e detalhamento do plano de contas para que utilizemos os balancetes contábeis como fontes confiáveis e analíticas para confecção dos relatórios financeiros. Além disso, deve-se ter padrão na escolha das rubricas utilizadas em cada lançamento para que apenas fatos geradores da mesma natureza componham uma conta contábil”, diz.
No Brasil, de uma maneira geral, dedica-se muito tempo com questões tributárias, trabalhistas e obrigações acessórias exigidas pelo governo. Em outros países, em especial os EUA e os países europeus, existe uma simplificação desses aspectos se comparado com o nosso país. Em função disso, estamos atrás em termos de automação das demonstrações financeiras em função da maior complexidade de controles que são exigidos.
“Acredito que a automação é um grande aliado da transparência. Processos e sistemas estão cada vez mais blindados para gestões menos ortodoxas, trazendo mais confiabilidade nas apurações de resultado. A transparência exige a necessidade de educação financeira de alta performance, pois nem sempre erros ou omissões são propositais. A contabilidade para muitos é uma ciência complexa o que causa resistência dos usuários com o potencial de geração de informações gerenciais e, neste caso, o contador tem um papel fundamental de ajudar na educação e entregar para seus clientes internos e externos informações de qualidade”, explica Pereira.
Ele ainda define que a contabilidade é um cubo perfeito de análise econômica e financeira de uma empresa e os balancetes umas das melhores ferramentas. Além de extrair os demonstrativos de resultado e as posições patrimoniais de ativo e passivo, podemos automatizar a construção do fluxo de caixa (seja pelo método direto ou indireto) fazendo com que as demonstrações financeiras fiquem ainda mais consistentes. “A transparência é um item fundamental e básico nas relações corporativas seja com colaboradores, sócios, governo, credores, fornecedores ou clientes. Os bons gestores são aqueles que direcionam seus negócios de forma transparente, sem atalhos. Performances abaixo do esperado devem ser explicadas e discutidas, não escondidas”, salienta.
No futuro, as demonstrações financeiras gerenciais serão cada vez mais concisas e objetivas. “A demanda por automação e informação em tempo real também é uma realidade. Para isso, as empresas utilizarão cada vez mais ferramentas de BI (Business Intelligence) para gerar dados e indicadores operacionais porém o grande desafio será conseguir transformar os dados em insights e decisões que geram valor. As DFs são o reflexo econômico dos indicadores operacionais relevantes e precisarão demonstrar cada vez mais o impacto desses KPIs no resultado financeiro”, acredita.
Quando falamos de demonstrações financeiras auditadas acredito que exista um espaço enorme para automação uma vez que a preparação desses relatórios ainda é realizada em planilhas e outras ferramentas de texto. “Existe um trabalho manual para conferir a adequação das contas internas, cruzamento de dados, workflow e outros. Venho percebendo uma procura relevante por esse tipo de automação nas grandes empresas. Os ERPs têm buscado entregar novas funcionalidades integrando a contabilidade com relatórios gerenciais. No entanto, esses sistemas estarão cada vez mais focados no core – o dia a dia operacional – e desenvolverão parcerias com softwares especializados em automação das demonstrações financeiras”, finaliza.
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