Presidente do CRCSP aponta as oportunidades e perigos para a área

Marcia Ruiz Alcazar, CRCSP
O futuro da contabilidade está em jogo com as informações cada vez mais automatizadas. Na visão de Marcia Ruiz Alcazar, presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo (CRCSP), isso pode ser uma oportunidade ou como uma barreira. “A automatização e seus aspectos são transformadores e nós não podemos ser inocentes ao ponto de combater ou restringir avanços tecnológicos que proporcionam valor agregado, mobilidade, independência e que fortalecem a relevância técnica, científica e intelectual de uma profissão, como é a profissão contábil regulamentada em nosso país.
Atualmente, muitos trabalhos já são automatizados. Mas a tecnologia poderá auxiliar na gestão de uma empresa e na tomada de decisão. Segundo Alcazar, a automação dos processos contábeis permite que o profissional da contabilidade otimize e aperfeiçoe seu trabalho, concentrando seus esforços e capacidades na execução de processos mais complexos, de forma estratégica. “Essas ferramentas também permitem o aumento da eficiência, aprimoram a precisão, e consequentemente diminuem os riscos na tomada de uma decisão’, diz.
O trabalho de um contador vai muito além de realizar atividades manuais e apenas lançar notas fiscais. “O trabalho de um profissional da contabilidade não só compreende a análise cuidadosa dos processos financeiros, mas também a de aconselhamentos, inspirando e alertando sobre questões relacionadas à performance e desafios da gestão, como se fosse um conselheiro. A contabilidade simplifica, protege, inspira e evidencia riscos, oportunidades e não conformidades. O profissional da contabilidade passou de indispensável a ser relevante no processo de tomada de decisão”, avalia.
A contabilidade que está em extinção é aquela realizada do modo antigo, repleta de lançamentos manuais e pilhas de arquivos. Mas o contador nunca deixará de desempenhar um papel essencial para as empresas, de acordo com a presidente, não existe algoritmo que substituirá o pensamento crítico do contador. “Apesar de já estarmos em plena 4ª Revolução Industrial, com emprego de inteligência artificial, o trabalho do profissional da contabilidade requer comunicação, empatia com o cliente, decisões de cunho intelectual. Nada substitui a essência existente na subjetividade das decisões”, avalia.
Tendências tecnológicas
Segundo a contadora, é evidente que, à medida que a inteligência artificial aplicada à contabilidade evolui, seus mecanismos de segurança também evoluem, e proteção de dados passa também a ser uma exigência do cliente e um dever nosso. Porém, para ela, o cliente sente-se mais confiante e seguro quando há a intervenção de um profissional contábil de sua confiança, gerenciando e explicando os processos ponto a ponto.
Nesse cenário, é de extrema importância a interação com diversas áreas de atuação, tais como advocacia, engenharia, administração e, inclusive, com profissionais da área de tecnologia. Sem dúvidas para a especialista, sempre há conhecimento a ser compartilhado e trocado. “O profissional da contabilidade, em muitos casos, trabalha lado a lado com profissionais da administração e da advocacia. E agora, mais do que nunca, também se aliou aos profissionais da área de tecnologia e de engenharia de dados uma vez que o trabalho contábil tem sido muito transformado pela tecnologia”, ressalta.
É preciso ter cautela, adverte Alcazar, pois quando uma campanha de comunicação privilegia a abordagem predatória e de marketing de guerrilha, essa estratégia coloca em risco toda a sociedade. “O serviço contábil tem natureza intelectual e científica; não é como comprar produto em prateleira. O código de ética deve ser respeitado, pois transgredi-lo implica em penalidade ética disciplinar, inclusive sujeitando-se a medidas judiciais quando feito por não habilitados. A máxima de que no mundo digital se pede perdão ao invés de permissão é uma afronta a toda profissão regulamentada. Uma ação de comunicação deve ser responsável e respeitosa”, observa.
Além disso, a presidente do CRCSP, entende que o modelo convencional de organização e processamento das informações será substituído. “O que aconteceu com o sistema financeiro e com os meios de pagamento são alguns dos vários exemplos. O serviço contábil também compõe a indústria de serviços financeiros. Temos hoje as criptomoedas, como bitcoins, ethereum, entre outras, e a revolucionária tecnologia blockchain que é o nosso velho conhecido livro de razão contábil. Automação, integração, padronização, inteligência artificial e robôs de fato ajudam no trabalho, mas nenhum deles assume responsabilidade profissional, civil ou criminal”, finaliza.