Para sobreviver, as companhias precisam de um guia, que é o Business impact analysis (BIA), de um plano de continuidade e recuperação do negócio, de pessoas treinadas, de canais de comunicação estruturados, fazer exercícios e testes de tudo aquilo que foi definido para verificar se realmente funciona
“A auditoria interna pode funcionar muito mais como uma área de assessoria ao Conselho de Administração do que de assurance dentro de uma organização. Em resposta a crise, avaliações com foco em gerenciamento de riscos, conformidade dos processos, entender os principais executivos, avaliar os procedimentos mais relevantes, entre outros, podem gerar dados eficazes para preservar o negócio e auxiliar à tomada de decisões”, essa é a avaliação de Luiz Rodrigo Moretto, head global de auditoria interna da Braskem, que palestrou no Congresso ANEFAC Digital.
Dentro do cenário atual, por meio da auditoria interna é possível realizar pesquisas e aplicar questionários de forma rápida e retorno veloz. Isso ajuda no entendimento dos processos da companhia e naqueles temas que exigem uma definição de direcionamento urgente. Além disso, para ele, o que tem gerado grande oportunidade, é o aumento da utilização do analytics, pois a facilidade de acesso, por parte da equipe, a um grande volume de informações traz um cenário positivo de análise de dados que contribui bastante na profundidade do que se vem auditado.
Outro ponto, que ele destaca, é a robotização, seja nos testes de controle, para gerar KPIs da auditoria interna ou com relação ao seu resultado, uma vez que pode ser empregada no acompanhamento dos planos de ação e na sua efetividade. O avanço do conhecimento do tema de robotização e a diminuição do custo que tem gerado, permitiu que se avance bastante nas atividades da auditoria interna mais rapidamente.
Entre os desafios, Moretto destaca como a maior dificuldade encontrada atualmente a questão do tempo das pessoas em home office, pois elas têm cada vez mais, por causa das demandas, não só de trabalho, mas das suas atividades em casa, pois muitos dos filhos estão em homeschooling, menos tempo. Isso tem feito com que o acesso a elas seja um pouco mais difícil. “Não podemos mais ir à mesa de alguém e resolver um tema rapidamente, tem demorado mais, pois é preciso achar um tempo com a pessoa, todo mundo entra e sai de reuniões mais as questões de casa. Por isso, entendemos que com o analytics e o cruzamento de dados temos sido mais efetivos, mas as vezes ainda esbarramos nos processos que não tem os dados estruturados, fazendo com que necessitamos acessar as pessoas, seja para uma evidência, para a obtenção de uma documentação e/ou de um complemento de informação”, explica.
Não podemos esquecer ainda do desafio que é manter a motivação das equipes, além deste momento complexo e delicado, tem uma cobrança grande pela conclusão dos trabalhos e existe o estado de saúde mental dos colaboradores. Segundo ele, agora que as companhias passam pela crise e as pessoas precisam lidar com a pandemia, muitos dados têm sido coletados sobre a questão da sua saúde mental e dos processos que tiveram que ser adequados para a sobrevivência do negócio. “Minha observação é que todas essas informações ajudem as companhias a se prepararem para outros períodos de crises, como ataques cibernéticos, não só para o ambiente de TI, mas de automação e de plantas, por exemplo, elaborando um PDCA (Plan, Do, Check e Act), onde a lição aprendida derive em planos de ações que vão estruturar a companhia para enfrentar situações como essa procurando se antecipar”, explica.
Desta forma, é importante que as companhias tenham muito claro em crises e de resiliências empresariais, que os termos de governança corporativa estejam bem definidos. “Para sobreviver, elas precisam de um guia, que é o Business impact analysis (BIA), de um plano de continuidade e recuperação do negócio, de pessoas treinadas, de canais de comunicação estruturados, fazer exercícios e testes de tudo aquilo que foi definido, verificar se realmente funciona, desde um plano de contaminação, da evacuação de um determinado escritório, a situações do dia a dia como contato com a imprensa. Além de comunicação clara e objetiva com os seus públicos-alvo, verificação, análise e feedback dos processos, realização de auditorias internas para ver se o que está sendo estabelecido e desenvolvido estão em consonância e por fim, ações corretivas, instalando um processo de melhoria contínua”, ressalta Moretto.
Robotização pode trazer dados mais estratégicos e inteligentes
A transformação digital na auditoria interna é um caminho a ser encarado como investimento e não como despesa. Na percepção do especialista, cada vez mais as companhias precisam entender de que os investimentos têm retorno dentro de um prazo muito adequado e melhor. “É necessário ter bem claro o resultado. Percebo que nas robotizações as companhias estão caminhando, e isso é muito importante, sobretudo com relação aos controles, pois o robô dificilmente vai errar, ainda mais se estiver atrelado a uma AI dentro do processo. Ele vai ficando mais responsivo, mais rápido e com menor taxa de erro, o que traz menor possibilidade de erro e do desvio do processo”, relata.
Além disso, de acordo com ele, com as pessoas longe dos escritórios, a transformação digital vem de encontro ao acesso. E completa: ter um bom tráfego de dados, que essas análises possam ser feitas de qualquer localidade, tem ajudado bastante às auditorias. “Percebo na nossa equipe, que tem acessado os dados dos sistemas utilizados internamente, de forma adequada e com um retorno muito semelhante ao que a gente teria no escritório. Faz com que o trabalho flua da mesma forma. É lógico que existe a governança dos dados e a preocupação do tráfego no que tange a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), os ataques cibernéticos, a criptografia, a segurança destes dados, a engenharia social e as pessoas que têm acesso a esses dados”, diz.
Com tudo isso, é muito difícil dizer como as empresas vão se preparar daqui para a frente. “Se a companhia não está conseguindo gerar caixa e ter faturamento adequado é muito complexo para a auditoria sobreviver. Mas é fato que ela é bastante relevante e deve conseguir estruturar os processos internos, mostrar as lições aprendidas, fornecer dados à gestão e ao conselho de como a empresa pode se organizar num curto, médio e longo prazo. As empresas como um todo devem se preparar, imagine um país como a Noruega, que tem um período muito severo de frio, onde não é possível plantar, então ele precisa se resguardar de alimentos e outros recursos, para sobreviver aquele período de inverno longo. Dessa forma, é nas empresas, quanto mais preparada ela estiver para o que vem pela frente, mais chances de sobreviver terá”, finaliza Luiz Rodrigo Moretto.