O executivo de finanças deixou de ser o responsável unicamente pelo processo de reporting, mais focado no passado, e passou a ser um dos principais responsáveis por desafiar o negócio e encabeçar a estratégia, enxergando sempre o futuro das empresas
Na visão de Ailton Leite, vice-presidente adjunto de finanças da ANEFAC, o executivo de finanças precisa estar atento as mudanças que acontecem no mercado e influenciam diretamente na tomada de decisão da empresa, além disso, ser muito mais estratégico do que operacional e não sucumbir as transformações tecnológicas. Essa temática foi o fio condutor do evento que a ANEFAC realizou, no dia 18 de novembro, intitulado CFO day: a reinvenção dos executivos de finanças para mitigar perdas, que teve a mediação de Leite e palestras de Aury Ronan, diretor financeiro da Movile, Clarissa Sadock, CFO e relações com investidores da AES Tietê, e Luciene Gonçalves, diretora financeira da Algar Telecom.
A transformação digital, segundo Luciene, já está acontecendo há algum tempo nas empresas e com ela a reinvenção do profissional de finanças. “Mas, os últimos acontecimentos advindos com a pandemia acabaram acelerando esta transformação. De um dia para o outro tivemos que nos adaptar a uma realidade totalmente diferente e fazer dar certo, porque não havia outra opção. Os executivos financeiros assumiram um papel de protagonismo ainda mais forte. Em momentos como este, onde as dúvidas e incertezas prevalecem, é preciso agir com velocidade e de forma assertiva para trazer segurança ao comitê de direção, aos acionistas e stakeholders de uma forma geral”, explica.
Atuando em empresas de tecnologia, a capacidade mais exigida de um CFO, para Aury, é a de captar recursos para financiar a expansão do negócio. “Para isso, além de conhecimentos avançados de planejamento financeiro, ele precisa entender profundamente a estratégia da empresa, e comunicá-la de maneira clara para os mais diversos stakeholders. Não menos importante é a capacidade de formar um time de pessoas capazes de desempenhar suas funções em paralelo com as ferramentas de automação de processos e inteligência artificial. O CFO deixou de ser o responsável unicamente pelo processo de reporting, que olhava muito para o passado, e passou a ser um dos principais responsáveis por desafiar o negócio e encabeçar a estratégia, enxergando sempre o futuro das empresas”, pontua.
Reinvenção dos executivos de finanças pode mitigar perdas nas empresas
Trabalhando há 20 anos na Algar Telecom, Luciene, sempre atuou na área financeira, tendo um crescimento profissional relevante nessa trajetória. Ela iniciou como analista de orçamento e em menos de um ano, assumiu seu primeiro cargo executivo de gerente de crédito e cobrança. Depois disto, passou por várias gerências dentro da diretoria tais como faturamento, financeiro, compras e logística, planejamento financeiro, até que em 2015 assumiu a diretoria financeira da empresa. Atualmente está liderando o Projeto de Implementação do Novo ERP SAP S4/HANA na empresa. “Necessitamos ser flexíveis, ter um interesse genuíno pelas pessoas, processos e tecnologia. A despeito de precisarmos ser ágeis e dar autonomia, temos que garantir os controles e o compliance. É necessário ter o mindset voltado para o novo, para o simples e ter o cliente no centro das ações e projetos”, acredita.
Já Clarissa é economista e possui MBA em finanças e está na AES há 13 anos. Tendo passado por várias áreas dentro da companhia. A executiva possui mais de 20 anos de experiência em áreas financeiras e extenso conhecimento no mercado de capitais, planejamento estratégico e estruturação financeira. Para ela, o profissional de finanças deve mostrar a capacidade de avaliar estratégias e focar naquilo que pode trazer resultado para a companhia.
Sendo contador de formação, Aury, iniciou sua carreira como assistente em um escritório de contabilidade, depois atuou como assistente de auditoria. Cerca de um ano após a conclusão da sua graduação, atuou por nove anos como contador, consultor tributário e gerente contábil em duas das principais empresas do setor do Agronegócio no Brasil. Em 2014, já em São Paulo passou a atuar em empresas de tecnologia como controller, diretor de controladoria, e, desde 2018, como diretor financeiro/CFO na Movile. No desempenho das suas funções é responsável pela relação com investidores, compliance, jurídico, FP&A e reporting.
“De agora em diante, os dados serão o principal combustível de qualquer indústria. Não perder o timing para se adaptar, coletar dados, gerenciá-los e os transformar em informação será a principal perda que poderá incorrer às empresas. Não preparar sistemas e pessoas para tratar os dados, pode colocar a empresa numa posição de fraqueza perante os concorrentes que pode se tornar irreversível. O CFO precisa ser um dos responsáveis pela transformação digital das empresas. O uso de automação e técnicas de análises avançadas de dados podem reduzir, significativamente, o tempo dispendido nas rotinas de gestão e mitigação de perdas, liberando tempo e recursos para focar na definição e execução da estratégia da empresa”, avalia Aury Ronan.
O que o futuro reserva?
Falar do futuro da atividade desse profissional de finanças é bastante complexo num cenário como o atual, mas Luciene Gonçalves, entende que, não basta o conhecimento técnico que até há algum tempo garantia os cargos e salários de muitos, pois a complexidade do cargo cresce e junto com ela, a relevância da atuação desse profissional nas empresas. “São muitas as oportunidades para aqueles que estão preparados e alinhados com esse novo mundo em transformação”, enxerga.
Já Aury pontua que o CFO do futuro precisará, entre outras coisas, de habilidades avançadas para trabalhar com dados e navegar pelo modelo de negócio, ele também será um dos principais responsáveis pela gestão de riscos e adequação do modelo de negócio, além de que assumirá uma posição importante perante todos os stakeholders, se tornando um dos principais comunicadores da empresa. E, por fim, atuará, em parceria com a área de gente, na manutenção e adaptação da cultura da empresa aos modelos de negócios digitais. “A importância do CFO é a sua capacidade de enxergar a empresa a partir de uma visão holística, desenvolvendo um time de pessoas cada vez mais atuante como parceiro de negócio para diversas áreas da empresa, participando ativamente na implementação e manutenção do modelo de negócio, captando dados e ideias e as transformando, com o apoio da tecnologia, em projeções mais realistas, que contribuirão para decisões mais assertivas no time executivo”, finaliza.