Clubes brasileiros devem administrar paixão versus razão quando o assunto é o resultado financeiro
Muito além de paixão nacional, os clubes de futebol brasileiros movimentam milhões todos os anos. Diante disso, cada vez mais, devem desenvolver administrações profissionais e transparentes. Na visão de Carlos Aragaki, sócio da BDO Brasil, eles são entidades sem fins lucrativos de direito privado, com isso, necessitam de uma administração “correta” como qualquer uma, sejam uma ONG ou uma Cia Aberta. “Uma boa parte dos clubes requer aprimoramento na sua gestão, mas não é tarefa fácil como acontece nas empresas, pois existe a pressão dos credores (fornecedores, governo (por impostos atrasados), empregados, dentre outros) e a pressão da torcida por resultado. Muito difícil administrar paixão x razão”, diz.
A saúde financeira da maioria dos clubes da série A e quase 100% da B não é boa, justamente pelo descasamento de caixa para honrar os compromissos. Segundo Aragaki, com o novo contrato de transmissão, a situação se agravou consideravelmente, pois no sistema 40%, 30%, 30% o fluxo de entrada de parte dos recursos, seja por conta da classificação do time no campeonato, que só ocorrerá em dezembro, ou com à exposição do clube no que se refere às transmissões dos seus jogos. “Muitos clubes não trabalharam essa situação no orçamento e/ou também as entradas de recursos com as tradicionais vendas dos direitos econômicos dos atletas. Soma-se a isso, a saída do patrocínio da Caixa Econômica Federal (CEF) que afetou, significativamente, muitos dos mais de 20 patrocinados pela estatal”, explica.
Para se ter ideia, o financeiro de um clube de futebol é como o de qualquer empresa do ponto de vista de funcionamento. Já no que se refere à gestão financeira, o especialista mostra que as dificuldades são grandes há um longo tempo, isso em função dos compromissos mensais, principalmente, com a folha de pagamentos e imagem dos atletas, pois nem sempre apresentam os recursos para honrá-los em dia. O mesmo ocorre com outro grande passivo, dos clubes, que são os impostos correntes e os parcelamentos.
Outro grande ponto são os grandes salários dos jogadores. “Quem paga os grandes salários busca contar com um time de qualidade cujo torcedor acaba respondendo na bilheteria e nos programas de sócios torcedores. Já os clubes que possuem arena, também, têm vantagem competitiva. Os patrocínios representam uma grande dificuldade. Há mudança no perfil de busca de exposição das marcas, por exemplo, atualmente, muitos bancos digitais estão estampando suas marcas nas camisas, todavia, o ganho não é mais o da exposição somente, querem explorar os torcedores dos clubes com a venda de seus produtos”, salienta o sócio da BDO Brasil.
De acordo com Aragaki, as melhores formas de administrar financeiramente um clube de futebol, como em qualquer empresa, parte do pressuposto que não se pode ter custos e despesas maiores do que as receitas geradas pela operação. Além disso, o futebol tem uma característica especial que é a pressão dos torcedores por resultados e times fortes e isso contribui muito para dificultar a administração financeira dos clubes. “Algumas receitas não são tão variáveis como os contratos de transmissão vendidos aos pacotes periodicamente e sempre. As grandes variações decorrem de negociação dos direitos econômicos dos atletas e premiações. Grandes clubes do futebol brasileiro têm conseguido manter a bilheteria em seus jogos. É importante seguir à risca um orçamento realista, buscando fortemente atingi-lo durante o ano. Equilibrar as questões de contratos longos para não arcar com custos de eventuais rescisões, e futuras contingências. Trabalhar fortemente as bases e não as tratar como despesas, mas como fontes de receita futura”, aponta.
Com os projetos de Lei para a criação de clubes empresas abrem-se as perspectivas de novos investidores, que passam a sentir segurança jurídica para se tornarem sócios dos clubes. “Por outro lado, a boa gestão independe de se transformarem em empresa. É necessária a gestão que busque a governança e a transparência de suas ações para seus stakeholders”, finaliza.