O primeiro passo para pensar nas estratégias do futuro é começar a olhar para tudo o que foi feito, principalmente com relação a toda a digitalização que a empresa sofreu
O home office veio para ficar? O digital não irá mais embora? Como implementar um sistema híbrido? Qual o ciclo de duração das novas estratégias? O cliente presencial voltará 100%? Essas são algumas questões de gestores a respeito do futuro das empresas. Ao passo que o mundo muda, as estratégias sempre mudaram. Mas os ciclos eram mais espaçados, afinal de contas o ambiente evoluía sem grandes rupturas.
Em tempos “normais”, a implantação de mudanças é sempre algo planejado com estratégias bem elaboradas e tempos de maturação dentro da organização. No cenário de pandemia, as transformações aconteceram da noite para o dia, forçando as empresas a modificarem seus processos, estruturas, metodologias e vendas.
Impactadas pelas mudanças de ambiente, em 2020, de acordo com os Dados da Pesquisa “Pulso Empresa: Impacto da Covid-19 nas Empresas”, realizada pelo IBGE, mais de 700 mil empresas fecharam e 70% das 2,7 milhões que continuaram abertas sentiram os impactos financeiros da crise sanitária. Apenas 13,6% tiveram aumento de oportunidades e continuaram a crescer. O setor de bares e restaurantes, por exemplo, foi um dos que mais sofreu. Segundo pesquisa da Associação Nacional de Restaurantes, desde o início da pandemia 64% dos estabelecimentos promoveram demissões, em média, 21% dos colaboradores foram desligados e outros tantos fecharam as portas.

Daniela Pilar, sócia administrativa do Frank & Charles
Para sobreviver, Daniela Pilar, sócia administrativa do Frank & Charles, grupo de restaurantes, conta que estão acompanhando muito de perto e, diariamente, o cenário de pandemia na Europa e nos Estados Unidos da América para tentar verificar tendências e as melhores práticas, além de estarem em constante alerta sobre as mudanças que ocorrem em São Paulo para prontamente se adaptarem. “Estratégias de mudanças para mim é estarmos completamente atentos a tudo que está havendo no mercado, termos agilidade para adaptações e muita criatividade. Não podemos ter medo de arriscar em novas estratégicas. Precisamos ser muito rápido e pensar fora do padrão”, explica.

David Kallás, vice-presidente de administração da ANEFAC
E isso não vale apenas nesse segmento ou tipo de empresa. Desde as mais consolidadas e antigas do mercado, todas precisam migrar para um novo tipo de estratégia para evitar a queda dos negócios. Para David Kallás, vice-presidente de administração da ANEFAC e sócio da KC&D, como diz o ditado, quanto maior o tamanho, maior o tombo. “Das pequenas até as gigantes, as mudanças de ambiente e de mercado afetam todas as empresas. No caso das consolidadas e antigas, entretanto, surge um fator dificultador, que é o potencial apego das pessoas às maneiras tradicionais de fazerem as coisas. Isso pode implicar em resistências às mudanças e dificuldade de implementação das novas estratégias. Por conta disso, muitas dessas tem criado unidades separadas somente para tratar de temas relacionados à inovação e transformação”, diz.
Independente da empresa, é necessário buscar alternativas. Ficar estagnado não é uma solução. Na visão de Pilar, é importante pensar no seu modelo de negócio, olhar para dentro. “Para continuarmos funcionando, fizemos muitas parcerias, nos voltamos ao mundo digital de uma forma bastante intensa, melhoramos nossa comunicação e delivery. Mantivemos um relacionamento muito próximo com os nossos clientes. Ainda estamos em uma fase de muitas incertezas sobre o daqui para frente, mas continuaremos focados em sempre nos reinventar”, explica.
Sem o presencial, a empresa precisava continuar operando. Para eles, a solução foi mudar a forma de interação e contato com os clientes, conseguindo atingi-los de outra forma. Sem abrir mão, em momento algum de sua qualidade e identidade. Com todo o sofrimento financeiro, entenderam que não poderiam prejudicar a marca. A empresa se voltou para o mundo digital e mudou completamente a sua forma de trabalho. Atualmente, o foco são as estratégias digitais para se comunicarem com os clientes.
“Não podemos nos deixar vencer, é preciso ser incansável mesmo nos dias que parece que tudo dará errado. Pensar positivo te motiva a buscar soluções e oportunidades nunca antes pensada por você. Em tempos de mudanças, as palavras chaves são agilidade e flexibilidade. Vão bem as empresas que conseguem formular e rever suas estratégias com velocidade, colocando-as em operação. Para tanto, é importante ter uma operação e pessoas dispostas a mudar as suas prioridades de acordo com o novo contexto”, alerta Pilar.
O que fazer daqui para a frente?
O primeiro passo para pensar nas estratégias do futuro é começar a olhar para tudo o que foi feito dentro de casa, principalmente com relação a toda a digitalização que a empresa foi forçada a fazer. Na percepção de Kallás, ainda mais se tiver sido feita às pressas, como muitos fizeram (ou foram forçados a fazer) durante a pandemia. “Significa rever e mudar processos. Empresas do varejo, por exemplo, tiveram que rever embalagens, desenvolver canais digitais de vendas, entregas e de faturamento. Esses novos processos devem coexistir com os anteriores, ou até mesmo os substituírem. Isso aumenta a complexidade da estratégia, mas permite que novos públicos sejam alcançados”, aponta
Pensar no futuro e traçar as estratégias ainda é muito complexo. “Difícil dizer quanto tempo ainda durará a pandemia. Ainda é tudo muito imprevisível. O que posso dizer é que, uma vez superada, não voltaremos a fazer negócios como antes. Grande parte da digitalização que aconteceu nos anos de 2020 e 2021 veio para ficar. É lógico que muitos dos clientes vão desejar voltar a fazer negócios da forma antiga. Mas outros, e novos clientes, permanecerão no novo modelo. Caberá aos empresários e gestores analisar como distribuir seus recursos para melhor atender os clientes que definirem como prioritários”, avalia Kallás.
Para ele, além disso, as estratégias nos tempos atuais não devem ser uma questão apenas de investir em branding, pois depende muito do contexto da empresa e dos objetivos específicos. “Creio que a mensagem a ser passada é fundamental, bem como a finalidade da estratégia”, finaliza.