“O futuro não é determinado, condicionado, ele pode ser modificado, é possível, muitas vezes difícil, mas ele não é inexorável”
O que dizer deste ano? Ufa! Que ano! 2020 ficará marcado na história mundial como aquele em que um vírus aterrorizou a humanidade, em todos os sentidos.
Se ano passado eu escrevia neste espaço para falar sobre o futuro do trabalho e as perspectivas para um ano vindouro, agora nem me atrevo a fazer previsões. Prefiro pensar em alguns momentos marcantes deste ano, para pura e simplesmente reforçar que se você sobreviveu a tudo isso, você está mais forte para 2021.
A grande lição que tiro é que nós ainda não somos tão hábeis em projeções. Veja:
A Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou a pandemia de Covid-19 em 11 de março, mas desde o fim de dezembro de 2019 já se ouvia falar da doença causada pelo novo Coronavírus (Sars-Cov-2).
O Fórum Econômico Mundial lançou seu relatório anual de Riscos, em 15 de janeiro de 2020, e não havia indicação de risco de pandemia. Apenas, no quesito impacto, havia o risco de doença infecciosa como 10º colocado. Todavia, em probabilidade, entre os top 10, nada tinha de referência.
Assim como todos os experts em risco ouvidos, para a emissão do 15º Global Risk Report, não foram capazes de prever em janeiro, algo que já estava literalmente no ar.
Será que eu consigo falar sobre o futuro? Melhor focar mesmo no presente. Ah, e não adianta dizer que foi um “cisne negro”, impossível de ser previsto, como bem diz o autor Nassim Taleb em seu famoso livro, um evento raro que modifica o cenário.
Não foi, o próprio autor em evento transmitido ao vivo, um dos milhares deste ano, afirmou categoricamente que pandemias sempre acontecem de tempos em tempos, logo, não se enquadra nesta categoria. Ou seja, foi erro de cálculo mesmo, ou a nossa limitação em prever futuros se sobressaiu.
E, o que aconteceu com as bolsas de valores mundo a fora, por exemplo, em 16 de março, a de São Paulo já havia registrado 5 (cinco) circuit breakers, record absoluto!
A partir de então as palavras lockdown, máscara e home office ganharam os noticiários. Ser a favor ou contra? Benefícios e riscos, impactos dos mais variados na vida de todos nós.
Os trabalhadores dos setores essenciais, apesar de o julgamento disto também causar controvérsia, não tiveram muita opção, além de usar máscara, fechar o corpo com álcool em gel e seguir a vida laboral.
Outros descobriram os benefícios do home office, trabalhar de qualquer lugar, no sítio, na fazenda, na praia ou em casa, mas uma imensa quantidade revelou que a home não estava preparada para ser office, faltava cadeira, mesa e até computador, as vezes até internet.
A desigualdade gritou nas telas. Vimos, por outro lado, o aumento de doações e trabalhos sociais, record na taxa de desemprego, mais record no volume de doações de dinheiro e alimento, muitas ações filantrópicas e empreendedorismo social apareceram e se fortaleceram, o que não evitou de a fome reaparecer, mas agora dizem que criamos uma cultura de filantropia. Porém, é inegável que o contingente de moradores de rua aumentou nas grandes cidades.
As mães ficaram ainda mais sobrecarregadas. Na grande maioria dos lares, foram elas que tiveram aumento da carga de trabalho, lidar com filhos, homeschooling e o trabalho de casa, em conjunto com as demandas de suas profissões, levou a muitos casos de Burnout, outra palavra muito falada em 2020.
Conhecemos as casas das pessoas através das reuniões virtuais, vimos os quadros, livros nas estantes, alguns até usaram tela de fundo para mostrar uma estante cheia de livros, camas desarrumadas, sofás, salas bagunçadas pelos filhos, os parentes que circulam, os pets, reformas na casa dos vizinhos, que interromperam muitas reuniões. Foi uma intimidade danada ao longo do ano, teve flagras também, é claro.
E as lives? De festival de música à celebração religiosa, passando por receitas de chefs estrelados a desconhecidos que se transformaram em entrevistadores.
Tudo isso fez parte do ano da pandemia, que não se limitou apenas a ser uma pandemia de saúde, mas foi também uma pandemia financeira e emocional. O isolamento social, as perdas de entes queridos, do trabalho, da convivência, enfim, que ano pandêmico!
Se a Cultura do Cancelamento também imperou em 2020, será que poderíamos cancelar este ano?
Enfim, o presente é condicionado, fruto direto do passado, não podemos mudar a história, mas como diria o educador, Paulo Freire, “o futuro não é determinado, condicionado, ele pode ser modificado, é possível, muitas vezes difícil, mas ele não é inexorável”
No império Romano, quando os generais voltavam para casa, depois de suas vitórias de guerra, eles desfilavam pelas ruas mostrando suas conquistas. No entanto, ao seu lado, sempre havia um escravo que sussurrava “Memento Mori”, que significa, “lembrai que és mortal”.
Era um recado para os generais, para sempre se lembrarem de suas condições naturais. Assim, fazer previsões sobre o futuro ainda é uma das nossas limitações, 2020 fez questão de nos lembrar isso.
Porém, só nós humanos podemos ir além, mudar os fatores condicionantes históricos para caminharmos para um futuro melhor.
O que espero para 2021? É que sejamos fortes, capazes de suportar as adversidades, de mantermos nossa saúde mental para podermos – juntos – vencer os desafios que virão, sejam eles quais forem. Não faço previsões, a única é de que será um ano desafiante.
Que comece então a nova década, viva 2021! Wakanda forever!
Artigo escrito por Emerson W. Dias, vice-presidente de Capital Humano da ANEFAC e fundador do portal e da série de livros O Inédito Viável.