A ruptura digital irá inevitavelmente estimular mudanças organizacionais nessa área. Novos centros de excelência serão desenvolvidos para gerenciar a implementação de ferramentas disruptivas como automação inteligente e análises de dados para alavancar a expertise de recursos críticos
Dois setores da economia brasileira mais avançados, bancos e seguradoras têm o privilégio de estar bem à frente de outros segmentos no que diz respeito à transformação digital. Atualmente, essa indústria já utiliza ferramentas como análise de dados, inteligência artificial, automação e computação em nuvem. O que temos visto, recentemente, é que esse processo foi intensificado também na função de finanças nas demais organizações pela urgência da necessidade de automação que surgiu frente aos desafios impostos pelo isolamento social determinado como medida sanitária de combate à Covid-19.
Uma pesquisa global da KPMG, realizada em parceria com a Forbes, intitulada “Transformação digital” (do original, “Digital Transformation”) apontou que 79% dos 261 diretores de finanças entrevistados já haviam começado o processo de transformação digital nas empresas que lideram. O levantamento mostrou ainda que esse movimento abriu caminho para a introdução de tecnologias emergentes mais avançadas como big data, computer vision, machine learning. São recursos que podem fornecer dados significativos e ajudar às empresas a responder de forma mais eficaz às mudanças nas condições de negócios. Essa automação inteligente fornece aos profissionais ferramentas de coleta de informações essenciais para a tomada de decisão e permite que eles se concentrem no trabalho mais estratégico.
Diante dessa jornada da transformação digital na área de finanças, a indústria enfrenta diversos desafios. Entre eles, estão o aumento dos riscos regulatórios para conseguir identificar e predizer as anomalias, atividades manuais com processos ineficientes e a falta de ferramentas tecnológicas para agregar os dados e fazer com que estes estejam integrados com outras áreas da empresa. Não menos importante está a preocupação com a forma como os dados da área de finanças, que gera trilhões de transações por dia, serão processados. Nem todas as empresas da área tem um parque tecnológico com infraestrutura necessária para realizar esse processo.
Além disso, o setor ainda enfrenta algumas preocupações sendo a maior delas a transparência nos modelos de aprendizagem de máquinas conhecidos como black box. Nesse sentido, o esforço é aumentar a confiança dos executivos de finanças no que as máquinas indicam como solução e/ou recomendação. Outro ponto de atenção é com relação à ética na obtenção dos dados. O grande esforço é o uso de dados externos para dar precisão às informações e melhorar as análises preditivas.
A ruptura digital irá inevitavelmente estimular mudanças organizacionais nessa área. Novos centros de excelência serão desenvolvidos para gerenciar a implementação de ferramentas disruptivas como automação inteligente e análises de dados para alavancar a expertise de recursos críticos. O serviço virtual irá acabar com os limites geográficos das empresas, reduzindo a necessidade de um local presencial. Além disso, essa mudança cultural e de maturidade tecnológica vem sendo resolvida com a inclusão de profissionais especialistas em tecnologia, principalmente, de análise de dados nos setores de finanças. A função financeira incluirá talentos em tecnologias de dados e análises. São especialistas estratégicos para fazer as perguntas certas, coletar insights de dados e se comunicar com o negócio como Chief Data Officer – CDO (diretor de dados), diretor de robótica e Chief Experience Officer – CxO (diretor de experiência do cliente).
Em suma, ainda que o setor de finanças seja um dos mais evoluídos no que diz respeito ao uso de tecnologia, ele ainda tem um caminho nesse processo de transformação digital na indústria em geral. Apesar de toda a dinâmica inerente à tecnologia, sabemos que esse movimento acontecerá em curto prazo. As organizações financeiras já deram o primeiro passo que é começar a pensar sobre o desenvolvimento de novas habilidades, capacidades, estilos, ambientes, pontos de colaboração, planos de carreira e modelos operacionais para o futuro. Aqueles capazes de transformar a empresa e as estratégias de talento serão os mais habilitados para concluir essa jornada.
Artigo escrito por Ricardo Santana, que é sócio de análise de dados da KPMG.