Andreia Fernandez, diretora de compliance Latam da Serasa Experian e vice-presidente de governança da ANEFAC, conta os desafios da sua trajetória profissional, além de pontuar que a governança precisa ser flexível em ambientes imprevisíveis e não engessar os processos corporativos para buscar o equilíbrio e o crescimento sustentável
Dedicada é uma forma singela de definir Andreia Fernandez. A executiva, atualmente, é diretora de compliance Latam da Serasa Experian, vice-presidente de governança da ANEFAC, esposa e mãe do Lucca, um lindo menino de dois anos e cinco meses. O desafio de tornar-se head de compliance para a América Latina veio depois de dois anos como responsável pela estruturação de uma área de negócios na empresa, que segundo ela, foi bastante desafiadora por ser ampla e complexa.
“Essa mudança me deixou e ainda deixa muito orgulhosa e feliz, não só porque era o que eu buscava para a minha carreira, mas porque tudo aconteceu durante um dos períodos mais marcantes e importantes da minha vida: eu estava com quase 30 semanas de gestação. Participei de entrevistas: local e global e, em pouco mais de três semanas, assumi a nova estrutura, agora com uma posição global. Uma gestação por si só traz um turbilhão de sentimentos e emoções para a mulher, imagine uma gestação marcada por uma mudança dessa, que era sim planejada, mas nunca esperada naquele exato momento. Lembro ainda que na conversa com o RH sobre essa possibilidade, na área de compliance, cuja posição estava em aberto há algum tempo, respondi: “mas eu estou grávida!”. Eis que logo a business partner interrompe imediatamente e diz: “não estou te perguntado isso!”.
Dentre as principais lições que traz deste momento, aponta ela, foi entender que a empresa valoriza seus talentos internos e que não tem preconceito, infelizmente, ainda tão comum no mundo corporativo, com mulheres grávidas e ainda dá uma oportunidade durante essa fase. “Sinto orgulho em fazer parte! Sinto-me muito feliz e realizada por atuar na área de compliance, de poder trabalhar com temas de governança, para apoiar a organização a alcançar os resultados esperados. E essa história não poderia ser mais completa e feliz, com o meu príncipe Lucca, acompanhando a mamãe nesse desafio”, salienta.
Fernandez começou a investir na área de compliance por volta de 2015, quando estava alinhando o rumo da sua carreira, em cursos na área, além de participar de comitês técnicos com profissionais das áreas de compliance e de governança de forma geral, de modo a ampliar sua bagagem e networking. Já no início de 2016, em mais uma das reestruturações internas que realizou, por conta do seu foco em governança e sua experiência em processos, ainda mais um desafio de estruturar uma área de governança e de assuntos regulatórios, em uma das unidades de negócio da companhia. Essa fase foi primordial para ratificar o seu interesse pela carreira voltada à governança.
“Atribuo a esse período o maior interesse por temas de governança, dado que nessa fase fazia parte do meu escopo a implementação de políticas, de procedimentos, de treinamentos a terceiros, de processos de verificação e de auditoria, além de maior interação com as áreas de compliance, de segurança da informação e de gestão de riscos”, diz.
Uma história para relembrar
Poucas pessoas sabem, mas sua trajetória profissional começou em uma pequena escola de educação infantil, na Zona Norte de São Paulo, quando ainda tinha 17 anos. Após um ano na educação infantil, buscou desafios e oportunidades no mundo corporativo e ingressou em uma grande empresa, a Serasa, atualmente uma multinacional, a Serasa Experian, que atua em mais de 40 países, com mais de 17 mil colaboradores no mundo.
Seu primeiro cargo: analista de cadastro júnior. Depois de concluir o Magistério, apostou na graduação de Ciências Contábeis, por acreditar que esse caminho traria mais possibilidades. Durante os cinco anos da graduação, obteve algumas promoções em funções técnicas e logo que concluiu o curso, assumiu a liderança de uma equipe com dez pessoas. E assim, ainda jovem, viu sua carreira seguir os rumos da liderança. A partir daí decidiu investir em uma pós-graduação em Administração de Empresas, pela PUC-SP, após já ter feito uma especialização em Estratégia Empresarial pela FIA-USP.
“De forma resumida, minha trajetória profissional é marcada pela liderança de diversas áreas relacionadas com processos de captação de dados, a análise e disponibilização para clientes finais, de relatórios de decisão de crédito, onde liderei inúmeras reestruturações e projetos de eficiência operacional. Como a mudança sempre fez parte dessa história, também tive como um dos desafios, a responsabilidade pela gestão operacional de terceiros, que atuam em nome da companhia em determinada linha de negócio, onde era necessário maior integração e envolvimento com as áreas de governança da companhia, além de atendimentos a requisitos regulatórios de determinado órgão fiscalizador”, relembra.
ANEFAC: Governança, ética e futuro
Na visão de Fernandez, que há quase um ano assumiu a vice-presidência de governança da ANEFAC, além da crescente importância sobre a integridade ética, o futuro dessa área no Brasil e no mundo deve passar por uma reflexão no que tange à flexibilidade para adaptação a novos cenários, como o que temos vivido nos últimos meses de pandemia, com o trabalho remoto compulsório, que obrigou muitas organizações a ajustarem seus processos internos, a utilizarem novas ferramentas, plataformas virtuais etc. Para ela, a governança precisa ser flexível para atuar em ambientes imprevisíveis, não engessar os processos corporativos e buscar o equilíbrio e o crescimento sustentável.
“Não podemos falar em governança corporativa sem falar em integridade e ética. É essencial que as organizações estejam atentas à gestão de uma cultura ética, que desperte o melhor das pessoas e que seja promovida por líderes que tenham interesse genuíno em deixar um legado positivo e que sejam exemplo. Portanto, governança corporativa não pode ser avaliada de forma isolada da liderança e da cultura organizacional e, dessa forma, as empresas devem manter atenção especial à questão de integridade empresarial, que continuará ocupando espaço crescente nos noticiários do Brasil e do mundo.
Além disso, ela recomenda: para manterem a vantagem competitiva no futuro, cada vez mais, as empresas devem fortalecer a gestão de uma cultura ética e seus sistemas de prestação de contas, pois a sociedade demonstra crescente cobrança por transparência, além de buscar por produtos de empresas que valorizam os aspectos ligados a cidadania.
“Essa estrutura de governança corporativa como uma vice-presidência foi criada há menos de um ano na ANEFAC e desde então trabalhamos para fortalecer o que chamamos de estrutura matricial, de modo a reforçarmos as sinergias entre as áreas e os comitês existentes, agora com uma visão em âmbito nacional e de forma padronizada. Também implantamos uma diretoria executiva, que tem feito um importante trabalho na revisão e na definição do escopo para cada um dos comitês, além de buscar alinhamento e coesão com as áreas técnicas”, explica.
Essa estrutura também tem a responsabilidade de gerar conteúdo aos associados, sugerir ações integradas entre as áreas técnicas, realizar eventos específicos e apoiar bem como reforçar ações em andamento de outras diretorias, de forma conjunta e com visão ampliada. “A ANEFAC, com mais de 50 anos de existência, reforça o seu compromisso de contribuir com os executivos, buscando sempre atualizar sua estrutura e seu escopo, de modo a continuar promovendo um intenso intercâmbio de ideias e de conhecimentos estratégicos. Aproveito para deixar um convite para você, que ainda não é nosso associado: acessa o site e conheça mais, venha fazer parte www.anefac.org.br”, finaliza Fernandez.