As pessoas são e serão ainda mais decisivas no sucesso das estratégias dos negócios
Não há dúvidas que a Quarta Revolução Industrial está modificando questões sociais, políticas e econômicas. Frente aos avanços da inteligência artificial, das tecnologias disruptivas, da transformação digital, da automação e por aí vai, as estratégias das empresas, que envolvem o capital humano, estão se transformando. A diferença entre as que sobreviverão e as que não está justamente no caminho a ser escolhido. Esta temática foi abordada no Congresso ANEFAC Digital no dia 26 de maio. Na visão de Thammy Marcato, innovation & digital transformation bridge na KPMG Brasil, diretora de ecossistema e inovação da ANEFAC e palestrante no evento, as principais tendências estão pautadas na mudança do entendimento do colaborador, que deixa de ser uma “peça”, dentro de uma linha de produção, para ser um elemento de simbiose na organização.
Neste segundo, para ela, o capital humano é visto como potencializador das características humanas, como empatia, cocriação e colaboração, enquanto a figura da “peça”, ou seja, atividade de alta repetição, passa a ser realizada pela máquina. As tendências globais, de forma geral, podem ser endereçadas como:
- fatores socioeconômicos;
- digitalização;
- transformação digital;
- diversidade;
- mix de gerações;
- acesso a talentos;
- reskilling;
- org dynamics;
Os aspectos culturais e as características locais afetam ou irão afetar como estes elementos são ou serão endereçados no Brasil e no mundo, dada a mudança do ponto de partida. “Para cada tendência, para o capital humano, existe uma visão distinta entre o que está acontecendo no mundo e como este padrão está se dando no país. Por exemplo, de forma genérica, e até um pouco ‘estereotípica’, processos de digitalização das operações estão mais avançados em países que possuíam background industrial/processos, como é o caso da Alemanha, Inglaterra ou Estados Unidos. Já aspectos voltados à cultura e ao propósito estão mais avançados em empresas que nasceram ou são lideradas por pessoas com mindset inovador e dispostas a derrubar os silos e as hierarquias construídos anteriormente. Um dos maiores exemplos deste caso é o da Microsoft e a transformação que vem ocorrendo dentro da gestão atual”, pontua Marcato.
Desafios exigem o repensar dos modelos de gestão
Cada tendência para o capital humano nas empresas vem precedida de desafios específicos. Não é possível colocar tudo na mesma panela. Segundo Thammy Marcato, em linhas gerais, a grande preocupação do mercado é transformar digitalmente o modelo de negócios das empresas, ao mesmo tempo que estas descobrem e reposicionam a sua força de trabalho para as novas necessidades. “Uma consequência disto é que as empresas precisam ficar, cada vez mais, rápidas e flexíveis para atender as mudanças do mercado, obrigando-as a repensarem seus modelos de gestão e métricas de performance de forma contínua, assim como seus desenhos organizacionais”, observa.
Com a situação posta a mesa, vem a adequação, que não é a melhor forma ou palavra a ser usada, pois pode gerar um sentimento de negatividade e supressão do modelo anterior, o que não reflete a realidade. “É uma grande transformação. As empresas devem se adaptar e se transformar para atender e capturar o valor dado às novas possibilidades. Este entendimento é essencial para o sucesso deste processo, pois imprime um conceito de jornada”, acredita a especialista da KPMG Brasil, Marcato, que estabelece algumas maneiras para dar o ponta pé inicial:
• utilizar a capacidade analítica de dados para suportar a gestão de pessoas;
• reavaliar as atividades, realizadas pelos colaboradores, e o potencial de digitalização delas;
• definir um propósito claro para a empresa e engajar os colaboradores, assim como as ações da empresa, para viver por eles.
Por uma outra perspectiva, na visão de Emerson W. Dias, vice-presidente de capital humano da ANEFAC, que também palestrou no Congresso ANEFAC Digital, as empresas que tomaram partido de posições muito radicais estão sofrendo boicotes em suas vendas, isto mostra duas coisas: que radicalismo traz prejuízos financeiros e de ordem mental. Não agrega, não contribui. “É preciso diálogo e conciliação. O empresário que se porta como um shareholder com foco apenas no resultado econômico e esquece das outras perspectivas, como sociais, ambientais e de governança terá maiores dificuldades ao passo que aqueles que se mostrarem mais abertos ao diálogo, a inclusão e ao trato com a diversidade ganharão mais espaço. É hora de ampliar as visões e não as estreitar”, enaltece.
O impacto, destas tendências, varia de que tipo de atividade a pessoa exerce. De maneira geral, para Marcato, um fator que tem aplicação para a grande maioria é a capacidade de trabalhar em ambientes diversos e de forma colaborativa. “Impulsionadas pelas múltiplas gerações, convivendo sob o mesmo contexto, assim como os novos formatos de trabalho (trabalhadores part-time, remotos, seniors etc.), as pessoas precisam desenvolver habilidades de comunicação, escuta ativa, colaboração e empatia para obter sucesso. É importante que cada profissional faça uma análise fria frente ao impacto das mudanças tecnológicas na atividade que exerce hoje, já que muitas estão sendo reescritas pela tecnologia. Além de identificar quais são as suas principais competências, que serão essenciais no futuro e que não serão feitas pelas máquinas, é um diferencial para quem está se atualizando”, alerta.
Para finalizar, vale lembrar, que é importante entender as questões éticas em todo este cenário envolvendo o capital humano, tanto para os próprios profissionais quanto para as empresas. Na opinião de Thammy Marcato, existem diversas discussões neste sentido, mas a maior delas é a relação homem x máquina. Com a substituição de parte da força de trabalho por máquinas, muitas áreas, que normalmente possuíam grandes grupos de trabalhadores, vão ser reduzidas a grupos mínimos, por causa da capacidade de processamento da máquina e da ausência de erro humano. “Ao mesmo tempo que isto acontece mais rápido, a requalificação profissional possui uma curva mais lenta, gerando uma parcela da população, economicamente, ativa que não possuirá os novos skills necessários para buscar novas oportunidades. Isto impactará a oferta e a demanda do mercado, onde haverá uma altíssima demanda por aqueles que se enquadram nas novas competências, mas uma massificação da oferta de profissionais que não se requalificaram e foram substituídos pela transformação digital”, diz.
O conteúdo da palestra está disponível no Educa ANEFAC, confira: