Digital não é apenas a tecnologia, é acreditar em novas formas de organizar o trabalho e criar métodos de inovação contínuos
No best-seller Competindo pelo Futuro, C. K. Prahalad e Gary Hamel afirmam, categoricamente, que as empresas realmente feitas para durar são aquelas que vivem cotidianamente o processo de reinvenção. Hoje, as corporações engessadas perdem posições na disputa por mercados, definham e morrem. Num mundo marcado pela metamorfose permanente, a tarefa do gestor passa a ser administrar a própria mudança, cuidando para que a adoção e a aplicação de novos conceitos permitam a empresa sobreviver e crescer.
A reinvenção é mais abrangente que a inovação, pois inclui a conversão a uma filosofia de checagem e avaliação contínuas de métodos, processos e até mesmo de objetivos. A inovação pode servir para garantir a dianteira na luta concorrencial. A reinvenção para recriar todo um setor de atuação e até mesmo revolucionar um mercado. Se a inovação está ligada as coisas e as metodologias, a reinvenção está ao pensamento, o motor de todas as grandes revoluções na história da humanidade. Somente se reinventa uma empresa se os seus gestores tiverem a humildade e a disposição de também se reinventarem.
A ideia do reinventando você em meio a transformação digital foi a temática da palestra de Carlos Alberto Júlio, CEO da Echos – Innovation Lab – e conselheiro profissional independente, na abertura do Congresso ANEFAC Digital no dia 22 de maio. “Essa é uma nova versão do meu primeiro livro de 2001: Reinventando Você! La atrás, por conta de um susto de saúde, mudei muito a minha trajetória profissional e pessoal. Com o desafio de montar no Brasil uma Escola de coding – A Digital House – e preparar os profissionais para a Nova Economia, não sendo eu um nativo digital, considero essa a minha segunda Reinvenção, a Digital”, diz.
A palestra fez uma viagem no tempo, mostrando a mudança nas relações entre o homem e o trabalho. Muitos exemplos recentes foram colhidos na experiência pessoal de Julio. Na década de 70, por exemplo, quando obteve sucesso ao comercializar eletrodomésticos brasileiros no interior da África. Ao contar as histórias de seu relacionamento com o pai, uniu o enredo familiar ao profissional. Ao apresentar sua saga pessoal, com ênfase na superação de uma séria crise de saúde, Carlos Julio estabelece uma ponte conceitual entre a essência da reinvenção pessoal e a reinvenção nas empresas e nos negócios. Por meio da narração de sua experiência, faz um alerta: mudamos frequentemente na forma, mas não no conteúdo. E, em geral, oferecemos velhas respostas para novas questões.
Julio revela que a nossa relação com o universo laboral está mudando, por isso, a importância da reciclagem do conhecimento nos novos modelos produtivos e o aprendizado ao utilizar as novas tecnologias na construção de organizações mais dinâmicas e inteligentes. “O bom atendimento, com respeito ao cliente, é ainda o motor das organizações e dos profissionais de sucesso”, completa.
Reinvente o seu negócio ou quebre
A reinvenção nas empresas não é um tema novo, já era muito forte e de alto interesse antes da pandemia que vivemos. “Com a crise de saúde e o isolamento social, ela veio à tona com muita intensidade e ênfase. A transformação digital tem que ser entendida como uma transformação cultural da empresa. Digital não é apenas a tecnologia, é acreditar em novas formas de organizar o nosso trabalho e criar métodos de inovação contínua”, acredita.
Segundo Júlio, existem metodologias prontas para ajudar as empresas a fazerem essas transformações. Ele acredita que o modelo mais moderno e efetivo é o das metodologias ágeis, o Design Thinking, por exemplo, que é um processo que pode e deve preceder a outro, no sentido de que nos ajuda a desenhar produtos, serviços e até os desenhos organizacionais. “Não sei se teremos num futuro próximo as empresas que não se transformem para o mundo da tecnologia e dos dados. E, para lidar com isso, uma nova forma de gerir e organizar são vitais”, alerta.
Inovação na visão de muitos está relacionada às grandes empresas, mas os médios e pequenos negócios também devem e podem inovar. Ele entende que essa é uma crença disfuncional, por acreditar que é coisa de “gente grande” nos acomodamos e não nos desafiamos a fazer, a transformar. Júlio entende que a tecnologia nunca foi tão barata e acessível, é muito mais atitude e suor do que dinheiro, é muito mais método do que inspiração.
Já as pessoas e os gestores, como tudo na vida, precisam querer. “Planejar, no sentido de decidir o que se quer alcançar é o começo, um plano simples, mas efetivo de mudança de cultura, pode estar em aprender alguns métodos de Sprints, Design Thinking e montar um time que saiba colaborar. Aliás, essa é uma das grandes mudanças. No mundo da Nova Economia não fazemos mais nada sozinhos, o caminho é Empatia, Colaboração e Experimentação. Assim mesmo, com maiúsculas”, finaliza.
O conteúdo da palestra está disponível no ANEFAC Educa, confira: