Crescimento dependerá da atração de investimentos internos e externos, que por sua vez, está sujeito ao nível de confiança no país
Atração de Investimento Produtivo
Para o crescimento do Brasil, o investimento deverá preceder a geração de empregos e o consumo. Embora, pontualmente, no final de 2019, os indicadores sejam favoráveis, já que houve geração de empregos e o aumento no consumo das famílias, ainda enfrentamos uma recessão e um déficit de empregos muito grande.
Até outubro de 2019, o mercado formal de trabalho criou 841,5 mil vagas com carteira assinada, reforçando a visão de que o ritmo da economia vem ganhando força, porém é um movimento incipiente ainda, frente a uma retomada mais robusta da economia e do nível de emprego.
Conforme menciona Roberto Vertamatti, em seu artigo (acesse aqui), os gastos públicos aumentaram significativamente, o que agravou o déficit fiscal, gerando um menor nível de segurança para investimentos, aliado a uma atividade econômica ainda baixa:
No 3º trimestre de 2019, o PIB foi de 0,6%. O quadro abaixo denota o quanto a atividade econômica carece de recuperação consistente.
Dessa forma, o crescimento dependerá da atração de investimentos internos e externos, que por sua vez, está sujeito ao nível de confiança no país.
Nesse sentido, em termos das reestruturações mencionadas, em andamento, são necessárias medidas consistentes, cujo resultado se dará em médio e longo prazos. Naturalmente, o mercado se ressente, por ter uma expectativa de recuperação mais rápida e, nesse meio tempo, segue um volume significativo de falências e de setores em grande dificuldade.
Conforme menciona Vertamatti, a inflação, uma das principais preocupações da nossa população, está sob controle, porém essa é, também, uma consequência do nível extremamente baixo da atividade e do consumo.
Quanto ao nível de confiança no país, várias ações, em andamento, criam uma predisposição para o investimento e esta percepção, pelo mercado, se dá através das seguintes medidas:
- Indicativos de que o governo irá controlar e reduzir o déficit fiscal, reduzindo seus gastos.
- A aprovação da Reforma da Previdência e o encaminhamento de outras reformas estruturais que, igualmente, irão reduzir o déficit fiscal.
- Leilões/concessões que gerarão Caixa.
Independentemente do nível de arrecadação, em função da atividade econômica, cuja elevação deverá ser consequência do investimento, essas medidas denotam uma confiança maior de que não haverá um ambiente inflacionário em função do déficit fiscal, resultando em um ambiente para o investimento produtivo.
Naturalmente, regras perenes e agências reguladoras fortes complementam esse contexto de predisposição para o investimento. Adicionalmente, em termos de investimento externo, o Brasil ainda é uma importante opção, não só pelo tamanho de seu mercado interno, mas também por ser uma importante opção dentre os BRICS.
Em termos quantitativos, essa percepção do nível de confiança pode ser aferida através do Risco Brasil mais baixo:
No gráfico acima, o Risco Brasil (ou Risco País), medido pelo EMBI, Emerging Markets Bond Index, calculado pelo J.P. Morgan.
Emprego, produtividade e tecnologia
Fatores relevantes a considerar. Nesse período de recessão e perda de empregos, no qual as empresas reduziram sua atividade e o número de profissionais, se deu, de certa forma, um ganho relativo de produtividade, mesmo que forçado, com pessoas trabalhando mais, de forma a suprir/exercer atividades que correspondiam, anteriormente, a mais de um profissional ou equipe.
Para formar esse raciocínio, suponhamos que, hipoteticamente, voltássemos instantaneamente ao nível de atividade econômica anterior à recessão e perda de empregos; mesmo assim, nem todos os empregos e cargos seriam recuperados, em função desse “ganho relativo de produtividade”.
Em outra vertente, muitas das grandes corporações industriais, momentaneamente, tiveram que efetuar significativas demissões. Após isso, investiram na modernização de suas linhas de produção e não necessitarão mais do mesmo número de operários, quando da retomada.
Há ainda a questão da inovação tecnológica global. Mesmo no Brasil, há uma carência de profissionais em certas áreas, carência esta que não está sendo suprida facilmente.
Conclusão
O investimento virá antes do emprego, desde que prossigam as condições favoráveis para a atração dele. Assim, a recuperação, não se dará na velocidade esperada, porém, com taxas de juros mais baixas, a retomada da produção e do crédito, espera-se um crescimento sustentável que deverá provocar um ciclo virtuoso na economia do país, desde que não haja grandes fatores desfavoráveis na economia mundial e na política interna.
Artigo escrito por Jorge Augustowski, sócio da Lexus Consultoria e CEO da Wisdom Technology, foi professor universitário e é o Head de Economia e Finanças da ANEFAC.
*As opiniões e informações contidas nesse artigo são de responsabilidade do autor.