Em 2020, crescimento do PIB do Brasil deverá ser da ordem de 2,5%

Roberto Vertamatti, conselheiro da ANEFAC
A economia brasileira em 2019 iniciou uma lenta recuperação. Não podemos deixar de mencionar que, anteriormente, o Brasil passou por gestões que premiavam o imediatismo, além de terem aumentado de forma significativa os gastos do governo. Este quadro de elevado aumento dos gastos públicos, de ineficiências e do gigantismo do Estado, pontualmente, tornaram o Brasil um país de difícil equacionamento fiscal. Com dificuldades, o atual governo tem alterado este quadro, mas muitos dos ajustes dependem do Congresso Nacional.
A inflação, uma das principais preocupações da nossa população, está sob controle. A Selic está em níveis baixos, jamais experimentados. Sem dúvida precisamos de várias outras reformas, que diminuam de forma importante os gastos públicos em todas as esferas de governo. A reforma da Previdência, ainda que insuficiente, ao meu entender, aconteceu, mas é o que pode ser feito agora. Virão a reforma Tributária, a reforma da gestão pública federal e outras.
Em função do cenário internacional e com algumas pressões internas, mais por aspectos políticos, o cenário para o dólar não está tão tranquilo para 2020. Não creio que haja qualquer desvalorização abrupta, mas teremos que conviver com o dólar mais apreciado no próximo ano.
No cenário internacional, teremos, ao final de 2020, a eleição presidencial nos Estados Unidos que poderá trazer alguma instabilidade.
A China deverá crescer em 2020 um pouco abaixo de 6%, número mais baixo das últimas três décadas. A perspectiva de crescimento mundial para 2020, segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), está em 2,9%, ligeiramente inferior aos 3% previstos para 2019. Os Estados Unidos deverão crescer ao redor de 2% em 2020.
A paridade do dólar em relação às outras moedas, inclusive a brasileira, deverá sofrer pressão por valorização, como resultado da situação política mundial. É provável um aumento dos juros nos Estados Unidos.
Nossa economia e perspectivas
Continuamos com a expectativa de uma redução do estado brasileiro, ainda que parte da população não tenha a exata compreensão deste fato. Nossa carga tributária é muito elevada e deverá, ainda que marginalmente, iniciar um processo de redução, uma das metas do presidente Bolsonaro. Mas, esta redução não acontecerá no nível que necessitamos, a não ser que tenhamos uma reforma Tributária profunda, precedida de reduções necessárias da máquina pública.
Acreditamos que as perspectivas são positivas para a economia brasileira em 2020 e deveremos ter um crescimento da ordem de 2,5%, apesar do cenário internacional não contribuir para isto. Na Argentina, não é possível prever os rumos do novo governo, sob o ponto de vista econômico, em um ambiente bastante complicado, com possível adoção de medidas heterodoxas, como congelamento de preços, podendo afetar a balança comercial com o Brasil.
A retomada de uma política externa muito mais pragmática, na busca de acordos com países desenvolvidos e grandes nações está correta e vai trazer resultados positivos para o Brasil em pouco tempo.
Com relação ao crédito, deveremos continuar em um processo de crescimento, em especial pela aprovação do cadastro positivo, além de uma Selic bastante satisfatória e, contando com a retomada da confiança dos agentes econômicos.
Na infraestrutura, os leilões e concessões deverão continuar acontecendo, favorecendo a recuperação do emprego neste importante segmento.
As commodities, importante pauta de exportação do Brasil, não deverão ter aumentos de preços, a não ser em casos pontuais em função de alguma seca ou problema climático diverso.
Em função deste quadro e pelos atuais indicadores econômicos, a perspectiva é que nossa economia deverá ter um crescimento mais consistente em 2020, podendo chegar a 2,5%, apesar, como comentei, do cenário internacional morno.
As mudanças históricas que tanto queremos para o Brasil, dependem, acima de tudo, de uma consciência maior da população e, isto somente será alcançado, com a melhoria continuada da educação.
Recomendação (já feitas anteriormente, nas quais devemos insistir):
Reitero aqui duas propostas que, com certeza, melhorariam e, muito, o desempenho da economia brasileira:
– O fim da estabilidade do funcionalismo público com a criação de um novo poder Administrativo e, sem a influência política (vários países desenvolvidos funcionam desta forma).
– Além disto, seria importante fazermos um novo pacto federativo, onde as receitas de hoje: 70% do governo federal, 25% dos estados e 5% dos municípios, fossem alteradas para: 40% para o governo federal, 30% para os estados e 30% para os municípios. A saúde, a segurança e a educação deveriam ser, totalmente, de responsabilidade dos estados e municípios, sem ajuda por parte do governo federal, a não ser em caso de eventos adversos, como, por exemplo, uma catástrofe climática. É evidente que este é um processo que leva algum tempo, mas é necessário percorrer este caminho para termos um país desenvolvido.
Artigo escrito por Roberto Vertamatti que é professor, sócio da Apus Consultoria e conselheiro da ANEFAC.
*As opiniões e informações contidas nesse artigo são de responsabilidade do autor