Cidades e país devem estar preparados para uma população que vive cada vez mais, isso vai além da aposentadoria
Por Nilton Molina*
Presente na vida de cada um dos quase 210 milhões de brasileiros, a longevidade impacta em diferentes aspectos no país, como, por exemplo, saúde, previdência, economia, emprego e habitação. Mesmo tendo tanta importância econômica e social, parece que ela está em um ponto cego. Sociedade e governantes precisam despertar para os desafios que a longevidade apresenta no presente.
Já ouvi muitas pessoas dizerem que longevidade é ‘papo de velho’. No alto dos meus mais de 80 anos eu sinto ter que contradizer este pensamento: este problema é de todos, inclusive dos jovens. Afinal, é preciso desassociar os conceitos de envelhecimento e longevidade. Este segundo é o fenômeno pelo qual estamos passando: o brasileiro está vivendo e vai viver cada vez mais.
Para quem ainda não se convenceu que longevidade também impacta os jovens, convencerei você com apenas uma palavra: aposentadoria. Não cabe a mim fazer juízo de valor sobre a administração da previdência pública, mas convido a uma reflexão. A lei nº 8213/91 dispõe, dentre outros pontos, da concessão de benefício previdenciário por idade mínima para homens (65 anos) e mulheres (60 anos).
Vamos a alguns números. No ano de 1990, a esperança de vida ao nascer média era de 66,6 anos. Já a expectativa de sobrevida para quem chegava em 1990 com 65 anos era de mais 14 anos. Hoje, quem completa 65 anos deve viver, em média, pelo menos mais 18 anos. Mas a que conclusão chegamos com estes números? Este aumento da longevidade do brasileiro impacta diretamente nas contas previdenciárias, uma vez que o cidadão segue contribuindo a mesma quantidade de tempo para o recebimento do benefício por um período cada vez mais crescente.
Também ressalto outra discussão importante em torno da longevidade: as cidades. Os municípios devem estar mais preparados para uma população que ficará cada vez mais grisalha. Sob este aspecto, o Índice de Desenvolvimento Urbano para a Longevidade (IDL), desenvolvido pelo Instituto de Longevidade Mongeral Aegon (https://www.youtube.com/watch?v=O6o3EJv-E90), o qual presido, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, é uma boa ferramenta de gestão.
O IDL avaliou 498 cidades de todas as regiões do Brasil considerando mais de 60 indicadores segmentados em sete variáveis. O estudo mostrou que o país ainda tem muito o que melhorar quando o assunto é ter municípios preparados para uma população cada vez mais longeva. Mas, novamente, por que isso interessa aos jovens? A resposta é igualmente simples. Uma cidade planejada e pensada para uma pessoa mais velha, que tem naturalmente mais dificuldades e necessidades, estará boa para toda a sociedade.
Um terceiro ponto que não deve passar às margens da discussão é a questão do trabalho. É notório que o país precisa desenvolver meios que promovam a retomada do emprego. São mais de 12 milhões de pessoas que buscam uma ocupação formal e não encontram. Agora imagine esta situação para uma pessoa mais velha. Não precisamos ir tão longe, aquela que já passou dos 50, por exemplo.
É de extrema importância que este debate leve em consideração a inclusão destes profissionais maduros no mercado de trabalho. A primeira grande barreira para isso é o etarismo, que deve ser combatida por empresas e governo, possibilitando a integração e o convívio intergeracional.
Eu aproveito o momento e me uno às milhões de vozes no Brasil que clamam por união. Mas não apenas aquelas ideológicas, mas também como de empresas com governo e sociedade; crianças, jovens, adultos e mais velhos para a construção de um país mais bem preparado para os desafios da longevidade. Afinal, viver mais é a nossa melhor realidade.
* Nilton Molina é presidente do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon
ANEFAC busca conscientização nos novos e velhos modelos de negócios
A longevidade dos brasileiros vai exigir maior economia para arcar com gastos maiores, isso tanto de pessoas como de cidades e de países. A saída será ter mais disciplina, guardar mais dinheiro e começar o mais cedo possível. É preciso fazer um bom planejamento dos gastos ao longo da vida, levando em conta também os hábitos de consumo que mudam com o passar dos anos.
Isso afeta a vida no presente e afetará no futuro e em consequência a economia no país, por isso, a ANEFAC entra na discussão e como entidade que congrega executivos tem a necessidade de trazer informação a todos os seus associados e parceiros sobre o assunto. O Brasil precisa melhorar muito a conscientização da população e a sua própria mentalidade sobre o assunto. Reestruturar a previdência por si só não resolve o problema, é preciso repensar a nossa forma de viver e de sociedade. Sermos mais proativos no sentido de trazer soluções para a construção dos novos modelos de negócios, que tenham o fator longevidade em conta.