Mudanças devem ocorrer em nichos específicos
Modalidade de serviço que vem ganhando muitos adeptos no mercado financeiro, os bancos digitais vêm crescendo no Brasil exponencialmente. Na visão de Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo de estudos e pesquisas da ANEFAC, esse avanço é enorme e positivo, pois com tecnologia e eficiência estão trazendo redução de custos, competição e redução da burocracia existente. “É uma realidade que veio para ficar e tem levado, inclusive, as instituições financeiras tradicionais a igualmente criarem seus bancos digitais de forma a poderem competir com estas novas Fintechs. Naturalmente ainda estamos no início desta nova tendência que chegou por aqui a partir de 2016, mas com grande potencial de crescimento tanto do número de novos bancos digitais bem como no volume de operações que ainda é pequeno”, diz.

Caio Ibrahim David, Itaú Unibanco
“Estamos sempre atentos aos movimentos do mercado, aprendendo o que podemos fazer para atender os clientes de forma cada vez melhor. A competição é sempre saudável para todos, mas as exigências legais devem ser atendidas por todos pela segurança do sistema. No Itaú Unibanco optamos por não criar um banco 100% digital porque entendemos que precisamos estar permanentemente em transformação no mesmo banco”, aponta Caio Ibrahim David, diretor-geral de Atacado do Itaú Unibanco e CEO do Itaú BBA.
De acordo com Ibrahim, os clientes possuem diferentes necessidades, que variam em função do seu perfil e momento de vida. “Por esse motivo, nosso posicionamento no mundo digital visa potencializar a ampla gama de soluções oferecidas. O cliente já pode utilizar os canais digitais do banco do início ao fim, falar com especialistas pelo telefone, ou buscar apoio na agência, como preferir ou precisar”, analisa.
A questão da busca por menos burocracia e baixas tarifas são alguns dos atrativos dessas modalidades. Para Oliveira, o grande apelo é justamente no barateamento de custos onde estas instituições digitais isentam os clientes de tarifas e no que se refere a uma menor burocracia já que tudo é feito automaticamente e de forma digital. Além disso, ele vê outro fator preponderante: a rapidez nas operações.
“No passado vimos, por exemplo, na introdução do chamado crédito consignado, o empréstimo pessoal com a garantia de salários e benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que as instituições menores ou financeiras aderiram fortemente. Na oportunidade, as grandes instituições financeiras entenderam que não deveriam aderir, pois já ofereciam o empréstimo pessoal em suas agências e se aderissem a este modelo, que cobra juros menores dos clientes exatamente porque têm uma garantia maior, estariam abrindo mão de um spread maior que era praticado no empréstimo pessoal tradicional”, analisa o diretor executivo da ANEFAC.
Porém o que ocorreu foi que as grandes instituições financeiras que não faziam o empréstimo consignado começaram a perder clientes que buscaram essa modalidade exatamente por ter taxas de juros bem menores. Isto acabou fazendo com que as grandes instituições financeiras percebessem a necessidade de também oferecer a seus clientes o empréstimo consignado. Hoje, de acordo com o diretor da ANEFAC, os maiores financiadores na linha de crédito consignado são as grandes instituições financeiras.
“Inicialmente as grandes instituições financeiras viram na criação das Fintechs um nicho de negócio específico, mas não pensando em mudar suas estruturas. Porém se deram conta da importância deste modelo quando constataram um volume cada vez maior de clientes aderindo aos bancos digitais fazendo com que começassem a criar seus próprios bancos digitais o que já vem ocorrendo hoje”, explica.
Só para se ter ideia, o Itaú Unibanco superou recentemente a marca de 11 milhões de clientes Pessoa Física que utilizam os canais digitais do banco, um contingente quase equivalente a toda a população da cidade de São Paulo. Nos últimos dois anos, o crescimento dos clientes digitais foi da ordem de 30%, e a média diária de clientes que acessam o site e os aplicativos mobile do banco teve incremento de 35% no mesmo período, de acordo com o Q&A do balanço 1T19 do banco.
Competição no sistema financeiro se reproduz em menores custos aos consumidores

Miguel José Ribeiro de Oliveira, ANEFAC
A materialização mais recente dessa evolução é o ITI, plataforma digital de serviços financeiros que o Itaú Unibanco anunciou recentemente e estará disponível no segundo semestre. “O ITI será a maneira mais fácil e barata para que uma pessoa – bancarizada ou não – ou empresa – receba e transfira seus recursos. Os pagamentos podem ser realizados pelo ITI em estabelecimentos comerciais ou entre usuários de maneira instantânea, 24 horas por dia, por meio de QR Codes. A plataforma, que dispensa o uso de maquininha e cartão físico, também garante aos lojistas, autônomos e empreendedores o recebimento de suas vendas na mesma hora”, vislumbra Ibrahim.
Em termos de economia, os bancos digitais estão trazendo uma grande contribuição e alteração dos costumes dos consumidores seja porque efetivamente trazem custos menores de tarifas seja pelo fato de que acaba provocando na inclusão bancária na medida que muitos destes novos clientes não estavam no mercado bancário. “Agora a grande contribuição se dá por provocar uma maior competição no sistema financeiro o que se reproduz em menores custos aos consumidores, menor burocracia e eficiência em suas operações”, observa Oliveira.
De fato, estes novos bancos digitais oferecem contas sem tarifas, cartões de crédito sem anuidade, aplicações com taxas de retorno maior e menores taxas de administração. De acordo com ele, tudo isto é possível em virtude do baixo custo na medida que não precisam manter estruturas físicas de agências e funcionários o que reduz bastante seus custos. “Naturalmente o volume atual de bancos digitais ainda é muito pequeno, mas a tendência é que isto cresça o que permite uma maior competição no sistema financeiro com melhoria dos serviços e redução dos custos ao consumidor. “Agora naturalmente tendo em vista as grandes posições dos bancos tradicionais em volume de operações, ativos, clientes, empréstimos etc. não vislumbro que as grandes instituições financeiras possam perder suas posições. Acredito que manterão a liderança, entretanto tendo uma parte menor sendo canalizado para os bancos digitais”, salienta.
No Itaú Unibanco, mais de 80% das transações acontecem por meio de canais remotos – Internet banking e mobile. Para Ibrahim, a era digital é oportunidade para quem investe para evoluir junto com ela. O banco tem feito desenvolvimentos expressivos em tecnologia nos últimos anos, abrangendo Cloud, APIs, Blockchain, Inteligência Artificial, meios para que os clientes tenham suas vidas facilitadas por serviços e produtos inteligentes. “Aliada ao nosso modelo de trabalho em comunidades, a tecnologia permite importante ganhos em eficiência, time-to-market e qualidade. Em 2018, aumentamos em 138% a entrega de projetos de tecnologia e reduzimos em 19% o time-to-market desses projetos de acordo com o Q&A do balanço 1T19. Temos também feito uso extensivo e intensivo de dados, que têm se tornado um elemento fundamental para melhorar a qualidade dos nossos modelos e para nos ajudar a antecipar as necessidades dos nossos clientes”, evidencia o diretor-geral do Itaú Unibanco.
Para Oliveira, a competição será muito benéfica tanto para o segmento em si como principalmente para os clientes em melhores serviços e principalmente na redução dos custos cobrados. E adverte: assim veremos no decorrer do tempo os bancos tradicionais reduzindo os custos de suas tarifas para reter estes clientes. “Isto já é visível no mercado, mas como o volume ainda não é suficientemente grande este processo deve demorar mais. Não acredito em mudanças substanciais no modelo de negócio, mas mais em nichos de mercado qual seja as grandes instituições retendo mais clientes grandes e corporativos e os bancos digitais em pequenos clientes e clientes de mercado mais informal”.
Mesmo com a tecnologia, Ibrahim entende que enquanto existir a necessidade de o cliente ir até uma agência, é importante continuar investindo nesse tipo de atendimento. “Justamente por isso, aprimoramos o modelo das agências físicas, trazendo elementos digitais para novas soluções de distribuição do fluxo de pessoas e salas de videoconferência, para conectar clientes de todo o país diretamente a especialistas. Queremos oferecer cada vez mais conveniência na vida do cliente para auxiliá-lo nas questões financeiras, e a evolução tecnológica está aí para ajudar nesse relacionamento, sempre respeitando a escolha do cliente”, finaliza.