Especialista aponta necessidade em renunciar gastos no presente para investir em um futuro econômico tranquilo
As mudanças demográficas do Brasil não são segredos. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 1980, a expectativa de vida do brasileiro era de 62,6 anos. Quase 40 anos depois, em 2018, a expectativa saltou para 76 anos. O país também passa por uma redução da taxa de fecundidade: de 4,1 em 1980 para 1,7 em 2015, inferior à taxa de reposição. De acordo com Ari Ruys, superintendente regional São Paulo da Mongeral Aegon: Seguros e Previdência, isso impacta muito a forma na qual a gente planeja e se prepara, no presente, para um futuro confortável.
“Não chamaria de problema esse cenário, mas um ponto de atenção. Viver mais é excelente. No entanto, o fenômeno da longevidade impacta uma série de questões. A previdência, como estamos vendo hoje, é uma delas. Para trazer ao debate questões de ordem demográfica e social, é simples verificar que nos anos 60, a razão de trabalhadores da ativa versus aposentados era 12 para 1”, explica.
Em 2000, esta proporção caiu para aproximadamente 4 para 1. Caminhamos para uma razão de quase dois contribuintes para cada um pensionista ou aposentado. Para Ruys, essa realidade ainda não contempla o futuro de curto prazo do fenômeno da longevidade que sobre o aspecto social é muito positivo, mas representa grande impacto econômico. “Os cálculos atuariais ainda não conseguem capturar o grande salto de expectativa dos anos de sobrevida depois da aposentadoria dos brasileiros. Está claro, no entanto, que teremos cada vez mais pessoas aposentadas gozando dos benefícios por mais tempo sem que suas contribuições tenham sido calibradas para isso”, adverte.
O mundo, em linhas gerais, está se tornando mais maduro. Já pudemos acompanhar fenômenos semelhantes em países como o Japão e algumas nações da Europa. Mais perto do Brasil, também podemos citar o Chile como exemplo. Segundo o superintendente, a grande questão é a forma pela qual estes países encaram esta nova realidade e fazem as mudanças necessárias para garantir a qualidade de vida, econômica e a sustentabilidade de seus modelos.
Diante disso, não se sabe ao certo, não existem dados que mostram se as pessoas estão ficando mais no mercado de trabalho, mas para ele, o que podemos perceber, no entanto, é que elas estão cada vez mais ativas. Isso naturalmente vai refletir na permanência no mercado de trabalho – seja formal ou informal – por mais tempo.
Esse viver mais do ser humano, não só no Brasil, mas em muitos países, tem se tornado um grande ponto de discussão. “O país está em um momento que debate formas para garantir a sustentabilidade do sistema público de previdência. As pessoas estão vivendo cada vez mais e cada vez menos estão no mercado formal de trabalho, o que impacta diretamente a receita da previdência. Neste ponto, como podemos acompanhar as propostas que circulam no Congresso, trarão algum tipo de restrição de benefício, seja na aposentadoria ou em pensões, por exemplo”, cita.
Dessa forma, é preciso que o país debata amplamente com a sociedade o tema e encontre saídas que garantam não apenas a sustentabilidade financeira do sistema público de previdência, mas, também, a retomada do crescimento econômico do Brasil. Como resolver o problema da previdência no país? É a pergunta do momento, Ruys acredita que realmente todos os economistas gostariam de ter a resposta. “Vou me ater a alguns pontos que devem ser pensados e considerados neste debate: aumento da expectativa de vida do brasileiro (fenômeno da longevidade), expectativa de sobrevida do brasileiro, taxa de fecundidade, proporção de ativos versus inativos e regime financeiro da previdência pública”.
Uma alternativa que tem está se sobressaindo é a previdência complementar e até mesmo o mercado de seguro de pessoas que entra como opção para auxiliar o brasileiro a compor e complementar o seu planejamento financeiro para o futuro. “A previdência privada está ligada à preocupação que a pessoa tem em renunciar a alguns gastos no presente para investir em um futuro econômico tranquilo. Desta forma, posso afirmar que está mais vinculado com cultura financeira do que poder aquisitivo. Claro que pessoas que não contribuem com a previdência como profissionais liberais e pessoas que têm rendimentos superiores ao teto do que é pago pelo INSS devem redobrar a atenção”, pondera.
Em termos de planos, o superintendente da Mongeral Aegon, avalia que as taxas pagas as empresas para a previdência privada estão cada vez mais competitivas. Ele entende que este cenário de altas taxas de carregamento e saída não existe mais, pois o mercado oferece uma série de alternativas, mas é importante que cada pessoa deve pensar nos custos que terá no futuro e os planos. Quanto antes começar, mais tempo de acumulação tem e menos precisa investir mensalmente. “Este é o grande segredo da previdência privada. Dificilmente as pessoas conseguiram se aposentar com o valor máximo do INSS, o que é mais um fator relevante na hora de se planejar para o complemento privado da aposentadoria”, finaliza.