Alunos contam sobre o processo de escolha do Troféu Transparência ANEFAC® e apontam sua importância e relevância para a governança corporativa, para a captação de recursos e para os investidores
“Um povo que não conhece sua história está condenado a repeti-la”, essa frase, de Edmund Burke, foi usada por Raone Turco, mestrando do programa de pós-graduação em controladoria e contabilidade (PPGCC) da FEA-USP, para explicar o objetivo do Professor Dr. Ariovaldo Santos ao convidar os mestrandos e doutorandos do programa do PPGCC a revisar os balanços publicados das empresas para o Troféu Transparência ANEFAC®. “Assim como eu, muitos dos pós-graduandos cursavam à época a matéria Contabilidade Societária, revisando o estado da arte da contabilidade no Brasil e no mundo, bem como sua evolução desde os tempos de Luca Pacioli. Quando chegamos à metade do curso, nos foi oferecida a oportunidade de participar, ativamente, da revisão dos balanços – uma oportunidade única -, especialmente para mim que, mesmo sendo formado em contabilidade, segui para o segmento gerencial”, conta.
“Foi uma experiência agregadora de conhecimento e gratificante de ver a contabilidade sendo valorizada por intermédio deste Prêmio promovido pela ANFAC. Além de uma experiência nova a de avaliar os balanços de vários tipos de empresas e poder ver na prática o resultado final do processo contábil dessas empresas”, diz Carlos Ribeiro, mestrando em controladoria e contabilidade no PPGCC da FEA-USP.
Além disso, para Robson Pereira, aluno de doutorado no PPGCC da FEA-USP e tutor no EAD da Faculdade FIPECAFI, a experiência de participar no processo de avaliação das demonstrações financeiras premiadas no Troféu Transparência ANEFAC® foi única e engrandecedora. Ele cita que, além da interação com os professores Eliseu Martins e Ariovaldo dos Santos, autores do Manual de Contabilidade da FIPECAFI, também foi uma oportunidade de interação com os demais colegas, com seus diversos expertises, e um aprofundamento no entendimento do modelo de negócios e das demonstrações financeiras das companhias que foram entregues.
“Como avaliadores no Troféu Transparência ANEFAC®, viabilizado pela parceria entre ANEFAC, PPGCC/FEA-USP/FIPECAFI, tivemos uma oportunidade de observar as DFs de empresas sob um outro ângulo e com uma lente mais crítica. A avaliação das DFs, de companhias candidatas ao Prêmio, ocorre no decurso da realização de disciplinas, específicas, voltadas para a temática da contabilidade para o usuário externo como é o caso de Contabilidade Societária e Análise das Demonstrações Contábeis”, pontua Flávio Riberi, mestrando em controladoria e contabilidade no PPGCC da FEA-USP.
O processo consistiu na avaliação por parte dos alunos, Ribeiro explica que cada um ficou responsável por analisar as demonstrações financeiras de aproximadamente seis empresas e montar um relatório da análise de cada e apresentar para os demais alunos. “A cada bloco, cada aluno recebia alguns balanços, os quais deveriam ser revisados e entregues aos coordenadores do processo, junto com um formulário indicando a reprovação ou aprovação do balanço. Os balanços, por sua vez, seriam encaminhados para outros avaliadores na rodada seguinte – fornecendo múltiplas revisões aos coordenadores. Conforme avançávamos nas avaliações, nos aprofundávamos ainda mais nas demonstrações financeiras – um reflexo da incorporação de mais temas à nossa gama de conhecimentos e como consequência, as horas passadas em frente aos balanços se tornaram dias”, detalha Turco, que é bacharel em contabilidade.
Robson, que foi analista sênior na edição da Exame Melhores & Maiores 2018 e analista no Troféu Transparência ANEFAC® em 2016, explica que o trabalho foi dividido entre duas disciplinas de mestrado e doutorado da FEA-USP e organizado em rodadas. Sendo assim, todos tiveram um prazo adequado para a análise e avaliação das DFs recebidas. “Além disso, em um horário durante a aula, ocorriam as devolutivas e todos os alunos acompanhavam os critérios utilizados para aprovação e reprovação para cada companhia. O formato de rodadas, também, permitiu uma comparação dos avaliadores com os respectivos pares e com as empresas já avaliadas, anteriormente, o que aumenta o nível de qualidade da avaliação e dos critérios utilizado para a seleção”, relata.
Foi muito interessante a participação no processo, acredita Ribeiro, que possui experiência no setor contábil de empresas nacionais e multinacionais, e, ainda complementa: podemos fazer uma análise comparativa, identificar as diferenças e os pontos positivos e negativos das demonstrações financeiras de cada empresa. Para Turco, que possui experiência em tax, consultoria financeira e comercial, a participação no processo reforçou a clara discrepância na qualidade das DFs revisadas. “Se o propósito da contabilidade é comunicar e “contar uma história”, haviam empresas que executavam essa função com excelência, por meio do balanço, DRE, DFC e DVA, os principais acontecimentos do ano, outras empresas pareciam se “esquivar” dessa responsabilidade, explicando apenas, superficialmente, seus principais números, enquanto outras pecavam em somas erradas ou números que não se reconciliavam com as notas explicativas”, avalia.
“É um trabalho que acaba por ocorrer em um momento oportuno com uma turma composta por alunos com diferentes formações (embora a maioria seja de contadores), mas que estão engajados em aprofundar seus conhecimentos em uma destas disciplinas. Há um método consolidado, e com experiência de longa data, desenvolvido pelo Prof. Ariovaldo dos Santos para realizar as rodadas em que são avaliadas as DFs”, diz Riberi, que é bacharel em ciências contábeis e economia. Ele ainda acredita que a avaliação, além de ser realizada em um ótimo momento no decurso da disciplina, possibilita aos alunos avaliarem com vigor crítico as DFs e sob a perspectiva dos usuários externos, a saber que há independência na avaliação pelos alunos. E defende: em sala de aula se constrói um elo importante entre discussões teóricas e conceituais com aquilo que é o resultado final de todo um esforço das companhias abertas para publicar da melhor forma suas demonstrações financeiras.
Como pontos positivos, Pereira, que é bacharel em ciências contábeis, cita os aspectos qualitativos das demonstrações financeiras, ou seja, se elas são relevantes e se representam, fidedignamente, o modelo de negócios da companhia. “Na cerimônia de premiação o Prof. Ariovaldo até comentou: Se a empresa estiver quebrada e for transparente quanto a esse fato ela concorrerá normalmente. Por outro lado, a maioria dos pontos negativos tiveram relação com falta de clareza nas informações, excesso de dados irrelevantes, repetições e aspectos que possam confundir ou deixar em dúvida o leitor das DFs. Tais pontos negativos foram considerados desde o Relatório da Administração até a último item das DFs”, explica.
Complementando, Ribeiro destaca os relatórios da administração que em geral eram bem formulados e continham muitas informações relevantes sobre a empresa e o seu desempenho financeiro do período. “Já como negativo posso indicar as notas explicativas das empresas que em grande parte eram muito extensas e com informações redundantes e desnecessárias, ou seja, pecaram na objetividade. Acho, o Troféu Transparência ANEFAC® uma importante ferramenta de reconhecimento do trabalho da contabilidade e de incentivo a melhoria da qualidade da informação contábil reportada”, enumera.
Ao apontar a relevância do Troféu Transparência ANEFAC® para o mercado, Pereira considera o Prêmio de grande importância tanto para a sociedade quanto para as empresas e os seus contadores. Para a população, ele acredita, que independente de ser acionista ou não das companhias, todos são potencialmente afetados pela falta de transparência, seja pelo risco aos empregados, aos fornecedores ou até mesmo ao meio ambiente por informações ocultadas ou distorcidas. “Já para as empresas há um estímulo de transparência para a conquista do Prêmio e divulgação como um diferencial. E como profissional da área contábil há sempre uma brincadeira em considerar o Troféu Transparência ANEFAC® como o ‘Oscar da Contabilidade’, por ser uma premiação dupla, para o executivo da empresa e para o respectivo profissional da contábil”, aponta.
Turco, que atualmente é GCB LatAm business manager em grande banco americano, acredita, que como usuário, o processo foi elucidativo sobre a grande assimetria informacional ainda presente no país entre agente e acionista. “Se levarmos em conta que as demonstrações são, primariamente, focadas nas necessidades de investidores e credores, entenderemos porque os mercados de capital e de crédito no país não são tão desenvolvidos – como investidor, não me sentiria seguro em investir em algumas das empresas revisadas. Já como contador, me sinto corresponsável”, ressalta.
De acordo com o bacharel em ciências contábeis, Ribeiro, a avaliação das DFs se torna importante para o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro que ainda é pouco desenvolvido, já que informações com maior qualidade e confiabilidade têm o potencial de atrair novos investidores. Em consonância, Pereira, que há 10 anos atua na área contábil em empresas de diversos segmentos, entende que o mercado de capitais está crescendo no Brasil, a estrutura está crescendo assim como a mentalidade do brasileiro em investimento está mudando. Para ele, todo esse processo, além de valorizar a profissão contábil, torna o processo de publicação das DFs ainda mais relevante para a governança corporativa e para fins de captação de recursos no lado da companhia e para os possíveis investidores é uma das principais formas de avaliação e análise de desempenho e possibilidade de projetar futuros fluxos de caixa. “Desse modo, a avaliação de uma publicação no sentido de sua relevância e transparência é de total relevância para o mercado”, acrescenta.
Na opinião de Pereira: as empresas devem estar atentas a divulgação das suas demonstrações contábeis com base em seu modelo de negócios e não apenas em replicar um padrão ou modelo existente de relatório financeiro. “As normas de contabilidade estabelecem os requisitos mínimos de divulgação, desde que a informação seja relevante para o seu usuário. Demonstrações financeiras refletem a história da companhia naquele período e o que percebo é que ainda existem empresas que se preocupam em apresentar aos investidores o mínimo”, enaltece.
“As empresas devem estar atentas ao que é relevante divulgar em termos de informação no conjunto das demonstrações financeiras. Sabemos que a grande maioria das empresas possuem estruturas enxutas nos departamentos de Controladoria/Contabilidade e sempre há o desafio de cumprir prazos apertados para arquivamento de demonstrações financeiras junto ao órgão regulador”, diz Riberi.
Enquanto controller, trabalhando com o time em todo o processo de preparação de demonstrações financeiras, Riberi, que desenvolveu sua carreira em auditoria, explica que pesquisar empresas que tenham publicado DFs com bom nível de qualidade, e claro que a referência de um Prêmio, como o da ANEFAC, é algo sedutor para se buscar ler em profundidade as DFs destas empresas para saber o que há de diferente. “No entanto, devemos ter cuidado para identificarmos as práticas que podemos incorporar ao nosso processo de divulgação, pois o que é relevante para uma empresa, não necessariamente será relevante para aquela em que trabalhamos”, ressalta.
Roane avalia que o Troféu é necessário para reconhecer aqueles que se preocupam em transmitir a informação, um sinal para o mercado que a época do “minoritário” ficaram para trás. E acrescenta: num mundo de ERPs e automatização, a contabilidade ainda requer o fator humano, na forma de conhecimento e foco estratégico. “Num ambiente tão regulado, porém com muitas nuances, como o Brasil, o contador precisa trazer mais – ser mais que um “bookeper” para as empresas. Não há espaço para contabilidade criativa”, pondera.
“A premiação traz um vigor profissional aos preparadores da informação contábil, que, ao subirem no palco são merecidamente aplaudidos em reconhecimento ao trabalho de todo um ano. Ao mesmo tempo, acreditamos que o Prêmio tem o propósito de estimular, continuamente, as empresas para buscar a melhoria contínua de suas práticas”, finaliza Riberi.