Evento discutiu impactos dos avanços tecnológicos nos negócios e nas profissões
Por Nancy Assad
Aconteceu, entre 17 e 20 de maio em Porto de Galinhas (PE), a 20ª edição do Congresso ANEFAC com o tema “Inteligência Artificial – Impacto social, econômico e político”. De acordo com os debates estabelecidos durante os quatro dias de evento, foi consensual que tanto profissionais quanto companhias terão que enfrentar as mudanças impostas por essa nova era com ferramentas e recursos inovadores, que exigem aprendizado e desenvolvimento de competências.
O presidente da ANEFAC, Edmir Lopes de Carvalho, ressaltou o compromisso da entidade de acompanhar e levar aos associados e aos profissionais do segmento as tendências de mercado. “O papel da ANEFAC é disseminar conhecimento. Nossa marca é o trabalho sério, consistente e persistente que realizamos ao longo dos anos, e que, com certeza, continuará a moldar o nosso futuro”, destacou.
Segundo dados da IDC (International Data Corporation), os investimentos na transformação digital das companhias na América Latina deverão consumir cerca de US$ 57 bilhões até 2020, representando 40% das despesas com Tecnologia da Informação. Isso significa que as empresas estão sendo desafiadas a serem cada vez mais ágeis e competitivas para produzirem mais com menos recursos financeiros. “A transformação do negócio em função da evolução tecnológica dos mercados é um movimento inevitável. A evolução e os impactos da Inteligência Artificial não podem ser subestimados”, complementou o presidente.
Inteligência Artificial
O evento, que contou com um público formado por executivos, acadêmicos e profissionais das áreas de Administração, Finanças e Contabilidade, foi aberto com a palestra de Tomás Roque da Silva, sócio da PwC, sobre o atual cenário da Inteligência Artificial. “Estima-se que até 2030 a IA contribuirá com aproximadamente US$ 15,7 trilhões no aumento do PIB mundial, sendo a China e os Estados Unidos os maiores alavancadores, com 26% e 14%, respectivamente”, informou, tendo como base pesquisas da PwC desenvolvidas durante o ano de 2017.
Silva apresentou a utilização dos recursos de IA no dia a dia, indo desde um simples comando de voz pelo celular até a organização das imagens nos smartphones, capazes de reconhecer rostos, lugares, criar álbuns, entre outras funcionalidades. Pontuou, também, os desafios e oportunidades da IA nos diversos setores da economia.
De acordo com pesquisas da PwC sobre o tema, destacou que os três principais setores para aplicação de recursos tecnológicos em IA são: Saúde – diagnóstico de doenças, identificação antecipada de anomalia e melhoria nos diagnósticos de imagens; Automotivo – carros e caminhões autônomos, manutenção preventiva e monitoramento do funcionamento dos motores; e Serviços Financeiros – identificação de perfil de carteira de investimentos, detecção de fraudes, automação de operações de clientes.
Por fim, ele deu dicas voltadas para a liderança. “Automação e inteligência artificial afetarão todos os níveis do negócio, inclusive seu capital humano. É muito importante não deixar a área de TI, ou qualquer outra área, sozinha. Uma compreensão profunda e uma forte visão de mudança do cenário é uma obrigação”, alertou. Destacou ainda a importância de uma narrativa clara, já que um terço dos trabalhadores está preocupado com o futuro e com o seu trabalho devido à automação. “Uma ansiedade que destrói a confiança e a vontade de inovar. Comece uma conversa madura sobre o futuro, reforçando para os colaboradores o quanto influenciam seu negócio”, sugeriu. Indicou também foco no portfólio e seu valor agregado. Existem, de acordo com ele, muitas oportunidades com investimentos em Inteligência Artificial em todas as organizações. É importante, porém, manter o cerne no correto portfólio de iniciativas para garantir que o estágio final da aplicação da IA gere os resultados esperados, que o retorno do investimento planejado seja viabilizador da estratégia e aumente a eficiência operacional. Apontou ainda como fundamental a escolha correta de parceiros de negócio para ter os resultados esperados nessa área.
Inteligência Cognitiva
O segundo painelista, Luis Fernando Baroni, sócio-diretor da AI4U, falou sobre o mundo disruptivo e a importância de estar atento todo o tempo, estudar e aprender a linguagem do novo mundo. “Ganhará a competição corporativa aquele que tiver mais dados e souber interpretá-los”, pontuou. Dados que, segundo ele, estão disponíveis nas postagens cotidianas, globalmente. O êxito, acredita, virá pela agilidade e busca por parcerias estratégicas.
Baroni falou sobre as tecnologias atuais e suas possibilidades, abordando a Internet das Coisas, mídias sociais que inundam o sistema de dados, Big Data que os trata e oferece insights, e Icloud para armazenamento. O especialista apresentou a origem da plataforma Watson até os dias atuais, com o IBM Watson para negócios. O uso da tecnologia cognitiva Watson já beneficia algumas áreas corporativas, tais como RH, por exemplo, utilizando ferramentas de análise de comportamento para ajudar na contratação de pessoas; e Jurídico, na análise da ação de jurisprudência e tendências de ganho ou perda.
Para o executivo, é importante a tomada de consciência do momento histórico que vivemos, garantindo desapego aos modelos tradicionais de negócios que nos trouxeram até aqui. “A tendência é que muitas profissões sejam completamente modificadas pelo uso de IA. A revolução tecnológica gerou empregos e bons salários na sua evolução histórica e abriu portas para novos e importantes negócios empresariais”, disse. O grande desafio é estar preparado para desenvolver adequadamente as competências profissionais e corporativas neste novo cenário.
Transformação Digital: Plataformas e Mercados em Rede
Segundo Silvio Meira, da MuchMore Digital, o futuro é caracterizado por ondas de inovação que exigem competência, flexibilidade e adaptação para acompanhar as transformações mantendo o êxito. Em uma viagem pela linha do tempo da evolução tecnológica, o especialista partiu da década de 70 (quando havia muito hardware e pouco software), passou pela segunda onda digital (em que softwares eram a grande força) e pela terceira (quando o mundo começa a viver em rede, nos anos 90), até chegar aos dias atuais – a década do Application Programming Interface, que será a base para a criação de novas tecnologias e serviços em rede.
Meira abordou os impactos das mudanças que essa transição proporciona e como a nova era industrial está afetando a todos, inclusive as funções de profissionais nos processos de fabricação, distribuição e consumo. De acordo com ele, o futuro imediato contará com quatro elementos extremamente relevantes para todos os tipos de organizações: a Internet das Coisas, as Plataformas, os Mercados em Rede e a Transformação Digital. “Estamos num tempo onde a Internet permeia todas as instâncias da nossa vida. Praticamente tudo que está em rede pode ser transformado em um serviço interligado com muitos outros”, observou.
Segundo Meira, empresas como Spotify, Airbnb e Uber mostram que cadastros e acessos são patrimônios mais importantes, muitas vezes, que bens físicos e produção. A transformação digital, de acordo com ele, envolve estratégias, líderes e redes de valor, abrindo novas e importantes oportunidades de trabalho e negócios para todos.
IA e as aplicações sociais, econômicas e políticas
No segundo dia de atividades, Luís Artur Nogueira, jornalista, palestrante e editor de Economia da revista IstoÉ Dinheiro, moderou painel com participação de Carlos Tilkian, CEO da Estrela; Natan Szuster, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro; e Alessandra França, fundadora do Banco Pérola, ganhadores do Prêmio ANEFAC Profissional do Ano.
Tilkian pontuou a relevância da tecnologia na transformação do mundo, principalmente no universo infantil, bem como seus riscos e benefícios. Ele apresentou aspectos da vida moderna que muitas vezes dificultam a atenção constante de pais e mães em seus filhos e comentou a importância de ações de marketing que não sejam nocivas ao desenvolvimento das crianças. “As famílias devem atuar e não permitir o acesso irrestrito à rede, oferecendo orientação e exemplos éticos e morais, pois há muita informação circulando indiscriminadamente. Esse é um cuidado que todos os pais e familiares devem ter com a criança em toda a sua fase de crescimento”, alertou.
Szuster abordou como a IA aplicada à contabilidade está trazendo benefícios para a área. Entre eles, redução de custo operacional, melhoria na eficiência, automatização de processos e contribuição para que o profissional seja mais completo e estratégico nas organizações. “As características multifuncionais do profissional da área e o seu importante papel no cenário corporativo não permitirão que a profissão desapareça”, disse. Para ele, este profissional não deve ter receio de ser substituído pela tecnologia, mas deve acompanhar as mudanças e buscar desenvolvimento para permanecer no mercado. O profissional que digitaliza documentos, gera relatórios e executa fechamentos dá lugar ao profissional adaptado ao mundo tecnológico. “Além dos líderes corporativos quererem muito mais do que dados, eles querem ouvir a experiência, as melhores práticas e opiniões customizadas para amparar suas decisões”.
Na esteira das iniciativas modernas, Alessandra Gonçalves de França, fundadora do Banco Pérola, falou sobre a ousadia de oferecer crédito a quem mais precisa. Ela apresentou o Banco Pérola, Associação de Crédito ao Empreendedor Pérola, como um banco diferente dos tradicionais. Trata-se de uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, sem fins lucrativos, voltada à concessão de crédito para microempreendedores, microempresas e empresas de pequeno porte, que opera por meio de FIDC (Fundo de Investimentos em Direitos Creditórios). “Possuímos um canal direto com o investidor, o que proporciona taxas competitivas, serviço ágil e adequado ao tamanho das empresas atendidas. Somos uma alternativa de crédito para bons projetos e bons empreendedores que não conseguem crédito no sistema financeiro tradicional”, explicou.
Onde estamos e para onde vamos
Na palestra de encerramento, o jornalista e âncora do Jornal da Noite, na TV Band, Fábio Pannunzio fez uma retrospectiva do período entre 1990 e 2018, mostrando a dinâmica social, política e econômica brasileira a partir dos movimentos que impactaram o país com mudanças relevantes, como as Diretas já (1983/1984), os Caras Pintadas (1992) e o Passe Livre (2013).
Há, segundo ele, muitos interessados em participar da disputa eleitoral, porém, o cenário aponta incerteza política em um momento em que os julgamentos e as discussões do STF (Supremo Tribunal Federal) estão no foco de atenção da sociedade. “O Brasil pode acelerar o crescimento se o presidente eleito continuar as reformas e os ajustes implementados. Mas tudo ainda é incerto no cenário político, uma vez que, até o momento, temos apenas nomes, mas sem nenhuma definição”, afirmou.
Quanto aos prognósticos e cenários, o jornalista disse que as campanhas deste ano contarão com dificuldades adicionais, como limitação de recursos, tempo mais curto de campanha e modelos tradicionais de marketing político falidos. Finalizou falando que a incerteza do panorama político brasileiro atual contribui para que na área econômica o contexto ainda seja desfavorável, principalmente ao estar associado a um governo desgastado, o que gera um ambiente de estagnação.
Networking
Além da oportunidade de obter e transmitir conhecimento, debater ideias e soluções, o Congresso ANEFAC também é reconhecido como uma rara oportunidade de estreitar relacionamentos e praticar o networking. Como facilitadores, aconteceram eventos secundários que promoveram a integração entre o público participante e suas famílias. Na edição deste ano aconteceram passeios livres para conhecer a surpreendente paisagem local, praias, vilas, comércio, artesanato regional, piscinas naturais e os recifes de coral.
Prêmio ANEFAC Profissional do Ano 2017
Há 33 anos, o Prêmio ANEFAC Profissional do Ano dedica-se ao reconhecimento dos executivos que se destacaram nas áreas de Finanças, Administração e Contabilidade, contribuindo de forma significativa no desenvolvimento da profissão e das empresas. A partir de indicações feitas pelos associados da ANEFAC, um comitê avaliador define os ganhadores. “O profissional de hoje não é o mesmo profissional de antes. Com as mudanças que acontecem o tempo todo em nossa sociedade, é preciso antecipar tendências, planejar, diagnosticar e cumprir etapas. O mercado exige um novo perfil. A necessidade é de profissionais com múltiplos talentos”, observou Edmir Lopes de Carvalho, presidente da ANEFAC.
Nesta edição foram premiados Geraldo Luciano Mattos Junior, vice-presidente de Investimentos e Controladoria e Diretor de Relações com Investidores do Grupo M. Dias Branco S.A, na categoria de Finanças; Carlos Antonio Tilkian, diretor-presidente da Estrela e presidente do Conselho de Administração da Fundação Abrinq, na categoria Administração; e Natan Szuster, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na categoria Contabilidade. Alessandra Gonçalves de França, CEO do Banco Pérola, recebeu o reconhecimento de Jovem Destaque, nova categoria da premiação, que foi considerada a partir desse ano.
“Receber o Prêmio ANEFAC é um reconhecimento muito importante. Nós trabalhamos muito ao longo da carreira e, muitas vezes, não sabemos se estamos indo na direção certa. Com certeza, essa premiação mostra que sim”, declarou Mattos. Para Tilkian, o Prêmio reflete uma retrospectiva do legado e de tudo aquilo que se fez durante a vida profissional. “Uma premiação vinda de executivos do mercado, dos associados da ANEFAC, em um mercado tão competitivo, traz muita alegria. Agradeço o apoio da minha equipe e da minha família para poder me desenvolver como profissional e chegar até o dia de hoje”, declarou.
Szuster aproveitou para destacar a necessidade dos profissionais da contabilidade se manterem atualizados nas suas áreas de atuação, buscando sempre o seu diferencial com atitudes inovadoras. “Os profissionais da área vêm passando por transformações devido à necessidade de adicionar, ao caráter técnico da função, a habilidade de pensar de forma macro e tecnológica, uma vez que este profissional é responsável pela entrega de resultados e precisa ser parceiro da alta direção na tomada de decisão”, apontou.
Enquanto a Jovem Destaque Alessandra França expressou felicidade em ajudar pequenos empreendedores com seu trabalho e, a partir disso, receber reconhecimento. “É uma satisfação profissional e pessoal imensa pela importância que o Prêmio representa e pelo desafio que tive que superar, como mulher da área de marketing, na atividade financeira. O êxito em poder contribuir com a realização de sonhos e negócios e superar as dificuldades para ser, hoje, uma profissional que atua em Finanças, sendo reconhecida por profissionais da área, é motivo de comemoração”, ressaltou.
Em 2019 tem mais
O clima de amizade e integração, o cenário paradisíaco e as atividades do Congresso deixaram a partida mais difícil. Mas em 2019 tem mais. Para o habitual participante do Congresso, Ari Torres, sócio-fundador das empresas KNTS e Ari Torres Advogados Associados, suas participações desde 2002 (em Campos do Jordão) representam, além de atualização técnica e passeio pelos excelentes lugares onde os eventos são realizados, uma oportunidade para rever os amigos. “Neste ano eu destaco o exemplo da Alessandra Gonçalves de França, que tão jovem já é fundadora do Banco Pérola e mostra que é possível trabalhar por um Brasil melhor. A ANEFAC, mais uma vez, supera as expectativas, olhando sempre para o futuro. Parabéns pelos 50 anos!”, celebrou.
Marisa Koga, CEO da Assurance Traduções Contábeis, destacou a importância de apoiar o Congresso pelo valor que ele agrega na atualização de temas fundamentais para o mundo corporativo. “Nossa empresa é especializada em traduções contábeis e financeiras. Utilizamos a IA tanto em nossos processos internos quanto nas traduções. Receber informações valiosas sobre o mundo digital e como nos inserirmos nele foi fundamental”, apontou.
Conhecer percepções e necessidades do mercado e no que a tecnologia pode contribuir foi um dos pontos destacados por Andre Berbel, da Eleeva IT. “Nossa empresa atua na transformação digital. Um evento estruturado, focado no presente e no futuro do mundo digital, é relevante para a vida corporativa tanto da nossa empresa quanto das demais presentes no evento. Por essa razão, apoiamos e estamos presentes no Congresso”, disse.
A congressista Daniele Souza da Silva, que trabalha na Contabilidade Tributária da Petrobras, participou pela primeira vez e disse que pretende voltar. “Tudo muito inspirador, em especial a premiação Jovem Destaque e a motivação de ter um olhar voltado para o futuro”, considerou.
Para Priscilla Bueno Hora Parodi, que palestrou sobre IBM Watson, chamou atenção a boa organização, ótima estrutura e os participantes engajados no Congresso. “O tema escolhido foi extremamente inovador e mostra como a ANEFAC está sempre olhando para o futuro”. Ela abordou o conceito de IA e demonstrou sua utilização na prática nas áreas de Contabilidade, Finanças e Administração. “O retorno dos congressistas foi excelente, todos interessados em como alavancar seus negócios, empresa e área com o uso de IA”, avaliou.
Boli Rosales, superintendente da ANEFAC, registrou sua satisfação em participar, como equipe, do êxito de mais um Congresso ANEFAC. “Estou há apenas alguns dias na gestão, mas já completamente envolvido com a programação dos 50 anos da ANEFAC e com o projeto ‘Transparência Pública’, que pretende ser mais um agregador de valor para sociedade”, concluiu.