A melhor definição para data-driven é oriunda do Gartner e pode ser estabelecida como o uso de formas inovadoras e rentáveis para o processamento de dados, voltados para uma melhor percepção e tomada de decisão
Nos últimos anos a sociedade tem se deparado com uma enorme quantidade de dados provenientes das mais diversas fontes como, por exemplo, a internet, as mídias sociais e os dispositivos de coleta de dados. O cenário formado por amplos conjuntos de dados em larga escala, normalmente gerados e consumidos em tempo real, é denominado “dilúvio de dados” (em inglês, Data Deluge).
O termo Big Data tem sido utilizado para representar esta metáfora. Existem três dimensões que classificam um cenário como Big data: o volume dos dados que um sistema recebe, processa e/ou dissemina; a variedade, que é o número e a complexidade dos tipos de dados manipulados; e a velocidade com o qual os dados são criados e/ou disponibilizados para outros usos. É nesse contexto que as empresas buscam adaptar seus processos e métodos para se tornarem orientadas a dados ou, em inglês, data-driven.
Mas o que seria uma empresa data-driven e quais os requisitos para essa transformação?
A melhor definição para data-driven é oriunda do Gartner e pode ser estabelecida como o uso de formas inovadoras e rentáveis para o processamento de dados, voltados para uma melhor percepção e tomada de decisão. Lidar com volume, velocidade e variedade dos dados é algo que está cada dia mais consolidado, com a emergência de soluções computacionais para armazenamento e processamento de dados em larga escala. O grande desafio reside, portanto, na transformação organizacional para habilitar o processo de estabelecer formas inovadoras e rentáveis do processamento dos dados. Inicialmente, a organização precisa conhecer seus dados, os processos que os originam e como tais dados são transformados ao longo da execução desses processos. Uma vez diante de tal levantamento, normalmente consolidado em um catálogo de dados, estabelece-se métricas de avaliação da qualidade de dados e de mensuração de seu valor para os processos de negócio. Por meio dessa avaliação, a organização pode estabelecer políticas e procedimentos que buscam garantir a qualidade e adequabilidade dos dados.
Além dos aspectos técnicos, outro elemento essencial para a organização é a cultura organizacional. Como não poderia ser diferente, parte essencial desta transformação depende do desenvolvimento de habilidades analíticas por quase todos os profissionais da instituição. Não basta apenas a empresa ter em seu quadro alguns profissionais com habilidades técnicas, é necessário que em cada função organizacional as pessoas tenham a capacidade de trabalhar com dados e de identificar oportunidades que só são possíveis com o uso correto das tecnologias. É nesse ponto que muitas empresas acabam pecando uma vez que estas habilidades são relativamente novas e exigem da instituição um trabalho robusto de desenvolvimento de seus colaboradores.
É preciso estabelecer uma cultura de conscientização sobre os dados e a importância deles na tomada de decisão da organização. Há a necessidade, portanto, de investimento em capacitação para que os mais diversos atores possam compreender seus papéis nessa jornada. Ao gestor cabe praticar e fomentar uma cultura analítica de experimentação, explorando o uso de dados e avaliando o potencial do uso destes nos processos de tomada de decisão. É um processo iterativo, investigativo e exploratório, baseado na filosofia fail fast, learn faster (falhe rápido, aprenda mais rápido ainda), na qual toda a organização está ciente de que se trata de um processo de aumento da maturidade analítica organizacional. É preciso consciência e coragem para se tornar data-driven. Consciência de que é um processo em formação. Coragem para reconhecer que os dados podem sugerir rumos que são diferentes da atual crença organizacional de roadmap.
Uma vez estabelecidos os ajustes técnicos e de cultura organizacional, os quais são diversas vezes implementados com o apoio de uma estrutura de governança de dados, a organização tem em sua estrutura profissionais voltados para os processos de análise de dados. São cientistas de dados, engenheiros de dados e especialistas do domínio de atuação da organização que – juntos – de uma maneira multidisciplinar podem atuar na busca por produtos, processos e decisões orientados a dados.
Os recentes acontecimentos mundiais, como a pandemia da Covid-19, demonstram claramente a necessidade de obter valor a partir dos dados e de como a sociedade cobra de governos e organizações dados que subsidiem suas ações. Essa jornada de transformação organizacional deve ser vista como um investimento pela organização, com grande potencial para retorno em médio e longo prazos. As maiores empresas da atualidade são organizações orientadas a dados. Não é uma jornada fácil, porém é muito recompensadora. É primordial para esta jornada que o gestor conheça o potencial do uso de dados nas organizações, estruturando assim os processos de mudança necessários para a transformação data-driven de sua organização.
Artigo escrito pelos membros do Programa Avançado em Data Science e Decisão do Insper, André Filipe de Moraes Batista, professor, e Eduardo Colagrossi Paes Barbosa, coordenador.