Entre julho e agosto de 2020, efetuamos uma pesquisa junto aos associados da ANEFAC, com o objetivo de analisar os impactos da Covid-19 nas políticas de investimentos e financiamentos. Os 120 respondentes eram preponderantemente homens (71%), entre 25 e 72 anos, sendo: 26,7% até 35 anos, 26,7% de 36 a 45 anos, 27,5% de 46 a 54 anos e 19,2% acima de 55 anos. A maioria ocupa cargo de gestão em suas empresas, sendo 36,7% diretores, 21,7% coordenadores e supervisores e 20,8% gerentes. Quanto à área de atuação, 39,2% financeira, 27,5% em controladoria e 5,8% em atividades administrativas.
Com relação ao perfil das empresas, em que nossos respondentes atuam, a maioria é de serviços (45,1%), financeira (21,3%) e indústria (20,5%). Quanto ao porte, 33,3% são de grande porte (com faturamento acima de 300 milhões) e 35,8% médio porte (com faturamento entre 90 e 300 milhões). A origem do capital das empresas é principalmente brasileira (70,8%), 10% norte-americana e 4,2% alemã. São empresas maduras, sendo 63,3% delas com tempo de funcionamento acima de 15 anos e 7,5% entre 10 e 15 anos.
Índice meta de endividamento
O índice meta de endividamento é estabelecido como resultado do confronto entre o custo e o benefício da dívida, em que é possível auferir ganhos tributários (para quem é optante do lucro real) e, também, ganhos de alavancagem financeira, neste caso, mantém-se fixo o pagamento dos juros e, com os recursos do endividamento, existe a possibilidade de aumento de receita pela empresa.
Perguntamos inicialmente sobre a existência de índice meta de endividamento nas empresas que atuam, sendo que 55% afirma que existe, para sua empresa, uma política definida de estrutura de capital, orientada para a busca ou manutenção de um índice meta de endividamento, considerado ótimo.
Questionamos para esses que confirmaram essa existência, como era a definição desse índice meta de endividamento. Quase a metade deles afirmou que é um índice habitual da empresa, normalmente aceito como ideal.
Aproximadamente 27% deles afirmou que considera a manutenção da capacidade de arrecadar recursos adicionais no mercado (endividar-se), sempre que necessário. E, quase 20% deles afirmou que considera os benefícios fiscais decorrentes da dedução das despesas de juros para efeitos de tributação.
Políticas de financiamento
Avaliamos entre os respondentes, como é a busca de financiamento para novos investimentos e 70% deles afirmou que dá preferência ao uso de recursos internamente gerados (retenção de lucros gerados pela operação da empresa), antes de recorrer à captação de recursos com sócios ou títulos de dívida. Enquanto 30% deles procura fazê-lo sempre de forma a manter balanceada a sua estrutura de capital, ou seja, levantando os recursos necessários entre os diversos componentes de capital próprio e capital de terceiros, de maneira a manter o índice de endividamento ideal da empresa.
Para aqueles que priorizam o uso de recursos internos, 73% afirma que tendo esgotado os recursos internos e sendo necessário recorrer a financiamento externo, a empresa adota alguma ordem de preferência ou prioridades no uso desses instrumentos de financiamento externo. Nessa ordem, como primeira opção aparece a entrada de capital de sócios já existentes em 63% dos casos. Como segunda opção aparece dívidas bancárias em 38% dos casos e entrada de capital de novos sócios em 24% dos casos. Emissão de dívida com fundos aparece apenas como quarta ou quinta opção dos respondentes. E, a opção menos priorizada é dívidas com repasses governamentais (por exemplo, BNDES).
Quanto à política de financiamento, 32% de nossos respondentes afirmaram ter contraído ou renovado alguma linha de financiamento de sua empresa no primeiro semestre de 2020 devido a pandemia de Covid-19. Sendo que para 92% deles, a captação se deu pela necessidade de capital de giro e fortalecimento do caixa. Em 90% das decisões de captação foram consideradas tendências de mercado e em 74% dos casos foram utilizados modelos de modelagem financeira para identificar as necessidades de caixas.
Perguntamos se a empresa deles pretendia utilizar o PRONAMPE e, apenas 16% confirmou essa intenção, sendo que 13% dos respondentes declararam desconhecer o PRONAMPE. Entre os que confirmaram a intenção em utilizar o PRONAMPE, em quase 60% dos casos visa utilizar o crédito para capital de giro, em 16% dos casos para saldar dívidas bancárias e os demais para investimento em CAPEX.
Políticas de investimento
Para finalizar, perguntamos sobre as políticas de investimento. Quase 60% de nossos respondentes afirmaram ter cancelado ou postergado projetos de Investimento de Capital para Produção (projeto de CAPEX) em sua empresa no primeiro semestre de 2020 decorrente da pandemia de Covid-19. E, apenas 27% dos respondentes afirmaram ter iniciado algum Investimento de Capital para Produção (projeto de CAPEX) em sua empresa no primeiro semestre de 2020. Questionamos a eles se no processo de tomada de decisão de cancelamento ou iniciação foram utilizados modelos de viabilidade econômica de projeto, sendo que 70% afirmou que sim e em 84% das decisões de investimentos foram consideradas tendências de mercado.
Os resultados encontrados com a pesquisa mostraram que durante o período de crise de Covid-19, os administradores mantiveram as decisões de financiamento e políticas de investimento. Tal comportamento arrojado foi impulsionado pelas quedas das vendas e perdas das lucratividades no período. Assim, a saída é a própria aposta nos negócios, vis-à-vis um comportamento conservador.
Artigo escrito por Marta Pelucio, professora doutora e presidente regional ANEFAC São Paulo, George Andre Willrich Sales, professor doutor de finanças, e Jonathas Queiroz Amorim, mestrando do curso de mestrado profissional em contralodaria e contabilidade, todos da Fipecafi.