Especialistas apontam planejamento e gestão ativa das necessidades como formas de encontrar linhas mais adequadas às empresas
Uma mudança que vem ocorrendo desde 2018 nos mercados de crédito e de capitais no Brasil pode impactar positivamente a economia. É uma verdadeira revolução nas novas condições de investimentos que possibilitam às empresas a ampliação do acesso a recursos financeiros. De forma geral, explica Carlos Ponce, sócio da Loara, podemos dividir o acesso ao crédito pelo tamanho das empresas. Para as grandes, que têm maior acesso ao mercado e capitais, o acesso é relativamente mais fácil. Além disso, essas empresas têm substituído o crédito bancário por recursos levantado junto ao mercado de capitais.
“Grandes empresas têm acesso mais fácil ao mercado de capitais e podem usar isso para suprir suas necessidades de recursos. Um IPO ou uma emissão de debêntures são bons exemplos. Infelizmente a grande maioria ainda dependem dos bancos para ter acesso ao crédito. E isso nem sempre é simples. Elas certamente vão esbarrar em juros altos, burocracia, taxas altas e curto prazo. Nem sempre o banco em que a empresa tem relacionamento pode oferecer as linhas que mais se adequem às necessidades dela”, analisa Adilson Seixas, sócio fundador e CEO da Loara.
Já as microempresas, segundo ele, têm uma dificuldade maior. Contudo, o mercado tem disponibilizado algumas linhas específicas para elas. Há também as empresas simples de crédito, que foram recentemente regulamentados e são uma aposta para destravar o crédito. “As empresas que mais sofrem com o acesso ao crédito são as pequenas e médias. As linhas mais ofertadas hoje, para esse tipo, são, em geral, de curto prazo, com altas taxas e excesso de garantias. Existem linhas de mais longo prazo e com juros melhores, porém, nem sempre as empresas conseguem acesso fácil a esse tipo de oferta”, avalia.
Para os especialistas, é necessário conhecer o mercado. Saber que bancos têm interesse nas garantias que a empresa pode oferecer para reduzir suas taxas de juros. E isso nada tem a ver com a capacidade de negociação do executivo. É importante conhecer todos os bancos e suas políticas de crédito e ficar atualizado o que não é simples para as empresas que precisam focar no negócio, no core business. “O primeiro cuidado é a quanto a capacidade de pagamento ou de o negócio gerar caixa para pagar as parcelas. Outro ponto, claro, é o custo do crédito. Porém, tão importante quanto é fazer uma análise da relação custo-benefício. Independente de taxa e prazo, essa relação precisa ser positiva”, orienta Seixas.
Com base nos clientes atendidos, de acordo com Ponce, fazer a gestão do crédito é um desafio. “As empresas tendem a se preocupar somente quando precisam. Geralmente geram a demanda e depois saem à procura de crédito. Nós pregamos exatamente o contrário. Quando se planeja e faz uma gestão ativa de suas necessidades, as possibilidades de encontrar linhas mais adequadas às necessidades são muito maiores. Outra questão é a falta de mão de obra especializada. Hoje, as empresas contam com vários tipos de especialistas: contador, tributarista ou advogado. Dificilmente uma empresa tem ou contrata um especialista em crédito bancário”, alerta.
Não existe o momento certo ou errado para uma empresa procurar um crédito. O que existe são projetos ou necessidades. Mas, para ele, quando a empresa vai fazer um investimento ou uma ampliação, por exemplo, provavelmente vai recorrer a crédito, outras vezes, ela precisa de crédito por questões que estão fora de sua gestão como, por exemplo, um aumento repentino da inadimplência. “Mas independente do momento vai precisar de crédito, o importante é que tenha linhas de crédito pré-aprovadas para poder utilizá-las no momento certo”, pontua.
Contudo, o sócio da Loara, entende que para ter acesso a essas linhas as empresas precisam, além da capacidade de pagamento, conhecer sobre os diversos produtos que o mercado oferece e, principalmente, sobre banco, quais as linhas o banco está priorizando, que tipo de garantias são mais favoráveis na hora de analisar o crédito, quais as informações que o banco precisa para conceder crédito entre outras coisas.
Ponce enumera alguns cuidados que as empresas que buscam crédito devem ter:
- Planeje e procure obter linhas de crédito com antecedência. Isso te colocará em uma posição mais favorável na negociação.
- Fique perto do seu gerente de contas, ele é o elo entre você e o banco e poderá ajudá-lo a obter boas linhas.
- Prepare-se para a burocracia. Mantenha sempre o “kit banco” atualizado.
- Converse com seus colegas ou empresários que tenham tomado crédito recentemente, isso pode ajudá-lo a fazer um benchmark.
- Conheça sobre as exigências dos bancos e as linhas que eles têm a oferecer. Isso o torna condutor e não passageiro na negociação.
- Pesquise, procure alternativas, coloque a competição a seu favor. Todos os bancos querem emprestar para empresas que têm capacidade de pagamento e oferecem boas garantias.