Congresso ANEFAC irá abordar o tema por diversas perspectivas de 16 a 19 de maio no Vale Suiço Resort em Itapeva, Minas Gerais
O conceito de Indústria 4.0 ainda é bastante distante de muitas empresas ao redor do mundo, mas temas como blockchain, internet das coisas (comércio), saúde, manufatura, criptoativos, educação, supply, segurança da informação e liderança de pessoas estão no centro das discussões e serão as vertentes abordadas no Congresso ANEFAC 2019, que acontecerá de 16 a 19 de maio no Vale Suiço Resort em Itapeva, Minas Gerais.
“Sem dúvida o que chamamos hoje de Indústria 4.0 está revolucionando os negócios dos mais diversos setores. Basicamente estamos falando da convergência do mundo físico com o digital, e isso tem influenciado de diversas formas a maneira de fazer as coisas, mudando inclusive o comportamento humano. Novos negócios estão surgindo ao mesmo tempo em que outros tradicionais estão adotando uma postura disruptiva. Na essência, a Indústria 4.0 está habilitando modelos de negócios nunca antes possíveis”, diz Fabiano Negrão, diretor executivo de Advisory Services da EY.
No setor de bens de consumo, segundo ele, se percebe uma mudança na maneira como as pessoas consomem, por exemplo, buscando mais conveniência por meio do uso da tecnologia. “Isso faz com que os negócios possam ter acesso a informações de demanda que podem alavancar vendas e até mesmo criar novos modelos de negócios. Em decorrência disso, as empresas precisam estar preparadas para responder adequadamente a essa mudança de comportamento do consumo e ter cadeias de suprimentos capazes de reagir a essa expectativa dos consumidores”, ressalta.
Com a Indústria 4.0, para Negrão, cada vez mais as cadeias de suprimentos têm condições de desenvolver soluções para reduzir custos de produção, acelerar o Time to Market e responder de forma mais ágil à demanda do cliente. “Para isso, atualmente as empresas são capazes de monitorar de forma muito eficiente tudo o que acontece desde o nascimento da matéria prima até a chegada do produto final ao cliente. Hoje em dia é possível, usando inteligência artificial junto com dados gerados por inúmeros sensores, saber se um equipamento industrial vai quebrar antes mesmo que ele apresente algum sinal visível de anomalia. Isso muda o patamar da eficiência industrial e faz com que os custos possam ser reduzidos e a competição entre cadeias de suprimentos fique mais acirrada”, aponta.
A mesma revolução não acontece apenas em bens de consumo. Setores como a Agroindústria, Saúde, Governo, Energia, Óleo e Gás, entre outros, também estão se revolucionando e desenvolvendo inúmeras aplicações com a abundância de dados e tecnologias disponíveis. “É possível controlar no campo de forma remota o combate a pragas, por exemplo, ou fazer uso de telemedicina para dar assistência médica remota à operários embarcados em plataforma de petróleo, que por sua vez usam a Indústria 4.0 para melhorar a segurança de todos por meio do uso de crachás inteligentes que monitoram em tempo real o posicionamento de todos os colaboradores e não permite que alguém se aproxime de uma área indevida”, salienta.
Na essência, o especialista entende que com a Indústria 4.0, tem muito mais visibilidade com as inúmeras estratégias de captura de dados do mundo físico e se pode associar essa visibilidade com outras tecnologias como: blockchain, inteligência artificial, impressão 3D, realidade aumentada, entre outros. “Criando com isso vantagem competitiva, modificando como os negócios geram valor e até mesmo gerando novos modelos de negócios”, analisa. Para Carlos Rischioto, líder técnico da Plataforma de Blockchain da IBM Brasil, a Industria 4.0 é um conceito que une diversas tecnologias visando melhorar e automatizar os processos produtivos. “Um dos seus principais focos é a sensorização e análise dos dados. Com mais informações sobre os processos é possível identificar os pontos críticos a serem otimizados – onde existem falhas nos processos -, e aumentar a garantia da qualidade dos produtos”, conta.
“Estamos vivendo um momento de digestão de novas informações e conceitos com termos como blockchain, criptomoedas, governança de dados e inteligência artificial. Assuntos bem badalados em palestras, artigos e páginas de empresas como elementos importantes da denominada Quarta Revolução Industrial. O ponto que tenho tentado compartilhar é que existe uma grande dependência de definição normativa e de ambiente regulatório. Temos aqui um grande ponto de atenção e adicionaria a mudança comportamental dos usuários (mindset) para a transparência, aceitação e uso de novas ferramentas de uma forma mais ampla”, explica Rodrigo Bauce, Financial Instruments Specialists da KPMG Brasil.
“O digital risk assessment no planejamento da indústria 4.0 é fundamental para o desenho correto da estrutura”, diz Toni Hebert, diretor de Risk Advisory Services, Cyber Segurança e Tecnologia da Informação da BDO Brasil. Para Simone Furegato, líder de Supply Chain da PwC Brasil, a Indústria 4.0 vem de encontro com o novo perfil dos clientes, que buscam por uma experiência rápida, sem igual e por produtos mais personalizados do que nunca. “Todas essas novas demandas dos clientes impactam a cadeia de valor das empresas fazendo que os processos end-to-end tornem-se mais transparentes, conectados, eficientes, rastreáveis e colaborativos”, diz. Em outra vertente, Fabio Mattoso, líder executivo de Watson Health na IBM Brasil, acredita que a Quarta Revolução Industrial traz tecnologias que tornam tênues as linhas entre as esferas física, digital e biológica. “Um dos principais efeitos disso é o aumento da produtividade humana. Em tempos em que os dados são o novo petróleo e em que estão disponíveis novas tecnologias como a robótica e a inteligência artificial, podemos fazer escolhas inteligentes com mais rapidez do que nunca. Isso influencia negócios em todos os setores”, ressalta.
“A Indústria 4.0 muda significativamente o ambiente de negócio das empresas considerando a integração entre o mundo físico e o digital. Um dos maiores impactos que teremos está no ambiente externo decorrentes da mudança do ecossistema de clientes e fornecedores. Os modelos atuais de produtos e serviços terão de ser adequados e/ou criados para este novo cenário”, aponta Ronaldo Fragoso, sócio de Market Development da Deloitte Brasil.
Para Luiz Cassiano Rando Rosolen, CEO da ROMI, o conceito de Indústria 4.0, ou manufatura avançada, propõe a constante evolução das tecnologias com foco na digitalização, flexibilidade, capacidade de uso massivo de dados e com relação custo-benefício adequada, demonstrando que não devemos nos acomodar com as tecnologias atuais. “É possível ter mais produtividade e eficiência com o desenvolvimento de novos recursos que proporcionem essas vantagens”, diz.
Na mesma linha, Sérgio Cazela, sócio diretor da Taxation Mind, entende que o conceito da Indústria 4.0 está trazendo grandes mudanças no ambiente de gestão dos negócios, proporcionando um grande volume de informações que propiciam análises mais detalhadas das informações das empresas, agregando valor às áreas analíticas de controladoria. “Os adventos de inovação tecnológica têm que ser vistos com cautela pelas empresas, eles são extremamente necessários, pois trazem redução de custo de administração, aliado ao aumento de qualidade de informação, porém, as empresas têm que ter em vista que os seus quadros de colaboradores necessitam de treinamento para acompanhar a evolução da tecnologia, caso contrário, os valores investidos não estarão sendo aproveitados em sua totalidade”, expõe.
Atualmente vivemos um cenário de geração de dados em grande volumetria. No ponto de visto do sócio diretor, as empresas precisam se preparar para administrar este volume usando-o de forma a agregar valor às suas análises. E ainda avalia que de qualquer forma grandes volumetrias de dados representam riscos às empresas, pois necessitam de uma gestão mais aprimorada, considerando-se inclusive a gestão de arquivos, criptografia, etc.
“Estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará a forma de ver, trabalhar e se relacionar. As técnicas que darão suporte à Quarta Revolução Industrial, ou Indústria 4.0 serão: a robótica, a Inteligência Artificial, a Nanotecnologia, a impressão 3D e a Biologia Sintética, que terão grande sinergia, ou seja, atuarão juntas nas atividades industriais e sociais. Como consequências dessas transformações, acredita-se que haverá uma diminuição de consumo de energia com equipamentos mais eficientes. A customização de produtos se tornará mais acessível. Há o surgimento de máquinas pensantes, capazes de tomada de decisões iguais aos humanos”, explica Adriana Fellipelli, CEO da Fellipelli.
Entretanto, para ela, será o fim dos operários. “As indústrias serão totalmente automatizadas e os computadores capazes de realizar reparos na linha de produção sem ajuda alguma de seres humanos. Além de operários, outras profissões desaparecerão, como professores, engenheiros, médicos, pedreiros, motoristas, entre muitas outras. Mas também surgirão novas profissões que exigirão alta capacidade de criação, de negociação, de análise e de estratégia de negócios. A engenharia, a matemática, a computação e a pesquisa científica darão suporte à Indústria 4.0”, ressalta.
A liderança de pessoas na Indústria 4.0
Adriana Fellipelli, CEO da Fellipelli
A mentalidade digital representa a integração das tecnologias digitais com os modelos de negócios, gestão, perfil profissional, consumo dos produtos e serviços, relacionamentos e liderança de talentos na Era Digital. “Trata-se de uma prioridade e uma urgência, um imperativo diante de mercados cada vez mais globalizados e com tecnologias acessíveis a todos, em toda parte. Essa transformação deve começar com uma mudança consistente de mindset dos gestores, alimentando suas mentes, as de seus funcionários e as de seus fornecedores e parceiros com informações da evolução digital em curso. Ainda é comum, no entanto, ouvir de executivos e líderes em geral frases como “esse movimento não vai nos alcançar”, “isso é mais uma história da consultoria” ou “é melhor aguardar as mudanças se consolidarem”, comenta.
As empresas devem gerenciar o capital humano, de acordo com a especialista, tendo em mente os princípios das organizações do futuro; estar globalmente distribuída com equipes menores; possuir uma força de trabalho conectada; ser intraemprendedora; operar como uma pequena empresa; concentrar-se no “quero” em vez do “preciso”; adaptar-se às mudanças de forma mais rápida; inovar em todo lugar; estar na nuvem; ter mais mulheres em funções de alta gerência; possuir uma estrutura mais plana; contar histórias; democratizar a aprendizagem; preferir a prosperidade aos lucros; adaptar-se aos colaboradores e gestores.
Para isso, Fellipelli avalia que os gestores estão lidando na medida de sua maturidade e consciência para o impacto que está causando hoje e que vai causar num futuro próximo em seus resultados e competitividade. “O trabalho ideal é o que os gestores têm uma ação clara da estratégia organizacional e idealmente dentro do H1, H2 e H3”, garante.
Blockchain
Carlos Rischioto, líder técnico da Plataforma de Blockchain da IBM Brasil
Com certeza a tecnologia de blockchain pode ser aplicada nas mais diversas áreas, indo além dos criptoativos. “Acreditamos que o potencial do blockchain na melhoria e transformação de processos é gigantesco, podendo ser aplicado em qualquer indústria, principalmente nos casos onde existem muitos participantes nas redes de negócios, ou em casos de muitas disputas e divergências de informação”, analisa Rischioto.
O blockchain pode ser utilizando em praticamente qualquer processo de negócios onde existam duas ou mais entidades – ou empresas – fazendo algum tipo de transação que necessite de um alto grau de confiança e segurança. “Essa tecnologia permite a melhoria da troca de informações entre os participantes, aumentando a transparência, segurança e confiabilidade. O surgimento das redes de negócios baseadas em blockchain vai alterar a forma como os negócios acontecem, aumentando a eficiência e a segurança das transações, além de ajudar a eliminar gargalos e automatizar etapas e controles dos processos. Essa nova forma de integração e controle das transações irá permitir o surgimento de novos produtos e negócios”, explica.
Atualmente, a IBM tem mais de 500 projetos ao redor do mundo e casos de sucesso que já estão em produção com grande volume de participantes e transações. O especialista cita como exemplos, o IBM Food Trust, que é uma forma de rastreamento de alimentos com foco na segurança alimentar, onde grandes empresas da cadeia de produção e distribuição de alimentos como Walmart, Nestle e Unilever estão trazendo transparência e segurança para os consumidores.
O Tradelens que é uma rede mundial de logística que está melhorando o processo de importação e exportação ajudando a simplificar o desembaraço alfandegário, reduzindo os custos e prazos. O IBM WorldWire que é uma rede mundial para pagamentos internacionais que já conta com mais de 40 bancos e 30 moedas diferentes, permitindo o envio de recursos de forma rápida, segura e com baixo custo. E por fim, o WeTrade, iniciativa criada na Europa com 13 bancos para fomentar o financiamento, a produção e comercio internacional.
“A governança e controles a serem aplicados a essas informações vão depender de cada caso ou uso específico. Mas um aspecto importante é que o blockchain está preparado para permitir que esses controles sejam implementados e garantir a confiabilidade das informações através dos mecanismos de criptografia e consenso”, aponta.
Internet das coisas (comércio)
Fabiano Negrão, diretor executivo de Advisory Services da EY
Os primeiros conceitos de Internet das Coisas começaram a aparecer na década de 90, com o surgimento dos primeiros usos de etiquetas de RFID (comunicação por rádio frequência) no MIT em experimentos para capturar de forma digital informações de elementos que estão apenas no mundo físico. “Com o passar dos anos, outras tecnologias e sensores foram surgindo, com diferentes protocolos de comunicação. Podemos citar Beacons (comunicação bluetooth), Zigbee, etiquetas NFC, etiquetas HF (alta frequência), etiquetas UHF (ultra alta frequência) e sensores mais completos que podem utilizar tanto rede de celular como redes específicas para IoT (ex,: LORA e Sigfox)”, expõe.
Mas, para Negrão, o ganho de escala só foi possível por causa de alguns viabilizadores presentes no ambiente: 1) Queda nos custos de sensores e componentes eletrônicos; 2) Aumento no poder computacional de processamento e mobilidade. Atualmente um smartphone tem o poder computacional de todos os computadores usados na Apollo 11 na missão para a lua; 3) Criação de serviços em nuvem sob demanda (cloud computing), o que reduziu drasticamente o custo de armazenagem de dados – 1GB de armazenagem custava em 1992 US$ 569,00 e agora custa menos de US$ 0,02; 4) Queda nos custos de conectividade – a transferência de 1MB de dados em 1998 custava US$ 1.200 e hoje, custa apenas US$ 0,06.
Toda essa escala e surgimento de diversas soluções IoT ocorreu de forma descentralizada, o especialista entende que com a popularização de serviços on demand de consumo de dados em nuvem, muitas soluções se popularizaram e plataformas de Internet das Coisas foram criadas com o objetivo de realizar uma tradução correta dos dados para a sua utilização em um processo de negócio.
“Em termos de abrangência, já está presente em quase tudo. Desde a geladeira de casa que avisa quando algum item acabou e faz o pedido ao supermercado online; passando pelo smartphone que envia dados para ser usado com Inteligência Artificial e lhe informa em tempo real o melhor caminho para o trabalho”, detalha.
A Internet das Coisas impacta a maneira como as empresas coletam informações.
“Atividades contábeis como inventário, por exemplo, podem ser aceleradas por meio da captura automática dos dados. Imagine que uma empresa pode ter todo o seu estoque com etiquetas inteligentes que são lidas em questão de minutos, isso muda o patamar de controle do ponto de vista da gestão de ativos. No mundo das finanças, o IoT está viabilizando um controle mais efetivo das transações e, ao associar a captura de dados com o blockchain, consegue garantir que as interações financeiras na cadeia de suprimentos tenham uma rastreabilidade e segurança garantidos. Isso aumenta muito a confiança nas relações empresariais”, relata.
A Internet das Coisas pode revolucionar a gestão dos negócios. “Em um cliente da EY, a visibilidade real time dos estoques nas lojas permitiu o aperfeiçoamento do planejamento da empresa e abastecimento. Com isso, foi possível atender melhor o consumidor e ainda diminuir drasticamente a falta de produto. Também permite a muitas empresas disponibilizarem online para seus clientes os produtos em loja, já que o monitoramento traz uma confiabilidade grande dos valores em estoque”, vislumbra.
Saúde
Fabio Mattoso, líder executivo de Watson Health na IBM Brasil
A Saúde é um dos setores que mais serão transformados pela Indústria 4.0. A confluência entre a biologia e a ciência da computação trará efeitos profundos na assistência à saúde em todo o mundo. “As novas tecnologias, como, por exemplo, a Inteligência Artificial, sensores de monitoramento, Internet das Coisas e nanotecnologia facilitam o diagnóstico precoce, a definição de planos terapêuticos personalizados e a consequente redução dos custos. Isso só é possível por meio de um melhor uso do Big Data e das novas tecnologias em prol de uma tomada de decisão mais embasada, seja por provedores ou seguradoras”, adverte Mattoso.
Em termos de tendências no Brasil e no mundo, ele acredita que para além da discussão sobre robótica e impressão 3D, uma das maiores necessidades em saúde é transformar o Big Data em insights que permitam tomar decisões melhores, seja na hora de escolher um tratamento para um paciente no point-of-care ou para um gestor alocar recursos de forma mais embasada em um hospital. Segundo ele, nesse sentido, o uso de Inteligência Artificial, Machine Learning e o Processamento de Linguagem Natural despontam como tendências principais.
Outra consequência, para o especialista da IBM Brasil, é que médicos começarão a ter em seu arsenal terapêutico ferramentas que trarão, de forma natural e no momento da consulta, as informações necessárias para que possam tomar a melhor decisão terapêutica para seu paciente: a integração da informação científica, genômica, comportamental e socioeconômica. “Não apenas o que o paciente lembrou de contar ou os estudos que demos conta de ler”, salienta.
Da robótica à cirurgia digital, a IA fornece suporte precioso ao processo de decisão clínica. Estudos apontam que, para um especialista se manter atualizado com as publicações de sua especialidade, ele teria que estudar cerca de 167 horas por semana, algo como mais de 20 horas por dia. Segundo ele, com o auxílio da I.A, conseguiríamos cruzar a imensa literatura médico-científica com os dados específicos de cada paciente no momento da consulta. Além disso, com essa tecnologia, é possível automatizar processos, facilitar o preenchimento dos prontuários eletrônicos e reduzir a burocracia e tarefas repetitivas. Hoje, há estatísticas que mostram que um médico passa de 50 a 60% do seu dia realizando tarefas administrativas e burocráticas.
Outra vantagem, para Mattoso, é o aumento da eficiência e da segurança na assistência. “Na prática, o combo de automatização e suporte à decisão (possíveis com IA) pode reduzir erros de prescrição, interações medicamentosas e melhorar a adesão a tratamentos. O Laboratório Fleury e a IBM trabalharam juntas para testar e validar o Watson for Genomics no Brasil como uma potencial ferramenta provedora de informações para auxiliar a tomada de decisão médica. O sistema utiliza pesquisas, estudos clínicos e artigos científicos. Com mais de 20 instituições usando o Watson que fornece aos oncologistas um conhecimento combinado das instituições de câncer mais importantes do mundo”, analisa.
Um dos grandes desafios que existem em saúde é a quantidade de dados gerados. 90% de toda a informação e dados que existem hoje, no mundo, foram criados nos últimos dois anos. Há previsões que, a partir de 2020, esse volume de dados vai dobrar a cada 73 dias. “Então, não só o Brasil, mas o mundo ainda está aprendendo como coletar, agregar esses dados e descobrir neles insights valiosos, fazer diagnósticos mais precisos e melhorar a qualidade de vida das populações”, alerta.
Manufatura
Luiz Cassiano Rando Rosolen, CEO da ROMI
A difusão das novas tecnologias impacta diretamente na produção e na mão de obra, com máquinas e sistemas de produção cada vez mais autônomos. Segundo ele, os custos com mão de obra são reduzidos e a produção otimizada com a minimização de erros. “O mercado brasileiro está acompanhando a tendência mundial quando o assunto é a Indústria 4.0, apresentando grandes avanços tecnológicos. A força de trabalho também deve se modernizar, para atuar nos sistemas mais complexos que se tornam disponíveis com a manufatura avançada. Políticas públicas para suportar a demanda de desenvolvimento são necessárias e têm sido desenvolvidas, assim como os perfis acadêmicos têm sido revisados para prepararem os futuros profissionais”, enaltece.
A Indústria 4.0 tende a impactar em toda a cadeia produtiva, com lançamentos tecnológicos em todos os segmentos a tendência é reduzir o uso de recursos e otimizar o tempo. Para Rosolen, a digitalização e os dados disponibilizados pelos sistemas de produção vão aumentar a necessidade de profissionais ligados a análise de dados industriais, projetos de sistemas, tecnologia da informação, ciência de dados e automação. “Os trabalhadores deverão estar abertos às mudanças, ter grande flexibilidade em se adaptar a novos papéis e ambientes e acostumarem-se ao aprendizado interdisciplinar contínuo. Além disso, os executivos devem procurar entender os diferentes níveis de implementação das tecnologias da manufatura avançada e seus benefícios ao seu negócio. O importante é entender como isso poderá acontecer no seu negócio e os impactos advindos da mudança”, analisa.
Segundo o CEO, uma das mudanças mais relevantes de paradigma com o avanço da Indústria 4.0 está relacionada com a opção pelo cliente por produtos exclusivos ou diferenciados para suas necessidades. “Isto está traduzido na grande necessidade de processos flexíveis por parte da indústria, que deverá ser capaz de fabricar estes produtos customizados, sejam em lotes pequenos para clientes específicos ou através de ajustes rápidos nas linhas de produção para atendimento de mudanças de projetos. Reduzir os tempos do ciclo de desenvolvimento através da geração rápida de protótipos também é uma necessidade relacionada à flexibilidade”, avalia.
Criptomoedas
Rodrigo Bauce, financial instruments specialists da KPMG Brasil
Sobre as criptomoedas Bauce acredita que no mundo da contabilidade e finanças existem cinco grandes tópicos em debate: a classificação de criptoativos na perspectiva do emissor; os efeitos práticos da mineração de criptoativos na contabilidade; o entendimento de como podemos reconhecer as captações via ICOs/Tokens; os debates sobre criptomoedas emitidas por Bancos Centrais (conhecido como ´CBDC´); avanço, agrupamento ou morte definitiva de criptoativos. “Para a contabilidade e a auditoria, ter um sistema em blocos que consegue se auto monitorar e validar informações, seria um mundo perfeito”, diz.
Ao citar um exemplo, o especialista explica: quando você vai em uma loja ´Z´ com o seu cartão de crédito de uma bandeira ´X´, passa em uma máquina da empresa ´Y´ e que automaticamente se comunica com seu Banco ´ABC´. Ao final deste processo, que costuma ser bem rápido salvo problemas de internet, você efetua a transação, certo? A pergunta chave é, que tal fazer a mesma operação com um criptoativo envolvendo apenas a Loja Z e você? Não seria interessante em redução de custos, velocidade e aumento de confiabilidade/rastreamento com apenas dois participantes? O grande dilema que precisa ser observado é que não foi o Táxi que inventou o transporte de aplicativo. Neste sentido, é de grande importância o acompanhamento dos debates na esfera regulatória de cada jurisdição, normativa e de Bancos Centrais também.
O especialista da KPMG Brasil observa que por ser uma tecnologia inovadora muitos acreditam que pode ser utilizada em uma ampla gama de aplicações. “Costumo brincar com a ideia de que monitoramento com livro-razão com métodos de partidas dobradas já existe desde o século XV (com o Pai da Contabilidade Luca Pacioli). Mas sim é uma tecnologia nova (por um ponto de vista) e que vem apresentando progressos. Como qualquer assunto, precisa de amadurecimento e existe um longo caminho de percurso ainda. Para as várias possibilidades que se descortinam e desafiam a contabilidade, ainda existe uma dependência de posicionamento regulatório e normativo”, avisa.
A segurança, na visão de Bauce, é um debate bem amplo e tem um pouco de tentativa e erro nisto por ser algo que demandou uma atenção recente. A exemplo disto, ele cita, o paper do BACEN denominado ‘Currency in the Digital Era’ (julho 2018), a questão levantada de ‘Cyber attack’ foi bem comentado como um risco importante a ser monitorado em um contexto de eventual emissão de Banco Central. “Contudo, também existe um esclarecimento quanto as técnicas atuais aplicáveis em internet banking e mobile banking services que poderiam mitigar estes tipos de ataque. Existem outras soluções ainda possíveis que precisam de estudo caso a caso. Gosto, também, de olhar para o lado operacional da proposta de um sistema de blocos com monitoramento passo a passo (com possibilidade de efetuar revisão automática), similar a um processo de auditoria constante e impecável, assegurando a integridade e transparência das informações”, vislumbra.
Supply Chain
Simone Furegato, líder de Supply Chain da PwC Brasil
Toda essa revolução, que também acontece no supply chain, de acordo com Furegato, abre novos caminhos para o crescimento da lucratividade das empresas, porém exige uma visão estratégica clara e o comprometimento da alta administração, pois transforma a cadeia de valor tradicional em um ecossistema de valor integrado. “As empresas mais preparadas irão encarar esse período de transformação como uma oportunidade de crescimento de receita e lucratividade a partir da visão de redesenho do supply chain de suas organizações para a próxima revolução, sempre com foco no atendimento das expectativas dos consumidores”, avalia.
Este é um tema relativamente novo no Brasil que demanda uma atenta avaliação das necessidades dos clientes, alinhamento com a visão estratégica da empresa e investimento em pessoas e parcerias que promovam um supply chain conectado. Entre os benefícios, ela aponta, cinco significativos a partir da adoção de Supply Chain 4.0: transparência: permitindo uma visão end-to-end completa da cadeia de valor; compartilhamento de dados realtime: todos os parceiros do ecossistema têm acesso à mesma informação, simultaneamente, evitando flutuações na cadeia por insegurança entre os elos; colaboração: as integrações desenvolvidas com parceiros (ex: fornecedores) tornam-se mais profundas e mais sinérgicas com o tempo; responsividade e flexibilidade: permitindo a rápida resposta caso ocorra mudança no comportamento do cliente final. Os planos podem ser alterados e executados facilmente e prontamente; conectividade: existe uma forte integração entre o ciclo de vida do produto, a cadeia de suprimentos e as reações dos clientes.
O gerenciamento da cadeia de suprimentos trata de fazer a gestão de todos os processos e fluxos de informações envolvidos nesse atendimento. Para ela, ter visibilidade realtime dos acontecimentos gera valor e melhora significativamente o supply chain tornando-o responsivo e otimizado, isto é, a cadeia de valor passa a analisar os comportamentos e responder proativamente aos eventos ao invés de reagir ao que já aconteceu, tanto em relação aos fornecedores, parceiros e clientes. Furegato cita que um exemplo poderia ser em relação à redução de paradas não planejadas nas linhas de produção com a correta programação de manutenções preditivas a partir de sensores ligados ao maquinário.
A definição do que é supply chain gira em torno das necessidades dos clientes, a especialista da PwC Brasil aponta que existe um movimento de grandes organizações pelo mundo e no Brasil com esse objetivo, seja com foco na otimização do processo de compras, na otimização de suas malhas de distribuição, do aumento da rastreabilidade e visibilidade do transporte e last-mile. “Cada uma delas com seu roadmap estabelecido e focada nos ecossistemas que trarão maiores benefícios para seus clientes como para a própria organização”, diz.
Educação
Ronaldo Fragoso, sócio de Market Development da Deloitte Brasil
“Precisamos repensar a forma de como iremos treinar e capacitar as pessoas em função destas transformações. Os formatos tradicionais não são suficientes para contemplar a necessidade de mão-de-obra. Precisamos repensar a educação sem dúvida, incluindo a formação básica e os treinamentos e capacitação corporativos, pois ainda estamos em uma fase inicial, mas com grande perspectiva de desenvolvimento”, acredita Fragoso sobre o impacto da Indústria 4.0 na educação.
Segurança da informação
Toni Hebert, diretor de Risk Advisory Services, Cyber Segurança e Tecnologia da Informação da BDO Brasil
“O digital risk assessment no planejamento da Indústria 4.0 é fundamental para o desenho correto da estrutura, repensar em segurança e em fases posteriores pode implicar em custos excessivos ao negócio ou, ainda, em uma “colcha de retalhos”, podendo a empresa continuar exposta a incidentes como roubo de dados, espionagem, ruptura da produção, são alguns exemplos de riscos ao negócio”, diz.
Segundo Hebert, com a Indústria 4.0 todo o processo fabril passa a ser gerador de dados, seja por sensores ou unidade de microprocessadoras que se interligam a uma central processadora e analisadora de dados, retroalimentando toda a cadeia e aprimorando a eficiência, seja em tempo ou redução de perdas por produtos defeituosos. O especialista destaca três princípios da avaliação de ativos digitais: 1. Considere quem recebe o valor do ativo, quais dados são valiosos para a geração da informação e aperfeiçoamento do processo; 2. Entenda o papel que seus ativos digitais desempenham na criação de valor econômico/geração de receita; 3. Olhe para a frente – valorizar seus ativos digitais requer uma visão para fora (custos anteriormente investidos para criar o ativo são “escaláveis”).