Especialista conta quais são os recursos, processos e estruturas envolvidos na criação das soluções baseadas em IA
A Inteligência Artificial já é uma realidade em praticamente todas as indústrias. Em alguns casos temos contato direto com a tecnologia, mas em muitos outros, ela passa completamente despercebida. Os impactos da IA, seja na rotina pessoal ou nos negócios e no futuro das empresas, foram amplamente debatidos durante o último Congresso ANEFAC. Mas para entender melhor como funcionam os processos envolvidos nos bastidores de quem faz a Inteligência Artificial acontecer, conversamos com Felipe Pojo, IBM Watson advisor.
Em definição, ele afirma que Inteligência Artificial é um amplo conceito criado nos anos 1950 que envolve outros campos específicos de computação, tais como Machine Learning e Deep Learning. “Conceitualmente, pode-se encontrar inúmeras definições diferentes, mas gosto de colocar que é uma tecnologia capaz de entender, aprender, raciocinar e interagir, que ajuda a aumentar a capacidade humana no que fazemos de melhor”, define. Produzida e aplicada para diversos fins e em inúmeros ramos de atividade, ele destaca que o conceito já está tão arraigado em nossas vidas, que nem sempre percebemos sua presença.
As plataformas de filmes ou músicas que acessamos no nosso dia a dia utilizam IA para recomendar conteúdo relevante com base em nosso perfil de consumo de conteúdo, por exemplo. “Não percebemos este tipo de IA, mas ele é o motor por trás das recomendações”, explica Pojo. Este tipo de IA já é usada também na área de Educação, a exemplo da Escola de Negócios Saint Paul, que utiliza a plataforma de IA IBM Watson para analisar a personalidade dos alunos e recomendar conteúdo e plano de estudos personalizados para cada um. O recurso utilizado pela Saint Paul conta também com um assistente virtual que trabalha como um tutor 24×7, atendendo os alunos através de chat dentro do aplicativo. Isso, provavelmente, não é percebido do outro lado da tela.
Mas a grande questão é que tudo isso não acontece como mágica. Como, então, são produzidas as soluções de IA? Pojo explica que os processos de criação de projetos de IA surgem de diversas formas, tanto de necessidades de áreas de negócio quanto de necessidades de Tecnologia da Informação. Normalmente são demandas que buscam melhorar a experiência de clientes (externos ou internos), aumentar produtividade e auxiliar na tomada de decisão.
Projetos de IA demandam dados para serem trabalhados, segundo o especialista. “Dependendo da solução, podemos fazer uso de dados estruturados, como números, planilhas, informações de bancos de dados relacionais; ou dados não estruturados, como textos, imagens, e-mails, relatórios, que representam mais de 80% dos dados dentro das empresas”, detalha. Já o tempo de desenvolvimento depende da complexidade e nível de integração com outros sistemas. “Já vi projetos que levaram quatro semanas ou até nove meses para entrar em produção”, relata.
Pojo observa que, atualmente, existem tanto soluções totalmente baseadas em IA, como as plataformas de atendimento virtual que têm como função primária o uso de chatbots (programa de computador capaz de simular uma conversa humana em um chat) para escalar o atendimento e melhorar a experiência de clientes; quanto soluções tradicionais que fazem uso de IA para complementar funcionalidades ou tarefas automatizáveis que deveriam ser executadas por humanos. Esta última é utilizada pelo escritório de advocacia Urbano Vitalino. “Eles usam IA para extrair informações de processos em que os advogados estão trabalhando e preenchem em sistemas de CRM. Um advogado levava em média 15 minutos para executar esta tarefa, já a solução com IA leva poucos segundos”, conta.
Diante da autonomia e, consequentemente, responsabilidade que estas soluções assumem, a segurança de dados é sempre o foco mais questionado. O especialista observa que todo projeto de IA deve ser estabelecido com uma arquitetura que armazene e trate seus dados de acordo com as regras vigentes em cada região, e também seguindo as diretrizes da empresa. “Normalmente a forma de armazenamento e segurança de dados são tratados em níveis de arquitetura da solução”, informa. Com IBM Watson, por exemplo, ele explica que o usuário da plataforma pode optar por não compartilhar dados para treinamento e aprimoramento do serviço de IA da plataforma. “E os dados são, sempre, exclusivos do cliente, embora nem todos os fornecedores operem desta forma”, acrescenta.
Watson é uma plataforma de IA na nuvem desenhada para negócios, por isso, segundo Pojo, é escalável e segura para que as empresas possam se preocupar apenas com seu negócio e em usar o máximo das funcionalidades de IA para ajudar nas suas necessidades. “Neste tipo de projeto que envolve IA, sempre buscamos identificar pontos de melhoria, processos e necessidades do negócio para então desenhar uma solução específica capaz de resolver o problema identificado”, explica. Alguns casos, segundo Pojo, são replicáveis e comuns à diversas empresas, tais como atendimento virtual ou extração de informações em dados não estruturados. “Mas outros casos são muito específicos e particulares, então criamos soluções únicas. Sendo assim, cada cliente tem uma solução de IA própria, diferente de todas as outras já criadas”, diz.
Importante ainda destacar, segundo o especialista, que as soluções de IA não têm intuito de substituir humanos, mas sim de escalar seu potencial e habilidades, e auxiliar em tomadas de decisões. “Elas podem eventualmente substituir tarefas repetitivas e de alto volume, deixando mais tempo para humanos trabalharem em tarefas mais complexas”, ressalta. E adverte: “O resultado do trabalho homem + máquina é comprovadamente, sempre, o mais efetivo.”