Alunos do mestrado e doutorado da disciplina de contabilidade societária da FEA/USP, que analisaram as ganhadoras do Troféu Transparência 2021, apontam que ainda há espaço para melhorar
As demonstrações financeiras ganhadoras do Troféu Transparência 2021 foram analisadas pelos alunos de mestrado e doutorado da disciplina de contabilidade societária da FEA/USP e pela Comissão Julgadora. Para chegar as premiadas, foram três rodadas de avaliação. Primeiramente cada aluno recebeu duas ou três para avaliar os aspectos técnicos de divulgação e julgar quais deveriam seguir para a próxima rodada de avalição.
Com isso, os alunos preparam relatórios de avaliação e discutiram com os professores Ariovaldo dos Santos, Bruno Salotti e Raquel Sarquis, sendo os dois primeiros também membros da Comissão Julgadora. O suporte deles, segundo Leonardo Franco dos Santos, mestrando em Controladoria e Contabilidade da FEA/USP e contador na Siemens Energy Brasil, representando todos os alunos, foi fundamental para o cumprimento da missão. Uma curiosidade, ele conta, é que nem todos os alunos são contadores de formação, tinha advogados, economistas e atuários na turma, o que agregou muito às análises, pois trouxeram visões mais abrangentes. Isso com certeza traz muita qualidade na avaliação da transparência.
Por fim, as empresas selecionadas após as três rodadas de avaliação passaram às decisões finais para avaliação dos professores e dos outros membros da Comissão, que ainda inclui Eliseu Martins, Pedro Lucio Siqueira Farah e Sérgio de Iudícibus, para a tomada da decisão final de quais seriam as ganhadoras.
“A avaliação das demonstrações financeiras não poderia ter vindo em um melhor momento para nós alunos do mestrado e doutorado da FEA/USP, tivemos a oportunidade de aplicar os conhecimentos adquiridos na disciplina de contabilidade societária e ter uma experiência singular com essa análise e avaliação. Foi um trabalho intenso que certamente agregou para todos os alunos”, explica Santos.
É importante lembrar que foram analisadas as demonstrações financeiras de 2020, ano do início da pandemia. Certamente isso trouxe desafios adicionais diversos para as empresas como a manutenção dos negócios, adaptação para o ambiente virtual e das funções administrativas e para os contadores responsáveis pela preparação. Santos avalia que mesmo assim perceberam que se buscou identificar e divulgar os impactos sofridos com a pandemia e esse é o principal destaque já que naturalmente é um assunto relevante não somente para análise dos resultados financeiros, mas para comunicar o posicionamento na perspectiva social.
Outro destaque é a manutenção e melhoria, em alguns casos, da qualidade das demonstrações financeiras apresentadas pela grande maioria das empresas, isso demonstra o comprometimento da administração com a transparência. Além disso, diversas delas se preocuparam em divulgar informações adicionais as exigidas pelas normas contábeis (divulgação voluntária), principalmente relacionadas aos efeitos financeiros da pandemia.
De forma geral, Santos entende que a qualidade foi mantida. As que se destacaram cumpriram com os requisitos básicos de divulgação de acordo com as normas contábeis brasileiras e foram além com divulgações adicionais do desempenho financeiro e do posicionamento social diante da situação delicada em que o país passou em 2020.
Ele conta que perceberam uma preocupação em detalhar e divulgar fatos relevantes e materiais que aconteceram durante o ano, porém em alguns casos existe um excesso de informações que não são entendidas como relevantes e incluem itens que não são obrigatórios de divulgação como, por exemplo, as extensas notas explicativas de políticas contábeis. As empresas que conseguiram apresentar seu desempenho de forma clara e objetiva certamente se destacaram em relação as demais.
O Prêmio é a consagração de todo o trabalho que as empresas realizaram durante um ano para comunicar seu desempenho ao mercado com qualidade. Também serve como incentivo para buscarem melhorar a qualidade na divulgação das demonstrações financeiras o que beneficia os usuários da informação contábil e a sociedade como um todo que tem a oportunidade de acompanhar com detalhes os impactos que elas têm no país”, explica Santos.
Na visão dele, é muito gratificante observar que as empresas que atuam no mercado brasileiro têm o compromisso de prover informações financeiras e não financeiras para nossa sociedade. Isso demonstra que os executivos e contadores entendem a importância social que as demonstrações financeiras têm e o seu papel mais fundamental que é o de comunicar.
“Nesse sentido, as empresas poderiam observar para os próximos anos dois aspectos fundamentais nesse processo: a quantidade de informações divulgadas e a forma de comunicá-las. Em relação ao primeiro aspecto, é importante que se concentrem naquelas consideradas relevantes, pois percebemos a divulgação em excesso principalmente nas notas explicativas. O segundo aspecto tem relação com a abrangência que as DFs poderiam tomar e relação ao público que poderia atingir. Uma linguagem mais simples e com uma maior clareza sobre os termos técnicos trariam um ganho na visibilidade e utilidade por públicos mais diversos”, diz Santos.
Nos últimos 25 anos, as demonstrações financeiras passaram por mudanças significativas, a mais recente foi a adoção das normas internacionais (IFRS) em 2010. Naturalmente as empresas vieram se adaptando às novas normas desde então e com isso a qualidade vem melhorando. Percebe-se que aquelas que acompanharam a evolução tecnológica dos últimos anos, conseguem levantar uma grande quantidade de informações e apresentá-las ao mercado com o detalhe necessário e no prazo esperado.
Confira o regulamento do Troféu Transparência aqui.