Para construir uma carreira de sucesso, foco deve ser nas oportunidades trazidas pelas transformações digitais
Em sua terceira edição, o seminário CFO Day, realizado pela ANEFAC no dia 28 de outubro on-line, reuniu diretores financeiros para compartilharem experiências e visões de negócios com base em dados da pesquisa: “O Perfil do CFO no Brasil 2021″, realizada pela Assetz e Insper, que mostram que os aspectos como desafio e autonomia são os maiores motivadores para esses profissionais. Ao todo, 128 líderes de times financeiros das empresas classificadas como as 500 maiores pela Revista Exame foram entrevistados e responderam 80 questões.
A média de idade dos participantes foi de 47 anos com mais de 20 de experiência em finanças. Já desempenhando a função de CFO, estão em média há sete anos. Segundo o estudo, a maioria dos líderes financeiros é formada em Administração, Economia e Engenharia. 90% se identificaram como sendo do sexo masculino (90%) e apenas 8% se declararam pretos. Bem como, 70% possuem pós-graduação e 64% têm um MBA. Nenhum deles realizou um doutorado ou PhD.
No mercado de hoje, os principais desafios na agenda dos CFOs estão atrelados tanto às habilidades comportamentais (como a liderança de equipe), quanto ao conhecimento técnico. Em uma realidade pós-pandemia, Felipe Brunieri e Guilherme Federico Malfi, sócios na Assetz e que palestraram no evento, avaliam que esse profissional, cada vez mais, necessita priorizar a seniorização do time, de modo a fortalecê-lo, e, ao mesmo tempo, dar atenção à manutenção da equipe, oferecendo, em parceria com o RH da empresa, ambientes mais dinâmicos, flexíveis e diversos.
Para isso, Camila Lacerda, CFO na Pipo Saúde e que palestrou no evento, os CFOs da nova economia de hoje precisam garantir a construção, o desenvolvimento e a retenção de um time diverso e complementar, sempre pensando em formar pessoas que consigam ser inovadoras e ágeis na resolução de problemas com o uso da tecnologia a seu favor. É desafiador saber priorizar com tanta distração e identificar e gastar tempo nas atividades que de fato geram valor.
Além disso, o diretor financeiro precisa estar atento ao desenvolvimento de habilidades comportamentais tanto de si mesmo, quanto do time com quem trabalha, principalmente as competências que estejam diretamente ligadas à função e à empresa. A gestão virtual também se torna um desafio, uma vez que os CFOs devem buscar formas de engajar e estimular a equipe à distância, considerando a implementação de um modelo híbrido de trabalho. “Em relação à parte técnica, conhecimentos voltados à gestão de riscos, como financeiros, operacionais e estratégicos, e ao suporte às áreas de negócio devem continuar sendo prioridades”, pontuam Brunieri e Malfi.
Sem sombra de dúvidas, de acordo com Aury Ronan, diretor de finanças corporativas da ANEFAC e CFO na Nuvini, que moderou o encontro, os CFOs devem estar atentos à visão estratégica e liderança na transformação do negócio. Já se foi o tempo em que esse profissional preparava demonstrações financeiras e as apresentava para executivos e acionistas em uma reunião mensal. Hoje, ele precisa ser parceiro de negócios, ao mesmo tempo que mantém a governança funcionando de maneira impecável, gerindo riscos, expectativas e retornos.
Oportunidades aos CFOS estão relacionadas ao digital e estratégico
A grande oportunidade para o CFO nos tempos atuais está em assumir uma função chave na transformação do negócio, desde melhorias na performance dos já existentes até a concepção estratégica de novos produtos, especialmente os digitais. Neste contexto, Ronan avalia que é uma oportunidade excepcional para se criar as bases financeiras, comunicar adequadamente a performance numa linguagem simples e objetiva, e, liderar pelo exemplo, aplicando uma visão pragmática sobre inovação e gestão de resultados por projetos e seus impactos no negócio como um todo. “Além disso, poder estar à frente das decisões, já que conseguem ter uma visão muito ampla de como se opera e performa. Bem como, fazer parte da nova economia formada por empresas de tecnologia que crescem muito rápido e precisam de constante investimento para serem bem-sucedidas”, complementa Lacerda.
O CFO deve sempre focar na melhoria da performance do negócio a fim de torná-lo mais rentável, atuando não só na redução de gastos e no controle de custos, mas também no incremento de receitas. Dessa forma, cada vez mais, precisa ser um executivo que não apenas fala “não”, mas que ajuda as demais áreas a construir o “sim” no que diz respeito à evolução de algum projeto ou na tomada de decisão. De acordo com Brunieri e Malfi, ademais, é necessário investir na implementação de iniciativas tecnológicas, utilizando machine learning, data analytics e dashboards, a fim de consolidar dados para análise e otimizar processos. Por último, deve procurar ser o mantenedor da governança corporativa, para contribuir para a eficácia dos controles internos, estruturação dos processos e manutenção da integridade.
Quanto aos soft skills, Brunieri e Malfi avaliam que é imprescindível que o CFO seja adaptável a mudanças, resiliente e flexível, dado o país volátil político e economicamente em que vivemos; que construa equipes eficientes, focadas na entrega do resultado e capazes de realizar um trabalho qualitativo em um ambiente de alta performance; que seja voltado ao desenvolvimento de pessoas; e que apresente uma comunicação efetiva, de modo a se comunicar claramente com os stakeholders internos e com o mercado. “O diretor financeiro deixa de ser somente o guardião das demonstrações financeiras e passa a aportar valor ao negócio, ajudando as demais áreas, como Vendas, Supply Chain e Marketing, a tomar decisão e conduzindo projetos e iniciativas para o cumprimento da estratégia”, explicam.
Em relação à parte técnica, deve conhecer bem os três pilares de finanças, controladoria, tesouraria e planejamento financeiro e ter uma visão voltada à gestão de riscos, tanto financeiros, como operacionais e estratégicos. Também se faz necessário sólido viés para o compliance e para a estruturação de um ambiente de governança corporativa consistente, a fim de evitar possíveis fraudes ou erros.
Perfil do CFO exige atualização constante e competência diversas
A formação acadêmica também deve ser sólida, uma vez que escolas bem-conceituadas, especialmente no curso de MBA, são fundamentais para a sua carreira. Em relação aos idiomas, é fundamental um nível avançado ou fluente do inglês, e o espanhol torna-se um diferencial, pois estamos em um hub regional e o Brasil tende a consolidar muitas informações provenientes da América Latina.
Em adição a isso, Brunieri e Malfi apontam ciclos mais duradouros nas empresas, que deixem um legado ou uma história para contar, são muito bem-vistos pelo mercado, assim como experiências diversas (em auditoria, consultoria, mercado financeiro), vivências em setores diferentes e gestão de outras áreas, como Compras e TI. É importante, também, participar ativamente de projetos ad-hoc, tais como abertura de capital, reestruturação societária e compra e integração de empresas.
Por fim, faz-se necessário manter um vasto networking junto à comunidade financeira, especialmente para a troca de percepções e ideias ou uma eventual recolocação.
Entre os requisitos para a carreira do CFO, Ronan aponta que são vários e em diversas esferas:
1) Trabalhar com dados, robotização e automação de processos: transformar rotinas em processos automatizados está deixando de ser uma oportunidade, e se tornando uma necessidade.
2) Promover a diversidade e o desenvolvimento do time: ninguém faz nada sozinho. A verdade é que o líder precisa sim ser o exemplo de empenho por educação continuada e do desenvolvimento de um ambiente receptivo e diverso.
3) Gerir riscos e comunicar os desafios aos vários stakeholders: o ambiente de negócios está cada vez mais complexo, e os stakeholders mais munidos de informação. É preciso comunicar de forma eficaz os riscos e os benefícios do negócio, de forma direta e objetiva.
Bem como ainda, a capacidade de se adaptar a diferentes situações de forma rápida, flexibilidade e saber priorizar e entender onde deve estar o seu foco. “O CFO precisa ter boas habilidades de liderança, porque conseguir construir e desenvolver um time é crucial para o seu sucesso. Por último, o perfil de alguém que está sempre pensando em inovar e testar coisas diferentes é muito mais bem sucedido hoje porque tudo está mudando bastante rápido, diferente de outros tempos”, explica Lacerda.
A velocidade com que as coisas mudam no mercado e nas empresas aumentou de forma exponencial nos últimos anos, e vai acelerar ainda mais à medida que a tecnologia é inserida nos mais diversos segmentos. O CFO precisará, na percepção de Ronan, ser um profissional fluente em gestão da informação, tratamento de dados e um comunicador avançado. Esta é a única maneira de acompanhar a velocidade da inovação e das transformações. Para fazer isso, o profissional tem que ser alguém que desenvolva a capacidade de aprendizado constante, a habilidade de gerir pessoas com skills diversos e a implementação de uma gestão descentralizada, no formato de parceiros de negócios, onde finanças tem presença nas mais diversas áreas, qualificando a informação e diminuindo o tempo de divulgação dos resultados.
De acordo com Lacerda, o CFO tem o potencial de ser cada vez mais estratégico e relevante na tomada de decisões importantes das empresas no futuro. Isso porque o perfil atual bem-sucedido é de alguém com uma excelente visão de negócio e boa capacidade de resolução de problemas e que além disso é um líder de sucesso. “Acredito que cada vez menos o conhecimento específico ou uma carreira longa em finanças será um requisito chave para o futuro nas empresas e que competências mais “soft” ligadas à comunicação, liderança, gestão de time e inovação farão parte do futuro perfil desse profissional”, avalia.
Cada vez mais, o profissional de finanças vai se dedicar ao suporte ao negócio, ou seja, o auxílio ao CEO e às áreas de marketing, vendas e operações no processo de tomada de decisões estratégicas. “Manter-se atualizado em relação às tecnologias a fim de otimizar o tempo e entregar um trabalho mais qualitativo, possuir um olhar para gestão de riscos financeiros, operacionais e estratégicos, e aprofundar seu conhecimento em tesouraria estratégica mais voltada a captações para futuras expansões e para o desenvolvimento de novos negócios, se tornarão fundamentais para o seu sucesso. Quanto ao perfil comportamental, continuará sendo muito adaptável a mudanças, resiliente e capaz de construir times eficientes, engajados e preparados para lidar com dificuldades e cumprir os prazos”, finalizam Brunieri e Malfi.
Ainda palestram no evento, Eduardo Ferraz, CFO no Olist, e Marcio Pionkowski, founder na CFO Service.
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