Uma vez ouvi o seguinte diálogo:
Líder: a empresa pediu para eu aplicar um auto feedback, preciso escrever isso neste formulário, mas tenho dificuldades, você pode me ajudar?
Liderado: sim, claro.
Líder: você vê algum ponto de melhoria que eu esteja precisando?
Liderado: sendo bem honesto, você não aceita as minhas ideias, sempre que eu lhe digo algo você ignora.
Líder: Não concordo!
Pronto, o diálogo foi encerrado, e o líder preencheu o formulário se dizendo um bom ouvinte.
Por isso eu gosto da ‘Avaliação 360 graus’, que é um método de avaliação de desempenho profissional em que a pessoa recebe uma avaliação de todos os outros colaboradores, independentemente da hierarquia e, também, por clientes, fornecedores etc., e pode comparar estas com a sua própria.
Aplicar tal instrumento gera certo desconforto, além de precisar envolver muita gente, traz à tona a avaliação considerando a visão de outras pessoas, o que nem sempre coincidirá com as nossas autoavaliações, mas como grande benefício, pode ser utilizada como ferramenta para quebra de favoritismos e/ou injustiças.
Como exemplo, a ferramenta pode identificar que a alta rotatividade de determinada área, pode estar ligada a uma péssima gestão, mas que se mantém no posto pela relação pessoal com seu superior. Neste caso, a avaliação dos líderes para este avaliado (a) seria geralmente positiva, enquanto a avaliação recebida dos subordinados dele (a) provavelmente negativa.
Assim, essa ferramenta nos faz recordar de Platão com sua Alegoria da Caverna, contada pelo filósofo no livro A República.
O texto trata de um diálogo entre Sócrates, personagem principal, e Glauco, seu interlocutor. Sócrates pede a Glauco para imaginar a existência de uma caverna iluminada pela luz de uma fogueira, onde prisioneiros vivessem amarrados, ouvindo ecos e enxergando apenas as suas próprias sombras projetadas na parede situada à frente, mas que eles, por estarem olhando apenas as projeções, se quer poderiam perceber que as sombras eram de si mesmos.
Quando um dos prisioneiros repentinamente é liberto, a luz solar ofusca a sua visão e ele se sente desconfortável, até que percebe pessoas e uma fogueira projetando suas sombras e que delas advinham os ecos. Aos poucos, sua visão se acostuma com a luz e ele começa a perceber a infinidade do mundo e da natureza que existe fora da caverna.
Utilizar a avaliação 360 graus ajuda no descobrimento da realidade dos fatos, o que se encaixa análoga e perfeitamente a esta alegoria platônica, e, correlatando, teríamos o seguinte:
Os prisioneiros: Seriam os colaboradores em geral de uma companhia, os quais por conta da ausência de feedback de visão 360o, enxergam a realidade deturpada.
A caverna: Seria a companhia que não possui políticas internas para aplicação deste tipo de feedback ou não as aplica.
As sombras na parede e os ecos na caverna: Simbolizariam a ausência de um feedback completo e, por consequência, a de uma avaliação mais precisa, pois não seria possível ter um julgamento eficaz sem uma avalição desta amplitude.
A saída da caverna: Significaria aplicar este modelo de avaliação.
A luz solar: Seria o resultado do feedback, que gera desconforto, mas possibilita um olhar mais amplo sobre as reais competências (e incompetências) dos colaboradores.
A pergunta que fica é: será que as lideranças estão preparadas para receber essa luz solar?
Lord Excrachá trouxe essa história a partir da história contada por Cristina Augusto Mariano Rodrigues sobre suas impressões a respeito do processo de feedback para gestores. E você? Tem uma boa história para nosso Lord?
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Se você tem um causo inusitado, engraçado ou curioso envolvendo o mundo corporativo para contar, envie para esta coluna pelo e-mail comunicacao@anefac.org.br, que nosso lorde está pronto para escrachar. Mas pode ficar tranquilo, como todo lorde que se preze, Lord Excrachá é discreto. (Importante: as identidades dos colaboradores desta coluna não serão divulgadas.)
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Lord Excrachá é uma criação de Emerson W. Dias, vice-presidente de Capital Humano da ANEFAC e fundador do portal e da série de livros O Inédito Viável.