3º Meeting day da transparência mostra que auditoria digital já é realidade e vem trazendo mais eficiência e agilidade na elaboração de relatórios contábeis e financeiros
Quando se fala em inovação, a contabilidade não costuma ser a primeira que vem à mente. Mas a área foi bastante impactada pela tecnologia nos últimos anos. A inovação trouxe à auditoria mais eficiência e agilidade na hora da elaboração dos relatórios. A aplicação disso, contudo, não é fácil, e depende de uma série de fatores que vai desde mudanças de estrutura, formação dos profissionais a investimentos. O 3º Meeting day da Transparência, realizado pela ANEFAC nos dias 6, 11 e 12 de novembro on-line, trouxe no primeiro dia toda essa transformação que tem acontecido nas auditorias e nas suas atividades.
“No passado, os trabalhos de auditoria eram documentados no ‘papel’ (não existia notebook para todos os profissionais). Com o advento da tecnologia, muitos procedimentos estão, atualmente, sendo realizados através de sistemas, restando aos profissionais o trabalho mais nobre (a análise)”, avalia Tiago Bezerra, sócio de auditoria da BDO responsável pelo escritório de Fortaleza. E, completa: “os trabalhos de auditoria tiveram grandes mudanças nos últimos 20 anos, dentre as inovações, destaco o uso da ciência de dados, que nos permite fazer um trabalho de auditoria mais seguro e objetivo”, explica.
Antes de avaliar as principais inovações nas auditorias Marcio Santos, sócio líder de audit innovation e Alessandro Sato, sócio-diretor de audit innovation, ambos da KPMG Brasil, acreditam que precisamos dar um passo anterior e pensar qual o papel do auditor no futuro e qual será o contexto de trabalho junto aos clientes, órgãos reguladores, tecnologia disponível, formação dos profissionais, entre outras vertentes. Por esse motivo, quando se fala em inovação para a auditoria é preciso ter em mente, que se está atuando em diversas frentes de trabalho e não só em um aspecto.
Na KPMG a área de audit technology and innovation foi estruturada há alguns anos para possibilitar o foco em inovação com uma equipe multidisciplinar de auditores, com visão de negócios e futuro, e profissionais de diversas frentes tecnológicas. Boa parte dessa evolução que buscaram nos trabalhos de inovação, não está mais no futuro e sim no presente. É uma dinâmica de trabalho objetivando a entrega em ciclos de inovação para atender o core, adjacente e disruptivo. Para ilustrar alguns desses ciclos, no aspecto da formação dos profissionais de auditoria, revisaram os treinamentos e implementaram projetos internos com o objetivo de preparar os auditores da KPMG para o novo contexto e realidade. Do ponto de vista operacional, também incorporaram várias inovações, com o uso de tecnologia como inteligência artificial e data & analytics na execução dos testes de auditoria.
“Há muito tempo o mundo corporativo vem sofrendo um aumento sem precedentes no volume de dados utilizados, produzidos e armazenados em suas operações, o que trouxe a necessidade de investimentos maciços em tecnologia, de forma a suportar a transformação que esses volumes de dados traz e requer para que os processos financeiros sejam cada vez mais ágeis, eficientes, seguros, consistentes e transparentes. As empresas de auditoria fazem parte desse ecossistema e são impactadas pelos mesmos fenômenos o que requer também de sua parte, uma profunda transformação, não somente tecnológica, como também de seus processos, metodologias, recrutamento e treinamento de suas pessoas”, aponta Roberto Martorelli, office managing partner no Rio de Janeiro na EY.
Na EY as iniciativas de inovação não são isoladas. A empresa buscou soluções que impactem globalmente suas auditorias, garantindo consistência nos processos, clara comunicação com os stakeholders e, principalmente, eficiência durante a auditoria, por meio da digitalização de todo o processo, melhorias na forma como identificam e avaliam riscos e foco nos assuntos de relevância.
Nesse sentido, implantou anos atrás uma plataforma global de auditoria, o EY Canvas, que é o coração da sua Auditoria Digital, e conecta os seus profissionais aos clientes, permitindo a execução, coordenação e monitoramento das auditorias de forma consistente globalmente, independentemente de sua localização, tamanho ou complexidade, auxiliando os auditores a focar nos riscos e nas respostas à esses riscos e a comunicar os resultados de forma mais ágil e tempestiva. Essa plataforma conta ainda com um Portal de compartilhamento de informações e comunicação com os seus clientes, que traz mais agilidade e segurança no tratamento dos dados. Também é uma plataforma acessível através de dispositivos móveis trazendo eficiência ao processo de auditoria.
Outro aspecto relevante da auditoria digital da EY é a forma como tratam os dados dos clientes. O uso de técnicas analíticas avançadas é cada vez mais crítico em suas auditorias uma vez que permite a execução dos procedimentos com maior qualidade, agilidade e com apontamentos mais relevantes, tanto para a empresa como para os clientes. Nesse cenário, implementou também globalmente o EY Helix, plataforma global de data analytics, totalmente integrada com a sua metodologia, que inclui a captura segura de dados de qualquer volume ou complexidade, e o seu processamento rápido e seguro durante todas as fases da auditoria.
Finalmente, um aspecto primordial dessa transformação na auditoria, a EY acredita que são as pessoas. Todo o processo de recrutamento vem passando por mudanças ao longo dos últimos anos, com a procura de profissionais com backgrounds diversos, habilidades complementares, orientações analíticas, familiaridade com tecnologia, entre outros. E os programas de treinamentos também vêm sofrendo transformações, para preparar os profissionais cada vez mais para essa nova era de análise de dados, identificação de tendências, anomalias e outras informações que os ajude a focar mais nos riscos e no que é relevante para os usuários das demonstrações financeiras.
Inovar vai além da tecnologia
Inovação não é somente tecnologia, segundo Marcio e Alessandro, inovação é maneira como pensamos os nossos processos e produtos. “Temos parte das inovações relacionadas à tecnologia, como por exemplo, a análise de 100% dos dados em determinados testes de auditoria, ao invés do uso de amostras, apesar da metodologia ainda considerar como requerido o processo de amostragem, isso é possível com o uso de técnicas de data & analytics e, ainda, a leitura de documentos em diversos formatos aplicando recursos de Inteligência Artificial. Outra parte das inovações está relacionada a formação dos profissionais, entendimento das novas demandas dos órgãos reguladores e de classe, dentre outros. A tecnologia nos propícia a pensar em diferentes cenários, desafiando nosso “status quo”, com o objetivo de inovar os processos de auditoria, é com certeza uma grande aliada, porém não podemos esquecer que temos o aspecto humano nas inovações, desde a concepção, desenvolvimento, implementação e execução, é um processo de melhoria contínua”, salientam.
Para Roberto, não há dúvidas que praticamente toda a inovação está diretamente relacionada com a tecnologia. “O volume de dados produzido hoje pelas empresas atinge escalas nunca vistas antes a uma velocidade surpreendente. A única forma de se lidar com isso é através do uso inteligente da tecnologia. Por isso, cada vez mais investimentos são realizados pelas empresas, garantindo a capacidade de processamento e armazenamento, com segurança, dessas informações. É uma condição que não há volta. As empresas e seus auditores serão obrigados a fazer esses investimentos que, devem ser muito bem planejados para que se aproveite ao máximo as possibilidades de ganhos de eficiência que a tecnologia traz para os negócios, as operações, os processos e os controles internos”, ressalta.
A multidisciplinariedade do novo auditor
“Os profissionais de auditoria foram diretamente impactados pelas inovações tecnológicas, mas os fundamentos da auditoria não foram modificados, por isso a tecnologia deve ser vista e usada como um benefício e não como uma barreira ou desafio”, acredita Roberto. E complementa: “cada vez mais procuramos montar equipes com capacidades diversas e que saibam extrair ao máximo os benefícios de uma auditoria focada em análise avançada de dados. Nesse sentido, os profissionais ou futuros profissionais da área devem buscar estar mais preparados para realizar atividades analíticas e serem capazes de identificar e interpretar dados e tendências, sem deixar de lado as capacidades tradicionais da profissão de auditor”.
O perfil do auditor está em constante aprimoramento, de acordo com Marcio e Alessandro, desde a adoção de inovação no seu dia a dia, seja através das novas tecnologias, permitindo a realização dos testes de auditoria sob novas óticas, ou da sua formação profissional. “Entendendo a sua participação no contexto presente, onde os clientes demandam estarmos constantemente atualizados em relação as tecnologias, que são aplicadas no seu negócio, e que ao final do dia, refletem nos seus resultados contábeis e financeiros. Precisamos ter profissionais com skills de tecnologia e conhecimentos das possibilidades tecnológicas que possam auxiliá-los na execução e entrega com maior qualidade e eficiência processual”, alertam.
Na visão de Tiago, para ser um bom auditor nunca basta apenas ter conhecimento de auditoria, mas sim de contabilidade e finanças, bem como sempre acreditou ser necessário que esse profissional possuísse outros conhecimentos como por exemplo, gestão de projetos, aplicação de novas tecnologia, matemática e estatística. “As inovações ocorridas até o momento provam que o novo perfil do auditor é um profissional multidisciplinar. Acredito que teremos várias mudanças nos próximos anos. As inovações e as tecnologias que estão surgindo na auditoria permitirão cada vez mais aos auditores independentes agregarem valor a seus clientes e seus negócios”, adverte.
Qual o futuro da auditoria?
Com certeza muito foi feito, mas ainda há muitas possibilidades e oportunidades para inovar na auditoria, o importante é que esse caminho já foi iniciado por uma parte das empresas do mercado. A KPMG, por exemplo, já tem operado na auditoria digital, pois possuem soluções inovadores com o uso de tecnologias digitais, estão capacitando constantemente seus auditores, e fazendo parte de grupos de inovação em órgãos de classe e fóruns. “A chave do futuro da auditoria é mantermos essa constante evolução, inovando, desafiando o “status quo” com novas ideias e sobretudo prepararmos nossos profissionais para essa jornada, junto aos nossos clientes e demais entidades que fazem parte deste processo. O futuro está focado em automação total e plataformas de entrega com conectividade plena, considerando frente de grande disrupção adicionadas ao core e adjacente”, pontuam Marcio Santos e Alessandro Sato.
A auditoria digital já não é mais o futuro, é o presente, na EY também é assim. “O volume de dados, os investimentos feitos pelas empresas, as expectativas dos stakeholders por cada vez mais qualidade e transparência nas demonstrações financeiras e, consequentemente, em suas auditorias, faz com que a auditoria digital não seja mais uma opção, e sim um requerimento mínimo. É como um caminho sem volta, as empresas de auditoria terão o desafio de manterem-se sempre atualizadas conforme novas inovações e evoluções vão surgindo no meio corporativo”, adverte Roberto Martorelli.
Já na BDO, as novas ferramentas tecnológicas disponíveis no mercado têm ajudado muito os auditores, principalmente buscando eliminar atividades repetitivas que antigamente eram realizadas por pessoas e hoje são realizadas por sistemas ou até mesmo robôs. “Estamos totalmente focados nesse modelo”, pontua Tiago Bezerra.
Saber analisar as informações contábeis e financeiras está no topo da lista de desejos
A importância da análise dos dados financeiros que envolvem as demonstrações financeiras está na análise financeira, que valida e explica os resultados apresentados. “Como profissional da área de contabilidade, uso análise financeira para entender as variações de resultados no P&L e de saldos no balanço. As demonstrações financeiras por si só não dizem muito. Temos que usar várias ferramentas para entender e “contar a história” de um período para o outro. Ou seja, fazer uma auditoria das demonstrações é importante para a certificação dos números, mas somente com análise financeira entendemos o que aconteceu em um período, que seja um mês, trimestre ou ano”, explica Pedro W. Chaves, vice president finance Américas da Microstrategy.
O uso de análise financeira tem se tornado muito importante na área contábil e financeira. Para isso, é essencial haver informações claras, corretas e concisas. Por exemplo, na Microstrategy, são usados três sistemas principais para chegarem as suas demonstrações contábeis. “Há algum tempo, teríamos que processar relatórios de cada sistema e consolidar ou agrupar as informações em planilhas, para então ter uma visão mais holística dos resultados. Hoje, usamos ferramentas da própria empresa que nos trazem informações de diversos sistemas consolidados em um relatório ou, como chamamos, em um dossier. Com isso, performamos as nossas análises muito mais rápidas, produzimos dashboards super dinâmicos, e temos a mesma fonte de informação para todos (“one source of truth”), diz Pedro.
Além disso, ele entende que, não há dúvida que, os profissionais das áreas de contabilidade e finanças, estão sempre à procura de ferramentas de tecnologia para alavancar o desempenho de suas equipes. “O nosso objetivo, como profissionais da área, é de continuamente proporcionar mais precisão, eficiência e rapidez de nossos trabalhos. E, certamente, as inovações que vemos hoje na área são quase sempre devido à avanços tecnológicos, como o exemplo que usei dos dossiers”, finaliza.
Confira os vídeos com a íntegra do evento de acordo com cada dia:
1º dia do Meeting Day
2º dia do Meeting Day
3º dia do Meeting Day