O futebol é considerado um grande negócio desde o início do século passado. Movimenta grandes somas todos os anos no mundo inteiro, no Brasil não é diferente, segundo dados divulgados, o futebol brasileiro movimentou em 2019, somente com clubes de série A, mais de R$ 6 bilhões. Para Carlos Aragaki, vice-presidente adjunto da ANEFAC e sócio líder da área de esporte total da BDO, esse montante, já justifica o tamanho do mercado.
A grande questão é que tão grande quanto as receitas são as dívidas dos clubes brasileiros. De acordo com Carlos, os patamares de endividamento atual estão acima dos R$ 6 bilhões (dados de 2019 para os clubes da série A. Por isso, ele acredita que existe a urgente necessidade de aprimoramento e profissionalismo da gestão dos clubes, pois o momento é de aprovação dos projetos de clube-empresa e os investidores querem entrar nesse seguimento, mas exigem a transparência das suas demonstrações contábeis.
Partindo do princípio de que os clubes de futebol são como empresas, é primordial que haja o controle de receitas e despesas, bem como da folha salarial, fluxo de caixa e outros, além da devida publicação dos relatórios administrativos, financeiros e contábeis. Pensado em trazer mais governança, transparência e gestão aos clubes de futebol, a ANEFAC realizou em 3 de dezembro, o último de três eventos que aconteceram esse ano, sobre a temática. Com medicação de Carlos Aragaki, e participação de Chilana Leonardo, gerente sênior da KPMG, Anderson Santos, diretor financeiro do Clube de Regatas Vasco da Gama, e Elias Albarello, diretor executivo financeiro do São Paulo Futebol Clube.
“É necessário discutir governança, transparência e gestão dos clubes de futebol, pois, como qualquer outra atividade econômica deve ser profissionalizada, uma vez que movimenta 1,7% do PIB e emprega quase 160 mil pessoas, direta e indiretamente. Passar por um processo de profissionalização fora das quatro linhas é imperativo. As melhores práticas de gestão devem fazer parte do dia a dia desta indústria”, explica Elias. Ainda nessa linha, essa discussão é fundamental, de acordo com Francisco Clemente, líder de mídia e esportes da KPMG no Brasil, assim como a sua prática. “O futebol brasileiro tem um potencial impressionante e as oportunidades batem nas portas todos os dias. Clubes com estrutura de governança equilibrada, acompanhada por uma gestão com direção definida e um projeto sério de transparência com certeza saem na frente e absorvem melhor essas oportunidades”, avalia.
As boas práticas de governança contribuem para o equilíbrio da tomada de decisão. E isso, segundo Francisco, no processo de reestruturação financeira, realidade da maior parte dos clubes brasileiros da série A, claramente é necessário definir o que precisa ser feito com mais ou menos urgência, e ter toda a organização ciente das prioridades e trabalhando no mesmo sentido é fundamental para o sucesso do projeto. “A transparência é parte dos princípios básicos de um bom processo de governança, precisamos ter na cabeça que o que clube entrega provavelmente é o que ele receberá em troca, ou seja, aumentando a confiança do mercado maior a chance de novos e bons investimentos”, ressalta.
Profissionalização precisa caminhar a passos mais rápidos
Na visão de Elias, neste momento, os clubes estão passando por um momento de transição no que diz respeito à gestão, com a contratação de profissionais reconhecidos por suas atuações em diferentes indústrias que não em clubes de futebol, trazendo, consigo, o estado da arte em gestão, amplamente praticada no mercado corporativo nos mais diferentes setores. “Eles deveriam desenvolver mecanismos que venham a mitigar alguns fatores importantes e que causam insegurança/impactos na gestão como, por exemplo, resultados “nas quatro linhas”, redes sociais etc. Pois, em decorrência da aprovação do projeto de clube-empresa, poderão tornar-se potenciais alvos de investidores e, com isso, serem inseridos no mercado de capitais, inclusive internacionais”, adverte.
Enquanto, Francisco pontua que os clubes estão caminhando nesse sentido, mas, de fato, ainda há muito a ser feito. “É muito importante que cada um ache o equilíbrio ideal no processo de profissionalização para que não se torne um processo inviável. Tratar o tema orçamento com responsabilidade e entender a importância da tomada de decisão baseada nessa peça é de fundamental importância no processo de gestão e, logo, para a manutenção da estabilidade financeira. Cada clube, por mais que sejam parecidos, tem a sua particularidade e, consequentemente, a definição de eficiência pode variar. Em linhas gerais, acredito que um planejamento estratégico com objetivos bem definidos e possíveis de ser implementado, combinado com um processo contínuo de profissionalização e governança agregariam muito valor para o processo de busca pela eficiência”, finaliza.