“A transição para uma economia circular não se limita a ajustes visando reduzir os impactos negativos da economia linear. Representa uma mudança sistêmica que constrói resiliência em longo prazo, gera oportunidades econômicas e de negócios, e proporciona benefícios ambientais e sociais”
Para entender o conceito da economia circular devemos partir do princípio da impossibilidade de manter, indefinidamente, a prática de produção linear: “extrair – produzir – descartar”, que é a base do modelo econômico vigente. Além do esgotamento dos recursos naturais, temos um sério problema de descarte de resíduos que contaminam os ecossistemas necessários à vida: ar, clima, água potável e solo.
A economia circular está fundamentada em ciclos livres de rejeitos, como ocorre na natureza e baseia-se nos seguintes princípios:
• eliminar resíduos e poluição desde a concepção de produtos e serviços;
• manter produtos e materiais em uso pelo maior tempo possível;
• regenerar sistemas naturais degradados.
Conforme a Fundação Ellen MacArthur (2020), instituição não governamental que trabalha no engajamento de empresas, governos e academia para a nova economia:
“A transição para uma economia circular não se limita a ajustes visando a reduzir os impactos negativos da economia linear. Ela representa uma mudança sistêmica que constrói resiliência em longo prazo, gera oportunidades econômicas e de negócios, e proporciona benefícios ambientais e sociais”.
A economia circular é influenciada por diversas escolas de pensamento, a saber: design do Berço ao Berço, Economia de Performance, Biomimética, Ecologia Industrial, Capitalismo Natural e Economia Azul.
As abordagens circulares visam reter os recursos o maior tempo possível em uso, de forma a reduzir a necessidade de entrada de novos recursos no sistema, diminuindo assim a pressão sobre as matérias-primas e recursos naturais. Também se baseia na utilização de energias renováveis como biogás, solar e eólica.
Dentre os elementos básicos para a construção de uma economia circular podemos citar:
1 – Design: desenho de produtos e serviços que facilitem a reutilização, reciclagem e aproveitamento em múltiplos ciclos.
2 – Ciclos reversos que possibilitem o aproveitamento e retorno dos materiais ao solo, no caso de materiais orgânicos, ou ao sistema de produção industrial, no caso de materiais técnicos.
3 – Novos modelos de negócios, a exemplo da IVY, marca de produtos de higiene e limpeza para casa e da startup chilena Algramo, com foco em redução do impacto de embalagens.
A IVY oferece uma linha de produtos de limpeza 100% naturais e concentrados, vendida em cápsulas, adquiridas por meio de assinatura ou compras avulsas. Separadamente são vendidos borrifadores para diluição e aplicação dos produtos. A empresa também conta com serviço de logística reversa para a devolução das cápsulas após o uso.
A Algramo criou um sistema de vendas de produtos de primeira necessidade a granel, com embalagens próprias e reutilizáveis. Através de dispensadores automáticos instalados em diversas mercearias, os clientes podem comprar qualquer quantidade pagando somente o produto. Recentemente, a empresa lançou a “embalagem inteligente”, que identifica o consumidor através de um código e bonifica cada compra, que pode ser acompanhada através de um app. É a tecnologia facilitando os modelos sustentáveis.
Para criação de novos modelos de negócios circulares, é essencial um olhar ampliado dos sistemas e do ciclo de vida do produto e a estreita colaboração entre os vários atores ao longo da cadeia de valor.
Em nível macro, um exemplo da administração pública vem de Amsterdã, primeira cidade do mundo como o compromisso de tornar-se 100% circular até 2050. O processo, iniciado em 2015, focou ações nas cadeias de resíduos orgânicos, produtos de consumo e construção civil. Um dos planos é apoiar projetos pilotos para estender a economia de compartilhamento em áreas como habitação, de produtos e escritórios e de transporte.
A transição para a economia circular, liderada por municípios, requer novos modos de pensar e cooperação entre sociedade, empresas, organizações sociais e academia, além dos governos federal e estadual no que tange a regulações e financiamentos.
De acordo com a Accenture, a transição para a economia circular pode contribuir com até 45% de redução na emissão dos gases de efeito estufa e trazer ganhos financeiros da ordem de 4,5 trilhões de dólares até 2030 em reduções de resíduos, eficiência e criação de novos empregos globalmente.
A integração entre os stakeholders é vital para garantir a transição, bem como a adoção de políticas públicas e acesso a financiamentos para impulsionar os negócios circulares. O sucesso da transição para sistemas sustentáveis e que funcione sem resíduos, depende de cada um de nós.
“… Os bens de hoje se transformam nos recursos de amanhã, a preços de ontem”. (Professor Walter Stahel).
Quer Saber mais?
WEETMAN, C. Economia Circular, Autêntica Business, 2019
PORTAL DA INDÚSTRIA O que é Economia Circular?
IDÉIA CIRCULAR O que é Economia Circular?
ACCENTURE Waste to wealth, 2015
CIRCLE ECONOMY The CIRCULAR JOURNEY of AMSTERDAM
STAHEL, W.R. The Circular Economy. Nature News. 2016
Artigo escrito por Luciana Rocha, que é engenheira química com 20 anos de experiência em empresas de embalagens e mestranda na área de sustentabilidade na FGV.