Somente com um time mais diversificado, que consiga representar as diferentes parcelas da população de forma mais ampla, será possível atender às demandas de grande parte da sociedade
Com as facilidades geradas por um mundo cada vez mais conectado pela web, o usuário se torna mais exigente, pois consegue interagir com mais empresas em menos tempo, comparando produtos e serviços com facilidade. Ao mesmo tempo que o usuário ou cliente se beneficia do poder de escolha sem complicações e da agilidade que a web proporciona, também deseja exclusividade e importância. Quer ser tratado de forma única. Isso significa que, na era digital, o seu cliente é o propósito da existência da empresa e é através da sua relação com ele que a fidelização se instala.
Este é o ponto onde se cria o elo entre inovação e diversidade. Sua empresa só vai entender os problemas e desejos da sociedade, e assim entregar o que ela busca, se uma grande parte da população, que hoje não está inserida na empresa, puder fazer parte dela. Para sobreviver nesta nossa nova realidade de intensa transformação digital, as companhias precisam prever e entender melhor as necessidades dos seus clientes para criar soluções bem sucedidas. Somente com um time mais diversificado, que consiga representar as diferentes parcelas da população de forma mais ampla, será possível atender às demandas de grande parte da sociedade.
Acredito na premissa de que inovação não se cria apenas com tecnologias de última geração, mas sim entendendo o que seu público demanda. O foco das discussões sobre diversidade sempre esteve mais direcionado à pluralidade de gênero, raça, cor e orientação sexual. No entanto, este conceito é muito mais amplo. Atualmente, existem discussões sobre a diversidade de pensamento, a chamada diversidade cognitiva. Já temos confirmação, mais do que suficiente, de que a variedade de cultura, conhecimento, experiências e expectativas trazem enriquecimento aos ambientes onde as pessoas transitam. É, nesta combinação de contextos, onde surgem as melhores soluções, aproveitando o benefício de que cada indivíduo tem uma forma única de ver um determinado assunto. Este choque de ideias diferentes leva também ao desenvolvimento dos profissionais de maneira individual, que ao aceitarem o debate dos pontos de vista diferentes do seu, acabam repensando suas posições diante de várias questões e se permitindo novos pensamentos e ideias. Esta é a equação perfeita para um melhor entendimento do que o seu cliente deseja.
Podemos corroborar essa afirmativa a partir da avaliação do perfil social da região mais inovadora do mundo: Vale do Silício. Muitos governos tentam replicar o modelo do Vale do Silício, mas há uma característica que é irreplicável: a diversidade de pessoas. Para quem conhece a região, sabe que essa é uma das áreas mais cosmopolitas do mundo. Essa diversidade de culturas e ideias traz uma maneira criativa de identificar, pensar e solucionar os problemas. As estatísticas apontam que 71% das pessoas que trabalham lá não são norte-americanos.
No Brasil, ainda temos uma longa trajetória a seguir com relação a diversidade no mundo corporativo. Embora o tema já faça parte da pauta de discussões das grandes empresas do país, o avanço ainda é lento. O Instituto Ethos, em parceria com o BID, divulgou em 2015 uma ampla pesquisa chamada: “Perfil social, racial e de gênero das 500 maiores empresas do Brasil e suas afirmativas”. Quando tratamos da presença feminina nestas empresas há um sério afunilamento hierárquico: no nível de supervisão, as mulheres representam 38,8% do quadro nas 500 empresas. Cai para 31,3% no nível de gerência, 13,6% no nível executivo e 11% nos conselhos de administração. Quando o assunto é cor ou raça, o desequilíbrio é ainda mais assustador: a população “de cor” (negros, amarelos e indígenas) representam 27,8% do nível de supervisão nestas 500 empresas. Cai para 9,9% no nível de gerência, 5,8% no nível executivo e 4,9% nos conselhos de administração.
Podemos concluir que ter a diversidade como pauta estratégia permanente nas empresas vai além do benefício do ganho de imagem. Ela traz vantagem competitiva, inovação, motivação, bem-estar e, com isso, consequentemente ganhos financeiros para as empresas.
Artigo escrito por Luis Oliveira, que é finance controller LATAM da Robert Half.