As Reformas para o país serão realizadas? Quais os impactos do Coronavírus para a nossa economia? O Brasil vai crescer? É hora de investir? Os maiores especialistas no assunto respondem a essa e outras perguntas
Por Denise Kelen
No dia 3 de março, a ANEFAC reuniu grandes especialistas para falar sobre as “Perspectivas Econômicas para 2020” no Brasil. O encontro foi realizado em São Paulo, na sede da Trevisan Escola de Negócios, que apoiou o evento ao lado da Viaflow e do Banco Pérola.
Diante de um cenário de muitas incertezas e apreensão, não apenas para empresários, investidores e profissionais que atuam no setor administrativo e financeiro, mas para toda a população brasileira, o jornalista e mediador do encontro, Luís Artur de Barros Nogueira, iniciou a apresentação falando sobre a situação nos Estados Unidos, que vivem um momento “nebuloso” de véspera de eleição e o quanto os acontecimentos de lá podem impactar no Brasil.
“O ano começou com uma grande virada, quando o presidente republicano Donald Trump resolveu bombardear o Iraque e demonstrou, com isso, que está disposto a tudo, até mesmo a provocar uma guerra, se isso lhe trouxer votos”, disse Luís fazendo uma retrospectiva do início do ano. O mediador falou ainda sobre a situação política no Brasil, segundo ele, também turbulenta, já que o atual governo tem uma agenda econômica liberal, de reformas, que coloca o Brasil no caminho certo. Mas que, no entanto, tem uma apolítica, está sempre envolvido em polêmicas e ainda não conseguiu encontrar uma boa forma de articulação com o Congresso, o que atrasa a aprovação das Reformas no país.
Luís terminou a sua introdução lembrando que, atualmente, temos ainda o agravante do Coronavírus, que começou na China, ou seja, na segunda maior economia do mundo, e chegou ao Brasil, colocando em risco o crescimento desses países afetados.
Os palestrantes foram, então, chamados para responder algumas perguntas ao público de mais de 60 executivos:
– O Brasil vai conseguir crescer acima de 2%?
– Qual o verdadeiro impacto dos juros baixos?
– O dólar acima de R$ 4,00 é ameaça ou oportunidade?
– As Reformas necessárias para o país serão realizadas?
– Coronavírus. Quais os impactos do COVID-19, não apenas na saúde da população, mas para a economia do país?
– Como os executivos devem agir nesse ano de incertezas?
– É hora de investir?
Primeiro bloco
O primeiro debate contou com a participação do CEO da Trevisan Escola de Negócios, VanDyck Silveira, e do head de economia da ANEFAC, Jorge Augustowski.
Segundo VanDyck, o ambiente econômico brasileiro é condicionado a sete importantes variáveis, sendo a primeira delas a Política Econômica, que inclui inflação, desemprego, taxas de juros, dívida pública e produção industrial. A segunda variável são as Reformas estruturais, que, segundo ele, estão sendo postergadas há muitas décadas, como Tributária, Administrativa, Política e Novo Pacto Federativo. A terceira está relacionada aos embates políticos, ou seja, os problemas de articulação, já citados pelo mediador do evento, entre o executivo e os outros polos de poder, especialmente o Legislativo.
A quarta variável é o crescimento da China que já vem caindo, com uma expectativa para esse ano que já era de 6,1%, o que significa o menor crescimento na série histórica da China, desde que o desenvolvimento passou a ser mensurado no país. O Quinto ponto, Estados Unidos. O que vai acontecer nas eleições? A sexta variável, de acordo com o especialista, é a guerra comercial entre os EUA e a China, que está aparentemente “suspensa”, mas pode voltar a qualquer momento. E a sétima e nova variável que define a economia do Brasil, atualmente, é o Coronavírus.
De acordo com VanDyck, o Brasil mantém um crescimento pífio nos últimos 20 anos, abaixo e/ou na casa de 1%. “Para se ter uma ideia da gravidade da situação, para o Brasil empregar, hoje, os entrantes, ou seja, não os desempregados, mas sim, as pessoas que estão ingressando no mercado de trabalho todos os anos, o país precisaria crescer cerca de 3%. Isso é um problema sério. Por isso, temos hoje 12 milhões de desempregados”, explicou.
Apesar de expor essa necessidade, o especialista já faz uma análise negativa sobre a perspectiva de crescimento de 2,4% no Brasil para 2020, já que o cenário atual é de guerra comercial, lados opostos e Coronavírus, com impactos reais na economia. “Mas, nem tudo é má notícia”, disse ele, lembrando que as Reformas são as oportunidades que o país tem nas mãos. E reforçou: De uma coisa eu tenho certeza: o Brasil precisa da Reforma Tributária, Política e do Novo Pacto Federativo para crescer. E esse não é um debate que acontece apenas no Congresso Nacional e no Supremo. Trata-se de um debate da família brasileira.
Em seguida, conversou com o público, o head de economia da ANEFAC, Jorge Augustowski, com perspectivas mais otimistas de crescimento para o país, mas também com uma grande preocupação sobre o Coronavírus. “Estava tudo indo bem ou quase bem, até que, de repente, o COVID-19 apareceu. Mas, isso é um incidente de percurso, que poderia ser uma guerra ou qualquer outro evento. A questão, agora, é quanto tempo isso vai durar? E a resposta não é econômica, mas sim, médica, científica”, apontou.
Jorge fez uma retrospectiva dos números da bolsa, do dólar e das projeções dos bancos de investimentos até a data das primeiras divulgações sobre o Coronavírus e citou ainda algumas empresas que foram mais afetadas. “Os dados anteriores de perspectivas de investimentos não se mantêm mais porque, agora, tudo é especulação. As pessoas não estão viajando, as feiras não estão acontecendo, os exportadores não estão exportando, as importadoras não estão recebendo materiais. Na Petrobras, por exemplo, das exportações, 72% são para China. Na Suzano, 27% também seguem para os chineses. Além disso, temos as indústrias que importam ou mantém profissionais atuando naquela região”, ponderou.
Mas, apesar desse entrave, Jorge explica que o Brasil deve crescer por investimento e não por consumo, o que significa atrair para o país a confiança de investidores internos e externos. “O Brasil não vai ter uma inflação que irá acarretar a volta da Selic alta. Além disso, se os parâmetros de mercado se mantiverem, se continuarmos tendo agências reguladoras fortes para investimentos em infraestruturas independentes de políticas, isso vai trazer a estabilidade e a confiança necessária de que não vai haver um descontrole fiscal no país, afirmou.
Em relação aos investimentos, a baixa atual da Selic e aos juros reais que, hoje, estão abaixo de 1%, Jorge reforçou que as pessoas físicas e jurídicas devem procurar as suas assessorias para saber “o que fazer com isso”. Porém, apresentou realidades passadas de Selic baixa para desenhar melhor o que isso representa. “Vejam que, mesmo nos períodos de hiperinflação, tivemos um rendimento acumulado positivo. Se você olhar a bolsa, por exemplo, 30 anos para trás, ela deu, em média, 8,4 % real, acima do IPCA. Nos dias atuais, mesmo com a queda do final de 2019, ela traz boas perspectivas, se olharmos em longo prazo. E o Brasil está sendo obrigado a fazer isso nesse momento, ou seja, olhar tudo lá na frente, implantando medidas sem foco no imediatismo e no populismo, mas sim, nos resultados em médio e longo prazo”, ressaltou.
Para Jorge, portanto, que enfatiza que todas as ações e decisões, hoje, no Brasil devem ter foco no futuro (longo prazo), o Coronavírus vai ser resolvido e o cenário vai melhorar.
Segundo bloco
O segundo momento do evento da ANEFAC contou com a participação da fundadora do Banco Pérola, Alessandra França, e do sócio da TCP Partners, Ricardo Jacomassi.
Ricardo abordou com os executivos as perspectivas de crescimento para setores como construção, agronegócio, saúde, educação, transportes, automotivo, alimentos & bebidas, supermercados, serviços, turismo e indústria de máquinas e equipamentos durante 2020/ 2021, não apenas diante do Coronavírus, mas também das propostas do novo governo. “Na TCP, para cada área que vamos analisar, gostamos de desenvolver uma tese de investimentos. Em 2017, por exemplo, criamos uma tese com a seguinte premissa: o Brasil vai ficar velho, sem ter ficado rico e com doenças de países ricos. Então, nós deveríamos estar focados em dois setores: saúde e educação”, explicou.
Ricardo contou que sua empresa analisa as cadeias produtivas, ou seja, consegue “captar os sentimentos” de todos os estados, de todos os segmentos, não olhando o Brasil apenas sob o ponto de vista de São Paulo. E, com base nesse panorama apresentou importantes dados respondendo à pergunta do evento “quais setores vão bem e quais vão mal?”
Segundo ele, está previsto para este ano o crescimento de 3,3% para a agricultura, o que significa que, mais uma vez, o agronegócio vai puxar o PIB do país. Para o PIB da indústria, até a data do evento, a previsão era de um aumento de 2,3%, número que poderia mudar com a divulgação do PIB de 2019. Para o PIB de serviços, de acordo com Ricardo, a perspectiva de crescimento é de 2,5%.
Na área de comércio, o especialista disse que a taxa de desemprego é um fator importante e decisivo, já que o setor está relacionado ao consumo das famílias. “Já vimos em janeiro deste ano uma queda da taxa de desemprego e olhando lá na frente, essa redução vai ser fundamental para o setor de varejo. Além disso, projetamos um aumento dos salários até 2024, com um aceleramento desse processo a partir de 2021”, completou.
Alessandra iniciou sua apresentação com o questionamento do mediador: “Afinal de contas, os tomadores e credores estão otimistas ou pessimistas diante desse cenário desafiador detalhado pelos palestrantes anteriores? “Como fundadora de uma instituição financeira eu vou trazer a minha experiência prática, contanto como é para nós o dia a dia dos tomadores de crédito e a visão dos investidores, já que trabalhamos nas duas pontas. Recebemos investidores e ofertamos créditos”, disse.
A especialista em finanças explica que o Banco Pérola nasceu com a missão de democratizar o acesso a créditos para microempreendedores e, hoje, se tornou um negócio social, que faz a interface entre o micro e investidor de mercado.
Segundo Alessandra, todos esses que fazem parte do seu público-alvo sofrem com um país que precisa de Reformas e que não tem ambiente adequado para as pessoas empreenderem. Ela também arrisca dizer que o Coronavírus certamente vai reduzir o crescimento econômico do país e que o Brasil não vai crescer os 2% previsto para este ano. “Nós percebemos que muitos empreendedores, especialmente que exportam, estão parados e isso influencia no crédito. Operamos com antecipação de recebíveis, com crédito limpo e isso impacta no fluxo de caixa dos nossos empreendedores. Três meses perdidos vai prejudicar o profissional que já está estrangulado. Um mês para uma empresa em recuperação judicial já é importante. O mundo dos empreendedores é o mundo real”, alertou.
Nesses 10 anos de Banco Pérola, de acordo com a fundadora, ela viu muitas pessoas quebrarem, demitirem funcionários e os que sobreviveram encararam a realidade, sendo uma delas a Indústria 4.0. Para ela, o COVID-19 é, sim, um problema, mas o Brasil já tinha ou tem outras fragilidades, como a necessidade de acompanhar esse universo da tecnologia. “Temos milhares de desempregados e uma geração inteira que não é qualificada para suprir essa demanda. Como vamos lidar com isso?”.
Alessandra finalizou sua apresentação dizendo que as pessoas precisam parar de “demonizar” a palavra crédito que nada mais é do “acreditar” e reforça a necessidade de as pessoas realmente acreditarem, confiarem. “O Pérola é isso. É crédito de acreditar, de capital de riscos e de investimento no empreendedor”.
Ao final do evento, o público pôde interagir, ao mesmo tempo, com todos os palestrantes que, além dos temas já debatidos, foram questionados sobre outros assuntos que impactam na economia do país e levantados por Alessandra, como a educação presencial e o ensino à distância e a formação dos profissionais que estão vindo por aí.