Na era da indústria 4.0, Capital Humano é a maior transformação
Conheça a trajetória dos executivos agraciados com o Prêmio ANEFAC Profissional do Ano 2019, na 34ª edição são quatro categorias: Economia/Finanças, Administração, Contabilidade e Jovem Destaque. Para concorrer, os candidatos foram indicados pelos associados da entidade. Este ano, os destaques são Zeina Latif (XP Investimentos) na categoria Economia/ Finanças, Jean Carlos Borges (Algar Telecom) na categoria Administração, Jerônimo Antunes (FEA-USP e conselheiro de empresas) na categoria Contabilidade e Ricardo Guimarães Filho (Bit Capital) na categoria Jovem Destaque. A Revista ANEFAC conversou com os agraciados para saber a sua visão sobre o Prêmio, conhecer a trajetória de vida e carreira de cada um deles, entre outros temas.
Vale lembrar que a premiação acontecerá durante o 21º Congresso ANEFAC 2019, de 16 a 19 de maio, em Itapeva, Minas Gerais.
Categoria: Economia/Finanças
Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos
Pode nos contar sobre a sua trajetória profissional?
Sou de uma geração que vivenciou uma época de grande recessão, nos anos 80, no Brasil. Era menina, mas percebia que as notícias sobre economia eram muito presentes na nossa vida. Então, a escolha da Economia como profissão, em 1986, teve a ver com aquele período que o país vivia. Um país que não conseguia controlar a inflação, que não conseguia crescer.
Sobre o mercado de atuação, nunca tive vontade de seguir carreira acadêmica, achava que não era meu perfil, queria ter uma visão mais geral. Essa era característica minha. Cursei o mestrado e o doutorado, pois sabia que eram passos importantes, e até dei aula em algumas instituições de ensino.
Ao saber o que “não” queria, ou seja, a vida acadêmica, entrar no mercado financeiro foi uma decorrência natural. Meu início de carreira foi na Tendências Consultoria, onde atuei como economista-chefe. Foi a porta de entrada para que pudesse passar por várias instituições financeiras, antes de chegar à XP.
Fale um pouco sobre seu trabalho atual.
A XP tem uma proposta de trabalho de tentar fazer a “costura” de um cenário político e econômico e antecipar tendências. O meu papel é olhar sobre a economia no país e pensar “Será que é isso mesmo? Será que não existe uma outra versão da história? Quais os riscos que a gente corre? Sempre olho para aquilo que acho que está fora e tento entender, sempre fazendo uma análise política. Isso porque, não é possível hoje, no Brasil, construir cenários de economia, sem fazer uma análise política. Estamos falando de um país que precisa de reformas estruturais e constitucionais, que depende de o governo ter projetos e capacidade de articulação. Analiso como o país está; como esse cenário retroalimenta na agenda de reformas; se temos um governo mais ou menos conectado as necessidades.
Excelente formação acadêmica e experiência são importantes?
Teamwork. É muito importante trabalhar em equipe. Se você segue num “voo solitário”, olhando apenas a sua entrega, perde a sinergia com o grupo e deixa de aproveitar as experiências com as outras pessoas. É preciso ter o espírito de equipe, indo além da técnica, explorando o que não é cognitivo. É preciso tentar entender as demandas da empresa, mas também as das pessoas e como maximizar as sinergias no ambiente corporativo. As pessoas que não fazem isso, certamente, se desenvolverão menos.
O que representou 2018?
O ano de 2018 foi de eleição e havia um certo consenso entre os economistas de que seria um ano turbulento nos mercados. Mas eu tinha uma visão diferente, de que qualquer que fossem os finalistas para o segundo turno, o mercado financeiro daria o benefício da dúvida. A minha preocupação era 2019. Então, o destaque do ano passado na minha atuação foi fazer uma análise fora do consenso e acho que acertei. Porque as turbulências que a gente viu ficaram localizadas no meio do ano foram relacionadas ao cenário internacional. Tivemos momentos de ruídos na administração do governo Trump, vimos o preço do petróleo subir e isso teve, impactos no Brasil, como a greve dos caminheiros. Mas não foram turbulências eleitorais ainda. Acho que, da minha parte, foi um acerto entender essa dinâmica. A questão eleitoral não seria o fator decisivo nos preços de ativos.
O que 2018 representou na sua carreira?
Foi um ano curioso e desafiador, fiz análises e observações. A minha visão era de que, qualquer um que fosse eleito, continuaríamos num cenário de muitos riscos. Para alguns especialistas, após as eleições, teríamos uma arrancada no crescimento, os riscos diminuiriam, as demandas represadas seriam resolvidas e isso se mostrou uma análise equivocada e até mesmo ingênua. Para mim, por mais que tivéssemos um novo presidente pró-mercado, a nossa economia ainda sofre com a recessão gerada por governos anteriores.
O Brasil vive a sua mais grave crise fiscal da história, o quadro só se agrava com o nosso envelhecimento, devido aos gastos com a previdência, a sociedade não aceita aumentos de impostos, o que leva o governo à uma necessidade de reduzir despesas e isso depende de muita capacidade política. Não é fácil. O mercado superestimou o quando um presidente poderia avançar. E a “pitada de sal” nessa história é que tivemos no ano passado uma eleição emocional.
E a sua expectativa profissional para 2019?
Como o quadro econômico continua desafiador e a política comandando, ainda é difícil construir cenários, devido ao grau de incerteza. No meu trabalho falo com escritórios, com clientes e preciso alertá-los para os riscos. “Olha, o Brasil não vai crescer tanto como você imaginava”. Infelizmente, é muito duro dar algumas notícias porque as pessoas ficam desanimadas ou até mesmo interpretam a análise de forma equivocada, achando que estou sendo pessimista.
A XP é uma empresa que quer crescer no varejo e é preciso ter um economista nesse processo, que contribui para a educação das pessoas, mas também alerta para os riscos. Meu papel não é vender um ativo ou outro. É auxiliar as pessoas internas da XP a traduzirem o cenário para boas opções de investimento e ajudar o cliente lá da ponta que quer entender o que está acontecendo. Hoje, o brasileiro está muito mais conectado as questões financeiras e de economia. Mudou!
O que essa premiação significa para você?
Eu fiquei muito surpresa. Eu não fui aquelaque falou que tudo ia dar certo, que o Brasil ia crescer. Então, apesar de todos os meus alertas, ainda fui premiada (risos). Achei isso muito positivo porque eu sou a “chata” que diz “vamos com calma”. Isso significou que a análise que estou fazendo está indo na direção certa. Fiquei muito feliz, pois o meu papel de passar a mensagem funcionou.
De onde vem sua inspiração?
Eu vi o país entrando na democracia; vi as dificuldades dos sucessivos planos de estabilização; vi a chegada do Fernando Henrique, acertando no Plano Real. Ali tivemos uma mudança de patamar com privatizações, abertura de mercados. Tivemos acertos também no mandado do ex-presidente Lula. A gente viu um líder de esquerda ganhar a eleição com um discurso responsável na economia, fazendo reformas estruturais na macro e microeconomia. Mas, depois, fomos vendo o país “saindo do trilho”, já no segundo mandato do Lula e com a ex-presidente Dilma, perdemos de vez o caminho de “volta pra casa”.
O que quero dizer é que, como analista, não consigo ficar distante dessa preocupação com o Brasil. Que país é esse que eu vou deixar para o meu filho? Ou meu filho vai ser mais um que vai embora, porque nós estamos perdendo talentos. Temos, atualmente, uma geração de jovens perdida, sem formação, que encontram no mundo do crime o seu sustento. Temos um país com problemas graves de gestão de recursos públicos. Então, o que me inspira é a minha preocupação com o Brasil.
Na era da indústria 4.0, o capital humano é a maior transformação?
Não tem como falarmos de Indústria 4.0, se 70% dos nossos jovens não sabe matemática básica. Em torno de 65% dos jovens não tem formação acadêmica ou técnica. A gente simplesmente não vai discutir a Indústria 4.0 para valer, porque não temos mão de obra, não temos ambiente competitivo que gere inovação. Infelizmente a gente está ficando para trás. É claro que existem empresas bem posicionadas para dar esse salto, mas, de uma forma geral na economia, estamos à margem. Precisamos crescer mais em linha com o mundo. O mundo cresce 3%, nós encolhemos 8% e, agora, estamos crescendo 1%. Eu gostaria de poder falar da Indústria 4.0, mas ainda estamos discutindo o básico. Sem contar os custos que os empresários têm para gerir seu negócio, isso tudo atrapalha a inovação.
……………………
Categoria Administração:
Jean Carlos Borges, CEO da Algar Telecom
Pode nos contar sobre a sua trajetória profissional?
Sou engenheiro mecânico formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) em 1989. Ingressei na fábrica da IBM Brasil, lá passei pela área comercial e de marketing.
Em 1998, me juntei ao grupo Algar, através da ACS, atualmente chamada Algar Tech. Lá acabei me enveredando para área financeira, tendo sido o primeiro diretor financeiro. Vim para a Algar Telecom em 2003 como diretor financeiro, a partir de 2008, dei um giro bastante grande dentro da organização, passando pelas diretorias de operação e tecnologia, diretoria de estratégia e governança, vice-presidência de operações, e, desde 2015, estou como diretor presidente da Algar Telecom.
Excelente formação acadêmica e experiência são importantes?
O que é mais importante é o que se chama soft skills. Está relacionado a um constante natural incômodo que faz a gente buscar novos conhecimentos, possibilidades e evitar cristalizar uma série de conceitos e paradigmas, porque isso, às vezes, é válido dentro de um período, de uma estrutura, mas, o mercado muda bastante, é importante evoluir nessa questão.
Acho que é importante nessa linha de soft skills, formar equipes, empoderar equipes, de alguma maneira fazer com que a equipe também procure se desafiar, e se colocar em constante desequilíbrio do ponto de vista de conforto para procurar novas possibilidades. Por fim, é fundamental para uma carreira de qualquer executivo, profissional, a integralidade de outras áreas. A saúde física tem que ser muito boa, práticas de exercícios para equilibrar, atividades outdoor, corridas, no meu caso, tênis. Ajuda do ponto de vista físico e para espairecer. Do ponto de vista familiar, uma família bem resolvida, sobretudo com uma companheira, uma esposa, que resolve a grande, senão a totalidade dos problemas que uma família com três filhos possa ter.
O que representou 2018 na sua carreira?
É inevitável não ir para números. A Algar Telecom ultrapassou R$ 2 bilhões de receita líquida, e está caminhando para os R$ 3 bilhões, é um marco, foi motivo de satisfação corporativa e pessoal. A expansão para chegar ao nordeste (do país), para se ter ideia, até 2015, tínhamos operação entre Brasília e, no máximo, a Curitiba, chegando a São Paulo, Rio de Janeiro e tudo mais. De 2015 para cá, chegamos aos três estados da região sul e em 2018 aos estados da região nordeste, faltando apenas os estados do Maranhão e Piauí. Em vários indicadores, a Algar Telecom tem apresentado os maiores índices de crescimento.
Fiquei muito feliz por conquistarmos pela sexta vez consecutiva o prêmio de sustentabilidade entregue pelo guia exame. Para se ter uma ideia, entre 16% e 20% da nossa geração de energia elétrica é, totalmente, originada a partir de fontes fotovoltaicas. E, obviamente, a questão da ANEFAC é um prêmio, um reconhecimento, que demonstra que tudo isso que a gente está fazendo é nos mais altos padrões de compliance, para os clientes apostando e dando preferência, e para os nossos associados, colaboradores e executivos a certeza de que estamos em um bom lugar para se trabalhar, um lugar sexy.
Do ponto de vista pessoal, tive uma filha que se formou em direito. A família está super positiva, legal, viajamos muito, deu para curtir também, acho que foi um bom, do ponto de vista de condição física, de disposição, saúde, então isso tudo fez 2018 ser muito especial para mim.
E a sua expectativa profissional para 2019?
Inevitável falar que esperamos continuar crescendo. Nosso business é muito bem estabelecido, nossos diferenciais são muito bem estabelecidos, e isso tem resultado, tem crescimento, com base em clientes satisfeitos e avaliações positivas. Esse conjunto todo somado à condição macroeconômica, que eu espero que seja melhor do que 2018, para que cresçamos mais do que 1% em termos de PIB, pode trazer um crescimento maior. Eu espero que isso seja contado ao longo do ano, a cada report que arquivarmos na CVM.
O que essa premiação significa para você?
Para mim, que iniciei toda a trajetória no grupo na área financeira, ter um prêmio da ANEFAC é um reconhecimento bastante importante. Estamos falando de uma associação nacional que congrega financeiros, administradores, contabilistas, então é a associação que diz que transparência, números confiáveis, práticas bastante confiáveis, segurança para quem está investindo, para quem está colocando recursos, então eu acho que nesse sentido, por si só, a ANEAFC diz muito. Ser reconhecido como um profissional do ano de 2018, pessoalmente, é motivo de muito orgulho, e, corporativamente, isso aqui foi bastante celebrado, é resultado de um trabalho, de um time. Todos nós nos sentimos reconhecidos.
De onde vem sua inspiração?
A família sempre é a fonte primária de inspiração, de satisfação e de estímulos cotidianos para a nossa luta e busca de objetivos de desenvolvimento e aprimoramento pessoal e profissional. No campo profissional e acadêmico, eu tive e tenho o privilégio de poder me inspirar e de ter aprendido muito com algumas pessoas especiais, que merecem a minha eterna gratidão, admiração e respeito. Entretanto, eu não posso correr o risco de cometer injustiças ao citar algumas dessas pessoas e, por lapso, esquecer uma ou mais.
Na era da indústria 4.0, o capital humano é a maior transformação?
Sim, a principal questão para a evolução da Indústria 4.0 começa com mindset e a figura de imagem que eu tento passar é mais ou menos quando alguém compra uma máquina de altíssima precisão, pode ser um carro, um microscópio, um equipamento médico, e não se qualifica, não estuda todas as possibilidades daquela máquina, se você não aproveita todas as possibilidades, e aproveitar todas as possiblidades é você ter o conhecimento, mas mais do que ter o conhecimento, é ter a disposição para acessar as facilidades do equipamento. A questão do 4.0, sim, tem uma parte que é relacionada a computadores, deep learning machine, inteligência artificial, IOT, conectividade de coisas, bichos, pessoas, tudo ligado, constantemente, sendo avaliado e corrigido em tempo real, fazendo com que as respostas sejam mais rápidas, mas por trás a que se ter uma gestão diferenciada para extrair o máximo disso e até proporcionar a inserção no contexto das empresas.
As empresas que se transformarem primeiro, implementarem primeiro essas questões do digital, da indústria 4.0, certamente, serão sobreviventes nessa revolução pela qual estamos passando.
……………………
Categoria Contabilidade:
Jerônimo Antunes, professor da FEA-USP e conselheiro de empresas
Pode nos contar sobre a sua trajetória profissional?
Desde muito cedo, para auxiliar no orçamento familiar, trabalhei em diversas atividades (operário, vendedor, office-boy, auxiliar de escritório etc.). Mas, a minha trajetória profissional iniciou-se como trainee, em 1977, na antiga Arthur Young, atual EY. Por já possuir experiência profissional diversificada e, principalmente, uma vivência em ambientes corporativos, o meu desenvolvimento foi acelerado. Após muitos anos atuando em firmas de auditoria, como empregado ou sócio, resolvi fazer uma carreira solo, dedicando-me a prestar serviços de consultoria empresarial e atuar como perito ou assistente técnico em perícias contábeis, além da minha atividade como professor universitário. Nos últimos 10 anos, tenho também atuado como conselheiro de administração e coordenador de comitês de auditoria em grandes empresas.
Excelente formação acadêmica e experiência são importantes?
Paralelamente ao desenvolvimento profissional e acadêmico, entendo que é fundamental construir uma rede de relacionamento pessoal para interações constantes, trocas de experiências, atualizações com novos conhecimentos e tendências, aprender a conviver com divergências e com a pluralidade de opiniões e outros benefícios.
O que representou 2018 na sua carreira?
Destaco a formação e coordenação dos comitês de auditoria estatutários de 18 subsidiárias da Petrobras e do Metrô de São Paulo, além de atuar fortemente na presidência do comitê de auditoria da Petrobras. Também cito as premiações do Troféu Transparência da ANEFAC/Fipecafi/Serasa Experian concedidas para as demonstrações financeiras da Sabesp e da Petrobras, das quais participei. Por fim, ao término da minha participação, após três anos, como conselheiro de administração e presidente do comitê de auditoria estatutário da BR Distribuidora, a premiação recebida pela empresa como Melhor Governança Corporativa e Melhor Conselho de Administração, concedido pelo Estadão/FIA-USP/Austin Rating.
Vejo que a minha carreira profissional teve um incremento relevante nesse ano, tanto em desenvolvimento técnico e de relacionamento social, como pelos reconhecimentos recebidos e que, agora, culmina com essa honraria especial e que muito me alegrou, que é ser eleito o profissional de contabilidade do ano de 2018 pela ANEFAC.
E a sua expectativa para 2019?
Pretendo continuar trabalhando para aprimorar a governança das empresas em que atuo como conselheiro de administração e/ou nos comitês de auditoria e, principalmente, quero continuar a disseminar condutas éticas e agir com integridade nas minhas outras atividades profissionais e acadêmicas. Acompanho o otimismo que sopra no país, com relação às perspectivas de melhorias no cenário econômico brasileiro. Eu espero – assim como grande parte da população – que as reformas previdenciárias e tributárias ocorram, de fato, ainda em 2019 e que delas derivem outras grandes ações importantes que propiciem a reversão, a curto e médio prazo, dos nossos sofríveis indicadores sociais.
O que essa premiação significa para você?
Obter o reconhecimento de uma associação que reúne as principais lideranças e os mais renomados e talentosos profissionais brasileiros das áreas de administração, finanças e contabilidade é um prêmio inestimável. E, mais: ser agraciado como Profissional de Contabilidade do Ano pela entidade que promove o “Oscar” da Contabilidade é de um privilégio ímpar, que proporciona uma satisfação pessoal indescritível. Eu agradeço muito aos associados da ANEFAC que me concederam essa imensa alegria.
De onde vem sua inspiração?
A família sempre é a fonte primária de inspiração, de satisfação e de estímulos cotidianos para a nossa luta e busca de objetivos de desenvolvimento e aprimoramento pessoal e profissional. No campo profissional e acadêmico, eu tive e tenho o privilégio de poder me inspirar e de ter aprendido muito com algumas pessoas especiais, que merecem a minha eterna gratidão, admiração e respeito. Entretanto, eu não posso correr o risco de cometer injustiças ao citar algumas dessas pessoas e, por lapso, esquecer uma ou mais.
Na era da indústria 4.0, o capital humano é a maior transformação?
O capital humano é o fator decisivo e preponderante em qualquer atividade. Não há Internet das Coisas, Computação nas Nuvens, Sistemas Ciber-físicos, Inteligência Artificial etc. que funcione adequadamente sem a Inteligência Humana. Ainda que a evolução tecnológica substitua de forma definitiva os diversos tipos de atividades manuais, acelerando processos e aumentando a produtividade, o ser humano sempre estará no comando, tomando decisões racionais e equilibradas e utilizando melhor o seu imenso potencial de inteligência.
Qual o impacto da indústria 4.0 na sua área de atuação?
Eu acho que a ANEFAC foi muito feliz ao propor esse assunto como tema do seu 21º Congresso, uma vez que há muito para se discutir sobre os efeitos dessa nova revolução industrial no âmbito das corporações, especialmente nas áreas de administração, finanças e contabilidade. Certamente os novos modelos de negócios, de produção e de logística, resultantes das tecnologias digitais que já estão ou serão empregadas intensamente na indústria, proporcionam e proporcionarão impactos significativos nos processos de controles internos, no uso de TI, nos métodos de apuração de custos e de formação de preços, enfim, nos processos de identificação, mensuração e registro dos eventos econômicos produzidos em um novo ambiente de negócios, em novos processos de produção e distribuição.
Observo que as corporações no Brasil estão aderindo, gradativamente, à essas novas tecnologias digitais, com estágios diferenciados de desenvolvimento e aplicação. Nas empresas em que atuo, ou pelas notícias que acompanho, constato que os impactos da indústria 4.0 na área contábil ainda não são mensurados e propagados, de forma expressiva e especificamente correlacionada com essas inovações. Há que se notar, todavia, que a contabilidade, os processos de controles e de governança constantemente são ajustados para capturar as mudanças que ocorrem no chão de fábrica, com a tempestividade requerida, em prol da adequada informação aos gestores.
……………………
Categoria Jovem Destaque:
Ricardo Guimarães Filho, Fundador da Bit Capital
Pode nos contar sobre a sua trajetória profissional?
Sou formado em administração pelo Insper, já trabalhei em bancos de investimento e instituições como, BTG Pactual, Itaú Unibanco, Inspired Asset Management, Fundação Estudar, Alta Vista Investimentos e Odebrecht, até que conheci o bitcoin, fui mordido pelo “bichinho” das moedas digitais e abandonei, então, a carreira no sistema tradicional de investimentos. Decidi explorar esse mercado ainda insipiente, aproveitando o crescente interesse em blockchain para criar a Bit Capital, plataforma de open banking que tem a tecnologia como grande pilar. Comecei a trabalhar cedo, aos 17 anos como estagiário, e sempre troquei as férias pelo trabalho. Tenho apenas 23 anos e um futuro próspero.
Qual o seu objetivo ao criar a empresa?
A Bit Capital é uma Plataforma de Open Banking com a infraestrutura baseada na tecnologia de blockchain. Criamos uma rede de infraestrutura de pagamentos para fornecer uma solução sem atrito para transações financeiras. Em parceria com grandes players, o objetivo da Bit Capital é democratizar o sistema financeiro e fornecer infraestrutura como serviço a terceiros. Quando percebi as oportunidades e desmembramentos do blockchain, identifiquei a necessidade de criar uma empresa diferente, capaz de fomentar esse novo ecossistema financeiro colaborativo e que privilegia a inclusão, onde todos são beneficiados.
Por que o mercado das moedas digitais te chamou tanto a atenção?
Estamos falando de um ativo que sofre uma valorização de 1400% em apenas 1 ano e que, por isso, chama a atenção de usuários, investidores, governos, especuladores. Acredito que muitos ainda se perguntam “será que o bitcoin é uma bolha, uma pirâmide ou uma forma disruptiva que veio para alterar a forma como a nossa sociedade se relaciona nas mais diversas áreas. Será que o preço do bitcoin vai bater $100 mil dólares, será que vai para zero”. A grande verdade é que eu não sei e isso pouco importa. O grande diferencial que vai impactar na vida da nossa sociedade e mudar o nosso sistema é o blockchain.
Qual a diferença entre bitcoin e blockchain?
Isso é importante. As pessoas confundem o que é bitcoin e blockchain e, por isso, tem dificuldade também para entender a atuação da nossa empresa. O bitcoin depende da rede de blockchain para existir, e não o contrário: a rede de blockchain não depende do bitcoin.
O que é mais importante além de uma excelente formação acadêmica e experiência?
Flexibilidade, resiliência e determinação. É preciso fazer sacrifícios.
O que se destacou na sua atuação profissional em 2018?
Foi um ano de desafios, de amadurecimento das ideias e de muita inovação em termos de tecnologia em prol de um modelo de negócios colaborativo. O ano de 2018, marcou o início de um longo projeto. Nosso trabalho foi impactado pelas mudanças e incertezas no cenário macrobrasileiro, não apenas do ponto de vista econômico, mas político e social.
E sua expectativa profissional para 2019?
Não apenas para 2019, mas para os próximos anos, queremos crescer de forma consistente, estruturada e sustentável. Acredito que as estruturas atuais dos bancos não sejam suficientes para atender as demandas das empresas digitais. Hoje, se uma transação fosse feita via bitcoin, ela seria muito mais segura, transparente e econômica. Dessa forma, a gente também muda a forma como as empresas se capitalizam. Outra vantagem é que novos negócios estão surgindo, como o empréstimo entre pessoas, ou seja, um pode emprestar para o outro por meio de uma tecnologia, sem a necessidade de um intermediário. Para 2019, espero a maturação dessas novas tecnologias. E peço que as pessoas façam uma autorreflexão sobre como o blockchain vai mudar ou extinguir o sistema existente.
De que forma você contribuiu para o desenvolvimento da sua empresa?
Acho que somos uma equipe e quem pode falar melhor sobre as minhas contribuições são os profissionais que trabalham comigo. Trabalhamos juntos e o resultado hoje é que temos uma sede no Brasil.
O que o prêmio da ANEFAC significa para você?
Significa o reconhecimento de que estamos fazendo algo diferente do comum. Sou muito grato pelo reconhecimento e por saber que veio de uma associação com tanta credibilidade no mercado e perante os públicos que estão relacionados com o meu trabalho.
Já teve dificuldades no mercado por ser tão jovem?
Sim, mas transmitindo confiança e demonstrando responsabilidade, vencemos esse tipo de desafio.
O que ou quem lhe inspira na condução do seu trabalho?
Em termos de profissionais, Ben Horowitz, Jeff Bezos, Larry Page, Ray Dalio me inspiram. Sobre objetivos, o que me motiva é estar fazendo algo novo, que vai mudar a forma como as pessoas se relacionam.