Áreas de finanças, administração e contabilidade irão crescer impulsionadas pela necessidade de resultados efetivos
“Após um período muito desafiador que vivemos nos últimos tempos, o sentimento geral do mercado para 2019 é o de que, aprovadas as reformas da previdência e tributária, o Brasil voltará a crescer economicamente nos próximos anos. Com a melhoria na confiança dos investidores e das empresas de uma forma geral e uma base econômica estável e sólida, a tendência é que o mercado de trabalho também se reaqueça”, esse é o sentimento de Felipe Brunieri, sócio fundador da Assetz, consultoria de recrutamento especializada em posições de liderança em contabilidade e finanças.
Para ele, neste cenário, as empresas multinacionais estrangeiras deverão voltar a investir no Brasil, ainda mais considerando as incertezas quanto ao futuro de outras nações latino-americanas, como o México. “Para estas companhias, os últimos anos foram de redução de custos, o que ocasionou o enxugamento das equipes e a diminuição da senioridade dos seus executivos. Tais multinacionais devem querer aproveitar a nova onda de crescimento no país nos próximos anos e, para isso, irão voltar a investir na contratação de um time com muita experiência e senioridade para alavancar os seus negócios. Ao mesmo tempo, as empresas brasileiras, principalmente as familiares, também devem seguir a mesma linha e fortalecer seus times, investindo em contratações de profissionais com larga experiência para estruturar suas áreas internas e implementar uma mínima de governança. Assim, a tendência geral é de diminuição do desemprego em 2019, preparando o terreno para os anos seguintes”, avalia.
Nesta mesma linha, Renato Villalba, sócio da consultoria de Executive Search Cunha&Petreche, acredita que momentos de crescimento econômico pedem por escopos profissionais mais influentes nos negócios de suas empresas. Em outras palavras, ele entende que devemos esperar que as carreiras em 2019 – e provavelmente pelos próximos anos – sejam mais voltadas a atividades que de fato impactem o resultado financeiro e mercadológico de suas companhias. Ao complementar, Brunieri, explica que para aproveitar o ritmo de crescimento esperado para o Brasil nos próximos anos, as companhias deverão investir na contratação de um time que suporte o desenvolvimento de seus negócios.
Dentre as áreas que mais devem movimentar o mercado e buscar profissionais este ano, o sócio fundador da Assetz cita: a área comercial, que deverá voltar a ter um time muito focado no desenvolvimento e abertura de novos negócios ao invés de focar a maioria de seus esforços nos clientes já existentes; a área de tecnologia de informação, cujos times precisarão cada vez mais seguir desenvolvendo uma estrutura interna que acompanhe a evolução tecnológica global; a área de finanças, que desempenhará um papel cada vez mais próximo ao negócio; a área tributária, que deve priorizar o estudo de estratégias e o planejamento tributário de olho nas mudanças legais que virão; e a área de logística e compras, que contribuem para uma sensível redução de custos e otimização das operações.
Nas áreas de finanças, administração e contabilidade, Villalba observa que provavelmente será um ano em que padrões conservadores adotados nos últimos anos serão substituídos por rotinas mais voltadas a crescimento. “O foco em controles e processos deve ser redirecionado a investimentos e planejamento. Em relação a processos seletivos, já posso notar que a qualidade das posições para as quais tenho sido contatado tem aumentado. Ou seja, os processos seletivos têm surgido por motivos claros e bem planejados, geralmente voltados a crescimento é uma boa expectativa em relação ao mercado brasileiro”, aponta.
De acordo com Brunieri nos últimos anos, considerando a conjuntura econômica pela qual passamos, as áreas de finanças, administração e contabilidade tiveram papel crucial na reestruturação e sobrevivência das empresas. Ao avaliar os dois últimos anos, ele mostra que as disciplinas que tiveram maior demanda de profissionais foram as de planejamento financeiro (processo orçamentário e de forecasts e consolidação e análise de informações), de contabilidade (implementação dos novos IFRS e fechamento e análise de custos de produção) e de controles internos (riscos, compliance e revisão de processos). “O desafio era reduzir ao máximo os custos da companhia, projetando e controlando a DRE, o Balanço e o Fluxo de Caixa, otimizando processos e criando um ambiente mínimo de governança corporativa. Eram medidas de sobrevivência e olhar a curto prazo”, enfatiza.
Com a melhora da perspectiva e do cenário brasileiro para os próximos anos, Brunieri vê como tendência, nestas três áreas, as que tiverem maior interação com o negócio e que suportem o crescimento (orgânico e inorgânico) da companhia passem a ser mais demandadas. “É o caso de funções como as de novos negócios (que desenvolvem estudos de viabilidade de novos projetos ou novos produtos e conduzem processos de fusões e aquisições), de tesouraria estratégica (operações estruturadas, mercado de capitais, captações e gestão de dívida) e de commercial/supply chain finance (funções que suportam as áreas de vendas, marketing e operações no controle e monitoramento de resultado e em análises financeiras em geral)”, pontua.
Inegavelmente, para o sócio da consultoria de Executive Search Cunha&Petreche, as profundas mudanças econômicas e sociais pelas quais o mercado tem passado certamente terão consequências a longo prazo. “Estas consequências provavelmente estão apenas começando a ser sentidas e uma série de adaptações naturais acontecerão nos próximos anos. Um exemplo é o aumento da longevidade do ser humano, que trará impactos claros ao modelo social e profissional existente. Concordo plenamente que este cenário de constante adaptação a mudanças provocará um aumento significativo de demanda pelos serviços de “orientação profissional”, como coaching, planejadores e estudiosos da sociedade”, vislumbra.
Em relação aos segmentos das empresas que estão contratando estes profissionais, o sócio fundador da Assetz, salienta que os que tiveram maior volume de vagas no último biênio foram os de bens de consumo, agronegócio e químico. “Para 2019, a tendência deverá continuar a mesma, mas devemos observar um aumento de representatividade no volume de contratações de executivos de finanças, administração e contabilidade em companhias dos segmentos de serviços e infraestrutura, devido ao incentivo de crescimento que receberão nos próximos anos. Assim, podemos destacar que profissionais destas três áreas são sempre demandados no mercado, mas a escolha do perfil varia de acordo com as influências externas e com o momento da empresa”, diz.
Mercado deve estar atendo ao capital humano
Quanto o assunto é desafio, Villalba destaca o de Recursos Humanos em manter seu quadro de profissionais estável e crescente, em um cenário em que a abordagem do mercado se intensificará. “Sob o ponto de vista dos profissionais, não tenho dúvidas que a inteligência emocional de executivos de todas as senioridades será testada em um cenário de integração de gerações que será cada vez mais comum”, relata.
Atualmente, os desafios relacionados ao capital humano de uma empresa são enormes. “A cada dia que passa, a área de Recursos Humanos deixa de ser focada apenas no fechamento da folha de pagamento e passa a suportar mais o negócio e a estratégia da companhia como um todo. Assim, os responsáveis pela área devem se atentar em como atrair e reter os melhores profissionais, garantindo uma cultura própria e um ambiente onde os colaboradores possam dar o seu melhor e trabalhar com eficiência e eficácia de acordo com o plano estratégico adotado”, evidência Brunieri.
Um dos maiores desafios atuais sobre o tema, ele adiciona, é como lidar com gerações completamente diferentes em uma mesma equipe, de forma a obter o melhor de cada uma e fazendo com que trabalhem em harmonia e com respeito. “A geração dos millenials cresceu em um ambiente distinto das anteriores: possuem muita habilidade com tecnologia, trabalham por projetos e preocupam-se muito mais com os meios do que com o fim. Para elas, sucesso profissional passa longe da ideia de permanecer 35 anos na mesma empresa e garantir sua aposentadoria. Como atrai-los, retê-los e fazê-los interagir com gerações diferentes da deles é responsabilidade da área de capital humano em conjunto com a liderança da companhia. Além disso, um outro grande desafio cada vez mais visto nas corporações é o de como lidar com chefes mais técnicos do que líderes de fato. Cabe também à área de capital humano o papel de investir cada vez mais em treinamentos de liderança para preparar os seus gestores a ouvir e engajar todos os membros da equipe, levando-se em consideração os anseios e as necessidades de cada um”, pondera.
Já com relação as exigências para os profissionais dessas áreas, o sócio da consultoria de Executive Search Cunha&Petreche acredita que “flexibilidade” será a característica mais valorizada ao longo do ano, tanto em aspectos técnicos, como comportamentais. Os profissionais deverão estar atentos, principalmente, Brunieri, vê três exigências que cada vez mais são demandadas pelas empresas que contratam. São elas: visão mais próxima ao negócio – a função do executivo de finanças, administração e contabilidade está se tornando cada vez menos voltada à preparação e ao reporte de relatórios e cada vez mais a suportar e influenciar as áreas de negócio na tomada de decisões alinhadas com a estratégia da companhia; inovação tecnológica – estes executivos precisam estar sempre muito atualizado sobre as ferramentas tecnológicas mais atuais e inovadoras (como blockchain, analytics e inteligência artificial) e saber como utilizá-las da melhor forma nas suas atividades rotineiras, a fim de eliminar as funções mais operacionais e investir maior tempo em análises que agregam realmente valor ao desenvolvimento do negócio; liderança de times multidisciplinares e ecléticos – é necessário atentar-se aos grandes desafios proporcionados ao gerenciar um projeto multidisciplinar com uma equipe composta por membros com formação e experiências distintas, oriundos de gerações diferentes e que almejam objetivos variados. “Motivar, engajar e reter os millenials de suas equipes é algo que os profissionais de finanças, administração e contabilidade precisarão saber fazer cada vez mais de agora em diante”, adverte.
Ainda avaliando o quanto vale o capital humano de uma empresa, Villalba compara ao Cliente. “Uma empresa não existe sem um dos dois pilares. O capital humano de uma empresa é certamente o maior ativo de qualquer companhia, Brunieri diz que de fato, são as pessoas que pensam e executam a estratégia e a operação das corporações. Ele complementa: sem elas, uma companhia não existe. “Por isso, é de suma importância acertar na contratação e colocar os profissionais certos nas funções e nas cadeiras mais aderentes às suas competências. Uma equipe bem formada, com colaboradores satisfeitos com o clima da empresa e com suas atividades e um time em que todos os membros se complementam, acaba sendo crucial para o sucesso ou não de um negócio. Profissionais satisfeitos tendem a dar o melhor de si, a ser mais comprometidos com o atingimento dos objetivos e dos resultados propostos, a pensar como dono e a participar ativamente do desenvolvimento da empresa. Profissionais insatisfeitos acabam contaminando o ambiente e impactando direta ou indiretamente o negócio como um todo. Por isso, a companhia deve criar políticas internas que valorizem e priorizem o seu capital humano, dando ferramentas e condições para seu desenvolvimento e reconhecendo seu esforço, garantindo sempre a melhor performance”, cita.
Impacto da indústria 4.0 e da tecnologia continuará crescendo
A quarta revolução industrial está mudando radicalmente a forma como a sociedade se organiza e como trabalhamos. Em todas as áreas, o impacto observado na utilização de inovações tecnológicas no processo produtivo é gigante. O sócio fundador da Assetz mostra está mudança, desde a planta de fábrica, que passa por um processo de descentralização da manufatura e adoção de estruturas modulares, até as atividades internas de uma empresa estão sofrendo mudanças relevantes e serão fortemente impactadas pela Indústria 4.0. “Nas áreas de finanças e contabilidade, o mesmo acontece: diversos processos transacionais estão sendo substituídos por robôs e por sistemas ciber-físicos que cooperam entre si e se comunicam com os humanos em tempo real e diversas informações ora guardadas em pastas físicas agora são arquivadas na nuvem, com baixo risco de perda. Neste contexto, o profissional também precisa se atualizar. Como conversar com estes sistemas, interagir e obter o melhor que eles possam dar são desafios pelos quais o capital humano precisará lidar cada vez mais. Desde já, é importante se atualizar em relação às inovações tecnológicas e sua aplicabilidade no ambiente corporativo: estudar, ler e participar de cursos sobre o tema é fundamental. Quem não se atentar a isso, ficará para trás e será deixado de lado pelo mercado de trabalho”, aconselha.
Há necessidade de se repensar o modelo de negócio em vários setores, Villalba entende que passa por atração/retenção de profissionais. “Atualmente é bastante nítido que o nível de engajamento de profissionais de diferentes senioridades tem estado diretamente relacionado à flexibilidade das companhias em se adaptarem a projetos de automação de processos, remodelagem de negócios e criação de comitês voltados ao tema”, alega.
No ponto de vista de Brunieri, quanto mais tecnológico o mundo se tornar, mais as relações humanas serão valorizadas e exaltadas. “Aquilo que a máquina jamais será capaz de fazer é o que valerá mais no futuro: as conversas francas, os apertos de mão, a preocupação genuína com o desenvolvimento das pessoas, o poder de influência e os encontros que a vida proporciona. Sob esta ótica, em um mundo cada vez mais robotizado, os profissionais que possuírem habilidades mais voltadas às relações humanas estarão um passo à frente dos demais e garantirão seu espaço no mercado de trabalho, já que o robô dificilmente será capaz disso. As conexões e as redes de relacionamento confiáveis serão diferenciais na hora de concorrer a uma posição, assim como a forma como o profissional se relaciona e influencia os demais. Assim, carreiras que praticam entendimento de como o ser humano se comporta e o seu desenvolvimento serão as mais concorridas em uma área essencialmente digital”, finaliza.