Evento promovido por ANEFAC, BNDES e Comissão Brasileira de Acompanhamento do Relato Integrado debate impactos para organizações e stakeholders
Por Jennifer Almeida
O primeiro framework do Relato Integrado, lançado pelo IIRC (International Integrated Reporting Council) em 2013, abriu a possibilidade de que as empresas tomassem conhecimento sobre a importância da adoção da gestão integrada, bem como os benefícios de se fornecer aos stakeholders informações e estratégias que possibilitem uma análise mais precisa de curto, médio e longo prazos. Embora o esforço de organizações e entidades nacionais na divulgação do Relato Integrado seja contínuo, ainda há necessidade de mudança cultural no modelo de gestão organizacional.
“Acredito que o mais importante seja ter a direção ‘a bordo’, ou seja, que a alta direção da empresa esteja comprometida e apoiando o grupo designado para a tarefa, divulgando de forma top-down a importância do processo de Relato Integrado para a empresa”, destaca Maria Angélica Leite Costa, consultora em Gestão Integrada e Relato Integrado e membro da Comissão Brasileira de Acompanhamento do Relato Integrado – Capítulo RJ e diretora da ANEFAC RJ.
Assim como Maria Angélica, Christina Barbosa, diretora executiva da By Conn, concorda que um dos principais desafios é fazer com que as pessoas compreendam a importância da integração para a perenização de sua organização, para que então todos contribuam para os mesmos resultados. “A integração de pessoas deve ser suportada pela área de processos de governança para que as informações geradas sejam conectadas com transparência”, defende.
Maria Angélica e Christina foram palestrantes no ciclo de debates promovido pela ANEFAC Rio de Janeiro, pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social) e pela Comissão Brasileira de Acompanhamento do Relato Integrado nos dias 18 e 19 de julho, no Rio de Janeiro.
Maria Angélica acredita que o CFO da empresa, responsável pela dimensão que ela considera a mais importante – a financeira – seja o agente de mudança para uma gestão integrada, interagindo, ouvindo, trazendo as demais áreas para as mesas de discussões e definições de estratégias.
Vania Borgerth, contadora da Área Financeira do BNDES, membro do conselho internacional do IIRC e palestrante do evento, acredita que o Relato Integrado nunca perdeu a importância no mundo, mas aqui no Brasil foi deixado um pouco de lado porque a tensão está voltada para a crise e a sobrevivência muito mais do que para as questões relacionadas à transparência.
“Esperamos que a partir do próximo ano, com a definição das eleições e a redução de incertezas, o equilíbrio da situação do país possa recuperar aos poucos a consciência para a necessidade de se consolidar o crescimento e não apenas crescer. Isso só é possível mostrando com transparência o que você faz e é capaz de fazer no futuro”, enfatiza.
Na contramão desse cenário, há um grupo de empresas brasileiras que saiu à frente e já utiliza o framework do Relato Integrado, demonstrando maior compromisso com a transparência e disposição para ampliar o diálogo com investidores. “O que as empresas líderes no Brasil estão experimentando por meio da adoção do Relato Integrado é que a transparência não é um risco para os negócios, mas uma oportunidade”, destaca Richard Howitt, CEO do IIRC.
Palestrante no ciclo de debates, ele afirma que evidências acadêmicas demonstram que as empresas que adotam o Relato Integrado estão se beneficiando dessa comunicação aprimorada com os investidores. Ele lembra que o Relato está associado positivamente à liquidez das ações e ao valor da empresa, de acordo com a Universidade de Stanford.
Cita ainda que acadêmicos da Universidade de Cingapura concluíram que as empresas que divulgam mais do que as informações financeiras superam aquelas que não o fazem. Além disso, indica que, quanto melhor o Relato Integrado de uma empresa, maior a sua avaliação de mercado, segundo pesquisa da Nanyang Business School.
Os desafios da adoção
“O principal desafio é mapear todas as inter-relações existentes e estabelecer mecanismos que garantam a integridade e a integração das informações levantadas”, avalia Regiane Abreu, especialista em Sustentabilidade da Light. Desde 2015 a Light publica seu Relatório Anual de acordo com o framework do Relato Integrado, detalhando seu modelo de negócios, impactos e inter-relações existentes com os demais relatos da companhia. Segundo Regiane, a preparação da companhia envolveu análise do framework, do Formulário de Referência e das Diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI), além de mapeamento dos pontos em comum.
“O trabalho foi desenvolvido em conjunto pelas áreas de Sustentabilidade, Relações com Investidores, Controladoria e Comunicação. Para garantir a integridade das informações, contamos também com a participação das áreas de Governança, Regulação e Jurídico”, explica. De acordo com ela, o framework do Relato Integrado possibilitou elaborar os relatórios anuais a partir da visão do negócio, relacionando as questões socioambientais com a estratégia e as informações financeiras.
A Petrobras está envolvida com o assunto desde 2012, quando ingressou no programa piloto do IIRC para desenvolvimento do modelo de Relato Integrado. “Mas apenas recentemente, com incentivo da alta administração, fez movimentos mais concretos para sua implementação, com a criação, em julho de 2017, do grupo de trabalho que implementou o atual Relato Integrado da companhia”, conta Renata Bhawan, economista sênior e coordenadora da área de Relacionamento com Investidores da Petrobras.
O processo de preparação foi curto e intenso, segundo ela. O primeiro passo foi a criação de um grupo de trabalho multidisciplinar, com presença das áreas de Relacionamento com Investidores, Responsabilidade Social, Estratégia, Contabilidade, Controladoria e Comunicação. A partir daí, o grupo atuou em duas frentes: obter definições importantes, como o modelo de relatório que seria implementado e a macroestrutura do relatório; e conscientizar as pessoas que forneceriam as informações de que seria necessário pensar de forma diferente, integrada.
Na visão de Vera Elias, diretora executiva de Normas Internacionais e CPC da ANEFAC RJ, o maior ganho de uma empresa com o Relato Integrado é a possibilidade de atuar holisticamente sobre suas estratégias e seus planos, podendo tomar decisões ponderadas e gerenciar riscos para construir a confiança do investidor e dos acionistas, criando valor e melhorando seu desempenho futuro.
Ela acredita que a importância da governança vem crescendo a cada dia e é algo imprescindível no atual modelo de negócios devido, principalmente, à instabilidade econômica e concorrência cada vez mais acirrada. “Há uma relação de semelhança entre o Relato Integrado e a governança corporativa. Ambos refletem uma nova maneira de pensar sobre o mundo das organizações”, analisa.