Uma demonstração financeira registra formalmente a atividade financeira de uma empresa do último ano. O seu processo de construção é de conhecimento de todos e envolve balanços, resultados, fluxos de caixa, balanço patrimonial, receitas, despesas e ganhos ou perdas e outras tantas exigências dos órgãos reguladores. Chegar àquela que é premiada pelo Troféu Transparência, Prêmio ANEFAC-FIPECAFI, pelo seu nível de transparência é um trabalho árduo compartilhado por todos.
Os cases de sucesso das ganhadoras da edição de 25 anos do Prêmio de 2021, com base no exercício de 2020, nortearam a pauta do 4º Meeting Day da Transparência, realizado pela ANEFAC no dia 02 de dezembro, em São Paulo, e dia 07, no Rio de Janeiro, no formato presencial, e dia 09 no modelo on-line. Foram três dias de discussões sobre os principais pontos que fazem uma demonstração financeira transparente e premiada, entre eles, pessoas, infraestrutura, processos e sistemas.
No total oito ganhadoras compartilharam informações preciosas e valiosas que podem ser utilizadas na construção das demonstrações financeiras, que deverão ser entregues até abril de 2022, referente ao exercício de 2021: EDP: Carlos Pereira da Silva, diretor; Grupo Vamos: Leandro Kato, diretor de controladoria; Lojas Riachuelo: Claudia Ferreira, head de contabilidade; Eneva: Cláudio Nunes, especialista contábil, e Thiago Paes, analista sênior; Neoenergia: Luciana Maia, superintendente de contabilidade; Petrobras: Edmilson Neves, gerente executivo de contabilidade e tributário, e Rodrigo Ruiz, superintendente de planejamento e controle; Irani S.A: Evandro Zabott, gerente de contabilidade e RI; e Grupo Fleury: Gisele Schneider, gerente sênior de controladoria e tributário.
A apresentação e mediação ficou a cargo da ANEFAC: Marta Pelucio, presidente nacional; Fipecafi: Emerson Dias, professor; Banco do Brasil: Vera Lucia Elias, membro do Comitê de Auditoria; KPMG: Guilherme Nunes, sócio líder de auditoria para o escritório de São Paulo, Luis Cláudio de Araujo, head de auditoria para o escritório do Rio de Janeiro, e Cristiano Seguecio, sócio líder da Região do Sul; BDO: Andrea Gini, sócia de auditoria; Fabiano Barbosa, sócio líder para o escritório de Brasília, e Max Anselmo Carvalho, sócio de BPO para o escritório do Rio de Janeiro; Irko Hirashima: Edson Teixer, sócio; EY: Roberto Santos, sócio.
No Grupo Fleury, que aderiu ao movimento da transparência 100% Rede Brasil Pacto Global da ONU, Schneider contou que o primeiro passo é ter esse compromisso. Com relação aos desafios em termos empresariais, lidar com a saúde mental dos colaboradores, num ano de pandemia, e promover a inovação em meio a intensidade das aquisições realizadas, juntamente com os processos para a integração e incorporações devidos as exigências trazidas com as mudanças. “Criamos uma área específica para cuidar das controladas e acompanhar o crescimento, uma outra para a elaboração das Dfs e uma de tax transformation. A área de controladoria e tributos possui seis vertentes: contabilidade e controladoria, contabilidade, tributos, demonstrações financeiras, pós M&M e ativos fixos. São 34 pessoas e 513 contas contábeis de 21 empresas. Já os desafios com a construção do relatório financeiro, a orientação OCPC 07, trazer clareza, objetividade, evitar palavras difíceis, validação das notas explicativas, sempre questionar o que pode ser diferente, teleconferência de resultados, release da administração, que faz parte do conjunto, mais o relatório de referência, foram alguns pontos”, diz.
Estreando no rol das ganhadoras, na Irani a análise da informação do balanço é realizada por meio de reporte mensal do desempenho dos negócios à diretoria e conselho de administração, que vai dando base as demonstrações financeiras. Segundo Zabott, o sistema interno faz as informações circularem entre todos, fazendo com que cheguem à contabilidade mais objetivas e estratégicas. O processo segue pela revisão trimestral das DFs pelos órgãos de governança, a análise e aprovação do Comitê de Auditoria e, por último, a análise e revisão da auditoria externa e depois a emissão do parecer. “Manter a simetria das informações em tudo é fundamental, isso inclui os conjuntos de reportes divulgados ao mercado. Conseguir informações mais claras e transparentes e, ainda, atender as normas existentes é um desafio e tanto. As vezes achamos que não será possível. Sobre os impactos das normas, para nós, foi mais ICPC 10 e CPCs 27, 28, 29, 37 e 43 e menos CPC 06 e 48. Implantamos um novo sistema com robotizações para trazer mais automação aos processos. Trabalhamos com uma estrutura de contabilidade e controladoria aliada à de RI nas divulgações e construção das demonstrações”, relata.
Já no quesito o que fazer, para se chegar a uma demonstração financeira transparente, Kato avalia que é preciso levar em consideração algumas questões, como:
– Infraestrutura: ter um bom sistema ou método de consolidação das informações e treinamento de todo o time da controladoria;
– Processo de fechamento contábil: contas contábeis analisadas, conciliadas e com suas devidas composições para uma boa elaboração de notas explicativas;
– Principais acontecimentos e assuntos relevantes: levantamento dos itens e antecipação com a auditoria;
– Normas, ofícios, manuais e checklists: estar atualizado com as normas contábeis, fazer a leitura dos ofícios circulares da CVM e dos manuais de fechamentos de balanços, bem como utilizar-se dos checklists, ambos emitidos pelas maiores firmas de auditoria;
– Processo robusto de revisão: passar pelo crivo de diversas áreas, como financeira, jurídico, operacional, controladoria, comitês e conselho e por um leitor independente.
Na opinião de Ferreira, é importante também o envolvimento de outras áreas, além da financeira ou apenas contábil, pois ajuda a trazer mais conteúdo para as demonstrações e deixam o material mais a ‘carinha’ da companhia, e, ainda, dar destaque aos assuntos importantes que estão em evidência, como por exemplo a Covid-19, explicar os efeitos tributários que impactaram o resultado, overview das alterações das novas normas contábeis, tratar os dados de forma comparativa para apoiar analistas e investidores, dar visibilidade aos investimentos e ações, e, por fim, abordar resultados individuais e não apenas consolidados. E, na percepção de Araujo devem ser levados em consideração, ainda, a definição de processos para capturar as informações precisas com as demais áreas e de forma tempestiva, assim como uso de ferramentas para automatizar o processo de captura e elaboração das demonstrações financeiras.
Já para Nunes, além de uma equipe bem-preparada e atualizada, e um sistema adequado aos controles internos, diversas atividades que contribuem de forma significativa para a elaboração de demonstrações financeiras de qualidade, são o envolvimento das diversas áreas da empresa na revisão das divulgações das notas explicativas, o envolvimento de especialistas nos temas mais complexos (por exemplo, operações com derivativos, arrendamento e planos de opções de ações), o uso de checklists para assegurar que todos os requerimentos relevantes de divulgação das normas foram capturados, e – não menos importante – um processo robusto de revisão (não restrito aos níveis intermediários, mas passando pelo CFO e pelos órgãos de governança). Importante também a interação constante com os auditores externos (comunicação em duas vias), trazendo os novos temas e transações relevantes à mesa de forma tempestiva, para que haja tempo hábil de análise e discussão do tratamento contábil e divulgações adequados.
Pontos de atenção para as demonstrações financeiras que serão entregues em 2022
Já para o próximo ano, além de tudo o que já se faz, Ferreira entende que as empresas na hora do fechamento das demonstrações financeiras deverão trabalhar os efeitos comparativos, o que será mais complicado devido ao que foi 2020 que é incomparável, bem como destacar o desempenho de novas operações e falar um pouco sobre os impactos da inflação. Enquanto, Kato inclui adicionar um item específico de ESG nos relatórios. E, para Araujo, se indagar como está a jornada na transformação digital da contabilidade para fins de captura das informações junto as demais áreas de forma digital e elaboração de forma mais automatizada.
Aliado a isso, Nunes chama atenção às alterações nas normas que entrarão em vigor em 2022, apesar de serem menores não deverão atingir muitas empresas. “Talvez a mais relevante seja o esclarecimento sobre o que compõe os custos a serem considerados em uma avaliação se um contrato é oneroso – com a alteração na norma, ficou esclarecido que os custos incluem também custos diretos, mesmo que não sejam incrementais, o que pode aumentar as provisões”, adverte.
Para ele, independentemente das alterações normativas no próximo ano, se deve estar atento a capturar nas demonstrações financeiras os impactos que a evolução da pandemia e a nova realidade de trabalho podem ter nos negócios. “Além disso, temos visto muitas discussões que envolvem impactos tributários, por conta de repercussão de decisões de teses pelas mais altas cortes de justiça, principalmente o STF, o que requer um monitoramento constante da evolução da jurisprudência sobre posições fiscais tomadas pelas empresas – que podem tanto gerar exposições passivas no futuro como cenários de recuperação de créditos de períodos anteriores. Importante ainda acompanhar o encaminhamento dos projetos de reforma tributária, que podem produzir impactos relevantes”, finaliza Nunes.
Assista aqui abaixo o evento inteiro junto com o Kickoff Congresso de DF’s, que é uma amostra do que está por vir no 13º Congresso de Fechamento de DFs on-line, que acontecerá em 11 e 12 de janeiro.