Que ano, hein, pessoal? Logo no início de 2020 era possível vislumbrar desafios e emoções pela frente. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ordenou um ataque a um aeroporto no Iraque, matando um importante general iraniano. A ação militar só não se transformou numa guerra porque o Irã, felizmente, não respondeu à altura. Ficou, claro, no entanto, que Trump estaria disposto a tudo – até mesmo provocar guerras – para ganhar popularidade e garantir a sua reeleição.
Aqui, no Brasil, as confusões políticas pipocaram sem parar mesmo durante o recesso parlamentar. A falta de harmonia entre Executivo e Congresso Nacional atrapalha o andamento da boa agenda reformista do ministro Paulo Guedes. Isso tudo, por si só, já seria suficiente para dificultar o ano, mas não a ponto de impedir um crescimento econômico de 2% – praticamente o dobro do Pibinho registrado em 2019.
Veio da China, no entanto, o maior obstáculo de 2020. Invisível, altamente contagioso e quase incontrolável, o Coronavírus (Covid-19) atingiu em cheio a segunda maior economia do mundo, contaminando cadeias globais de produção. Em 2019, a China foi responsável por um terço do crescimento mundial. O simples fato de que a expansão do seu Produto Interno Bruto (PIB) ficará bem abaixo de 6% – o menor ritmo desde 1990 –, implica que o mundo também terá um crescimento menor. É ruim particularmente para emergentes exportadores de commodities como o Brasil.
Com férias forçadas em várias cidades, o parque fabril chinês produziu muito menos. Nos últimos 15 anos, a participação chinesa na produção industrial global saltou de 8,7% para 28,4%, o que mostra o tamanho da encrenca. Além disso, a falta de insumos produzidos pela China gerou impacto em fábricas ao redor do mundo, paralisando produção na Coreia do Sul, nos Estados Unidos e até no Brasil.
Mas o pior ainda estava por vir. O Coronavírus ignorou fronteiras e alertas, e se espalhou pelo mundo. Em que pese os especialistas em saúde ressaltem que a pandemia tem baixa letalidade, as pessoas estão com muito medo. Medo gera cautela nas decisões de investimento e consumo. São ingredientes que neutralizam qualquer tentativa de bancos centrais de adicionar fermento (juros baixos) no bolo do crescimento. E mais: a necessidade do isolamento social esvaziou o comércio e paralisou empresas. No caso do Brasil, o crescimento em 2020 será drasticamente afetado até que essa epidemia seja controlada. Não está descartada uma recessão global e, infelizmente, aumentou o risco de sentirmos saudades, aqui no Brasil, dos Pibinhos dos últimos anos.
A disparada do dólar e a queda das bolsas evidenciam uma aversão dos investidores a riscos e a busca por ativos considerados seguros como os títulos públicos americanos. O ouro, quem diria, voltou a ser visto como proteção. Porém, assim como os impactos do Coronavírus, esses efeitos financeiros tendem a ser transitórios. Quanto tempo? Alguns meses. Inteligente será o empresário que conseguir posicionar corretamente a sua companhia nesse mar de incertezas. Atacar os custos, sem demitir os seus talentos, é o melhor caminho. O mundo não vai acabar, muitas empresas vão se reinventar e a economia global voltará a crescer, mesmo que afunde num primeiro momento.
No curto prazo, o governo brasileiro precisa aumentar os gastos públicos para estimular a economia, proteger as pequenas empresas e garantir alguma renda para os mais pobres. Se o Brasil não quiser ficar de fora do próximo ciclo econômico positivo (sim, um dia essa pandemia vai acabar), o Executivo e o Congresso Nacional precisam juntar forças para aprovar as reformas estruturais, sem as quais o País continuará sendo um poço de ineficiência. Não adianta nada o mundo voltar a crescer se a carga tributária brasileira permanecer elevada e complexa; se a burocracia inviabilizar negócios; se a insegurança jurídica espantar investimentos; se a infraestrutura precária gerar gargalos e custos logísticos; e se mão de obra for improdutiva. O Brasil precisa se vacinar urgentemente contra esses males estruturais e se preparar para o período pós-coronavírus. Não há tempo a perder.
Artigo escrito por Luís Artur Nogueira, que é economista, jornalista, palestrante profissional e consultor econômico da ANEFAC. Escreve na revista ISTOÉ Dinheiro, no Portal iG e nas principais redes sociais sobre economia, política e educação financeira.