Mercado tem participação relevante na economia brasileira, mas carece de planejamento estratégico e tecnológico
No Brasil, atualmente, as pequenas e médias empresas são responsáveis por grande parte dos bons números, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Sebrae, representam mais de 27% do Produto Interno Bruto (PIB), somam 50% dos empregos com carteira assinada e são mais de 98% dos estabelecimentos privados. Com certeza um mercado representativo dentro da economia brasileira. Para o diretor executivo de PMEs da ANEFAC, Márcio Silva, são pequenas com grandes números. Mas apesar desse crescimento, muitas, mesmo com faturamento superior ao $ 4,8 milhões, limite do conceito de pequenos negócios definido pela lei complementar 123/2006 alterada pela lei complementar 155/2016, possuem em suas estruturas práticas de gestão deficientes e amadoras. É claro que isso não é realidade em todas, mas em boa parte desse mercado. Confira abaixo entrevista sobre as ações da entidade e o sobre mercado de PMEs.
Revista ANEFAC: Qual a função da diretoria de PMEs?
MS: Muitos dos temas como gestão, planejamento estratégico, controles, processos, entre outros são pouco debatidos nas PMEs. Até estão presentes, mas de forma superficial, individualizada e sem interação com outras áreas da empresa. Essa deficiência pode ser superada no intercâmbio com outros profissionais.
É necessário sair do ambiente interno e procurar ideias e visões de negócios no ambiente externo. Queremos saber o que pensa o economista, o administrador, o profissional de TI, os advogados e os diversos profissionais, ou seja, essa gama de executivos enorme que existe, para compartilhar competências que possam ser aplicadas nas empresas e nos clientes. Por isso, a importância de uma instituição como a ANEFAC, com mais de 50 anos de mercado, que engloba profissionais de diversas áreas também, se preocupar com as PMEs, uma vez que os debates e essa interação constroem as boas ideias. Administrar é uma capacidade que vai além do conhecimento técnico, precisamos desenvolver essa habilidade.
Esse será o desafio da nova diretoria de PMEs da ANEFAC, a qual tenho a honra de fazer parte, levar até os pequenos e médios negócios as boas práticas de gestão, tão importantes para o desenvolvimento e com a mesma qualidade que fazemos para as grandes empresas.
Revista ANEFAC: Como esse mercado deve se comportar em 2020?
MS: As expectativas são boas, apesar de algumas turbulências, como a interminável crise política que o país enfrenta e agora o surto do Coronavírus, porém com os juros e a inflação baixos, que estimulam o consumo, começaremos a sentir os efeitos práticos das reformas. O dólar alto pode ser negativo para alguns, mas uma oportunidade para outros, tendo em vista a adesão aos programas de incentivos às exportações que podem dar acesso à novos mercados. É hora de planejamento estratégico, buscando definir os objetivos para gerenciar bem os recursos.
RA: Como as PMEs devem se adaptar ao mercado tecnológico?
MS: Estamos na era da 4º Revolução Industrial, a chamada Indústria 4.0. Os processos estão automatizados, as informações mais ágeis e precisas, e muito mais, que ronda esse momento da nossa história, diante de tantas possibilidades, é necessário saber o que está disponível e o que a empresa precisa. É fundamental implantar como cultura a busca das ferramentas tecnológicas existentes, estimular os colaboradores a pesquisarem e melhorarem processos através dessas novas ferramentas. Existem aplicativos, plataformas e sistemas, que estão acessíveis às PMEs, mas é muito comum elas terem excesso de mão de obra desenvolvendo uma atividade por falta de automação. Portanto, permear essa cultura na empresa, de buscar o processo amparado pelas ferramentas tecnológicas, é uma solução eficaz, de baixo custo e com retorno satisfatório.
RA: Que setores mais crescem no Brasil, por exemplo?
MS: Dos setores que mais crescem eu destaco:
Desenvolvimento de aplicativos, demonstrando a alta demanda por soluções tecnológicas.
Infoprodutos, as pessoas querem mais praticidade.
Pets, existem avenidas sem supermercados, mas com três petshops de grandes redes.
RA: O que é importante prover às PMEs?
MS: Planejamento do topo à base da empresa. É muito comum entrevistarmos administradores ou proprietários de uma PME, que dizem que as ações são feitas à medida que os problemas vão surgindo. É comum projetos mal elaborados e mal executados, que causam um imenso prejuízo financeiro e operacional, mas que foram iniciados para solucionar problemas que poderiam constar em um bom plano de negócios.
RA: Gestão profissional ainda é um desafio para as PMEs?
MS: Sim, principalmente porque há poucos gestores administrando as PMEs. É muito comum nos depararmos com aqueles que estão de costas para o mercado e olhando para dentro das empresas, se envolvendo em questão de processos internos que poderiam ser feitos por outros profissionais sob a sua supervisão.
Visão estratégica é fundamental às PMEs, pois estão muito mais vulneráveis aos riscos, vide os anos de 2015 e 2016, período mais forte da crise, quando houve a queda do PIB para -3,5 a -3,3, respectivamente, somados a juros e inflação elevados. Esse cenário resultou na quebra de muitas PMEs que não se atentaram para os efeitos.
Existem muitos profissionais e pouquíssimos gestores.
RA: Na contabilidade, que é a sua área, como vê as PMEs nesse segmento?
MS: Ainda há muitas dificuldades em utilizar a contabilidade como instrumento de gestão. Poucas são as PMEs que possuem uma contabilidade capaz de refletir seu valor de mercado ou até mesmo de demonstrar o seu desempenho ao longo dos anos. Muitos gestores estão preocupados com burocracias, relação com o fisco e com o caixa de curtíssimo prazo, que também são questões importantes, mas uma boa contabilidade é essencial para a tomada de decisão.